A HORA DO PESADELO (A Nightmare on Elm Street / 1984) - Pode não ser mais o mesmo, pode ter perdido a força, ter feito coisas relevantes no passado e hoje já não mais... enfim, as opiniões variam, mas uma coisa não se questiona... Wes Craven é um gênio. Ele revitalizou o gênero do terror adolescente com a saga Pânico de 1996 e já tinha feito isso em 1984 com A Hora do Pesadelo, onde deu vida à um dos ícones mais conhecidos dos filmes de terror - Freddy Krueger.
Ele aparece pouco no filme
Craven, que também dirigiu Aniversário Macabro e Quadrilha de Sádicos entre outros, se baseou em histórias reais de pessoais numa aldeia no Camboja que morriam após pesadelos turbulentos. A causa é desconhecida, mas ganhou um nome - SUDS (Sudden Unexpected Death Syndrome, algo como Síndrome da Morte Inesperada).
Durante os sonhos, tudo pode acontecer
Krueger é um assassino de crianças (no roteiro original era um molestador de crianças, mas Craven decidiu mudar na última hora) que acabou sendo solto, os pais das vítimas resolveram fazer justiça - prenderam Freddy e botaram fogo nele. Agora, Freddy quer vingança e surge nos "sonhos" das vítimas. Naquele terreno tudo pode acontecer, se a vítima morre no sonho, morre também na vida real.
Efeitos simples, mas que assustam
Johnny Depp faz aqui a sua primeira aparição em filmes e morre na cama, sendo engolida por ela, numa das cenas mais conhecidas. O sangue jorra pelo teto - Craven diz ter se inspirado na cena do elevador de O Iluminado, de Stanley Kubrick de 1980.
Johnny Depp pouco antes de ser "comido" pela cama
A cena do banho de sangue na cama de Depp...
...inspirada na clássica cena do elevador de O Iluminado
Um dos acertos do filme de Craven - e são muitos - é justamente manter Freddy sempre escondido, ele pouco aparece no filme, é sempre no fundo, nas sombras, às vezes revela um olho, corta um pedaço do próprio corpo ou se vê a garra em detalhes, ele nunca aparece completamente. Aliás durante os noventa minutos de filme, Freddy Krueger aparece apenas 7 minutos.
Terror em cenas por vezes, grotescas
Craven criou Freddy como um personagem-mudo, como fora Jason e Michael Meyers, respectivamente dos filmes Sexta Feira 13, de 1980 e Halloween, de 1978. Mas ele mudou de ideia. Acrescentou algumas falas e depois uma risada macabra ao personagem, principalmente para aumentar a dramaticidade nas cenas de perseguição. Além de terror o quesito "grotesco" também aumentou, Freddy é um personagem bizarro.
Famosa cena da banheira
A luva do primeiro filme foi usada também na sequência, A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy de 1985, mas depois se perdeu para as demais sequências e nunca mais foi vista. Foi roubada. Quem a roubou não deve dormir com a cabeça tranquila. Mais dia, menos dias... quem sabe... em um pesadelo, o proprietário pode aparecer para reaver o item de volta.
O ABUTRE (The Nightcrawler / 2014) - Um roteirista de mão cheia, seja criando ou adaptando, Dan Gilroy decidiu pela primeira vez dirigir um roteiro próprio. O Abutre é o resultado de um mergulho na noite de Los Angeles vista pelos olhos - e pelas lentes - de pessoas que passam por qualquer limite para obter sucesso naquilo que fazem. Dan criou um personagem assim, interpretado com afinco por Jake Gyllenhaal.
No começo, tudo o que ele quer é um emprego
Gyllenhaal emagreceu nove quilos para viver Louis Bloom, um homem desesperado por emprego, enquanto leva a vida de pequenos sucessos pelo submundo, vendendo cercas de cobres e tampas de bueiro, tudo fruto de roubo. Bloom, sem conseguir trabalho, acaba encontrando uma oportunidade única.
À espera, no aguardo da tragédia
Dirigindo pelas ruas de Los Angeles na madrugada ele acaba se deparando com um carro em chamas e a polícia tentando salvar a motorista que ficou presa nas ferragens. Neste momento chega um furgão, dois homens saltam e começam a gravar toda a ação. Bloom observa. E repara que os dois tem no furgão um rádio que capta o sinal da polícia e seguem os casos violentos da madrugada, gravando tudo. Isso depois é vendido para as emissoras de TV, que usam aquele material nos jornais matinais.
"If it bleeds, it leads"
Bloom gostou daquilo. Investiu, contratou um ajudante e foi atrás das desgraças nas madrugadas. O Abutre tem esse nome justamente por isso, um animal à espreita, sempre atento ao que uma tragédia alheia pode lhe proporcionar. Louis Bloom estabelece uma relação profissional com Nina (Rene Russo), editora do jornal matinal do canal 6, interessada por sangue e violência.
Nina alimenta o abutre
Louis Bloom é a cara do mundo cão da TV. Ele chega ao cúmulo de entrar gravando numa casa que há pouco havia sido invadida por assaltantes. A polícia ainda não tinha chegado ao local. Bloom capta tudo em detalhes, inclusive três pessoas alvejadas - uma delas ainda respirando. Sem ajudar ninguém, ele sai com as imagens e vende pro canal 6 por uma quantia absurda.
Ele vai até o fim
Melhor título não haveria para um filme assim. O roteiro é linear, ele não prevê uma derrocada de Bloom ou uma queda em sua trajetória, é uma subida meteórica. Cada pedra no caminho serve apenas com um novo aprendizado. E esse roteiro linear mostra o crescente de um personagem controverso e o pior - ou melhor - ele chega ao sucesso, mostrando que para triunfar num mundo assim é preciso mesmo ser um abutre ou algo pior. Ele é o retrato de um mundo que está aí, mas muitas vezes nos negamos a reconhecer.
Veja abaixo o trailer de O Abutre.
KURT COBAIN: MONTAGE OF HECK (2015) - Brett Morgen foi atrás, pesquisou, teve autorizações dos familiares e de repente se viu diante de um tesouro - um galpão contendo umas vinte caixas com todo tipo de material, tanto do âmbito pessoal como profissional, de um dos maiores ícones do rock dos últimos vinte anos. Desenhos, pinturas, brinquedos e o melhor - imagens de super 8 da infância e fitas K7 com gravações, entrevistas e ensaios musicais feitos por Kurt Cobain. Morgen, um documentarista sem grandes sucessos na carreira, juntou tudo aquilo com mais um punhado de entrevistas e lançou Montage of Heck, o mais intimista retrato já feito do vocalista do Nirvana.
Kurt, muito além do músico
Não são muitos os entrevistados - só a mãe, o pai, a irmã, a mãe adotiva, uma namorada de tempos antigos, Courtney Love e Krist Novoselic - e nem precisava de muita gente, o material em áudio das fitas K7 e o uso das pinturas e textos dos diários de Kurt dão vida ao controverso personagem.
No começo de tudo
As animações são parte essencial do documentário. Morgen anima trechos de entrevistas ou depoimentos de Kurt falando da adolescência ou mesmo passagens de gravações em fitas K7. É mágico, uma visita nunca antes feita por um passado que ninguém, ou poucos, conheciam. O menino genioso, que foi ficando acuado conforme crescia, também tem a sua voz. As frases fortes e de efeito retiradas dos seus diários funcionam como uma entrevista que Kurt jamais conseguiu dar.
Animações dão vida ao passado
Do meio para o final, o filme dá à Courtney Love a palavra, com quem o vocalista do Nirvana foi casado. São depoimentos banhados de registros em super 8 feito pelo próprio casal ou amigos, mostrando a intimidade dos dois, quase sempre bêbados ou chapados de drogas. Krist Novoselic aparece para falar sobre o amigo, a banda e o sucesso - Dave Grohl não deu as caras. Morgen usa ainda recortes de jornal, trechos de reportagens e entrevistas de TV, para ajudar a traçar o perfil de Kurt.
Uma visita intima aos Coubains
Logo depois do registro de um trecho do acústico que o Nirvana gravou para a MTV americana o filme é interrompido abruptamente com escritos na tela informando que Kurt Cobain se suicidou aos 27 anos e assim o filme acaba. O efeito que Morgen pretendeu funcionou, o corte seco e inesperado choca e reforça a triste notícia. Ok, mas faltou ao meu ver, uma palavra das pessoas sobre o ocorrido, ou mesmo o registro em notas de jornal ou reportagens de TV. Morgen preferiu se omitir. Pena... a morte de Kurt só reforça o personagem que ele foi em vida.
Intensidade, a relação Kurt e Courtney
Montage of Heck é um filme muito visual, sujo como a música grunge. Tem a cara da geração MTV dos anos 90, que Kurt e tantos outros ajudaram a formar. Para quem conhece muito do Nirvana e da vida de Kurt, o filme acrescenta pouco, coloca o pai do vocalista como vilão em alguns momentos e inocenta tanto a mãe quanto Courtney. É um filme obrigatório e que nos permite entrar de cara no mundo de Kurt Cobain. Ele iria odiar essa intrusão, mas é difícil evitar o fascínio por figura tão emblemática.
Veja abaixo o trailer de Kurt Cobain - Montage of Heck.
Mesmo com 30 segundos (ou menos) em cena, o carro-cachorro não podia ficar de fora do filme
DEBI e LÓIDE 2 (Dumb and Dumber To / 2014) - Vinte anos depois do primeiro filme, do clássico dos Irmãos Farrelly, finalmente o trio Farrelly, Jeff Daniels e Jim Carrey, conseguiu se reencontrar para lançar a sequência. Vamos esquecer aqui, completamente, o capítulo intermediário de 2003 - Debi e Lóide 2: Quando Debi Conheceu Lóide - que não conta com absoluta nenhum daqueles três nomes que fazem dos personagens e dos filmes serem o que são. Ok?
- Vamos esquecer aquele filme de 2003, ok? - ok!
Aqui, Debi (Daniels) e Lóide (Carrey) encaram uma jornada atrás da garota que Debi acredita ser a sua filha. Ela está numa convenção de gênios físicos e a dupla entra lá e acaba se misturando naquele ambiente inapropriado - para eles, claro. Ao melhor estilo Debi & Lóide, eles são perseguidos por uma dupla que tenta matá-los a todo custo, enquanto eles escapam sem sequer perceber que são alvo de uma caçada.
Se salva sem perceber que estão sendo caçados
Participações de Kathleen Turner - que em flashback seria interpretada por Jennifer Lawrence, mas ela desistiu na última hora - e Harry Dunne, que revive o papel inesquecível do garoto cego que ganha um pássaro morto de Lóide no primeiro filme.
Eles voltam a atormentar o pobre ceguinho
Rachel Melvin, que faz a filha que seria de Debi, está muito bem. Ela é ótima no humor físico e tem um sorriso bonito, que gera empatia de cara. Por ser um personagem importante, o terceiro pé essencial no roteiro, ela dá conta do recado.
A suposta filha de um, que desperta o amor no outro
No primeiro filme, Daniels foi chamado às pressas, não tinha o talento reconhecido para comédia de Jim Carrey. Aqui, claramente, Daniels, está mais à vontade e até mais engraçado do que o próprio Carrey. Enquanto Lóide é o "pensador" da dupla, criando planos e esquemas - que sempre dão errado - Debi embarca e naufraga junto, mas quase nunca sabe o que está fazendo ou o que está acontecendo.
Sim, Daniels está muito mais engraçado que Carrey
Debi e Lóide 2 entrega tudo o que promete, a mesma fórmula - risadas em situações absurdas. Se você gostou do primeiro vai gostar do segundo. E assista o filme até o final dos créditos, tem uma cena extra ali.
Bill Murray faz uma aparição relâmpago, nem dá pra ver que é ele, na verdade