segunda-feira, 20 de maio de 2024

NÃO! NÃO OLHE! (2022)

 


NÃO! NÃO OLHE! (Nope / 2022) – Jordan Peele tem uma carreira curta, mas marcante. E com uma assinatura toda própria. O terror é um tema recorrente (Corra!, Nós) e não poderia ser diferente com este Não! Não Olhe! Peele também gosta de brincar com gêneros. Aqui, ele mistura ficção científica com faroeste, e claro, terror. Uma verdadeira salada à lá Peele.

Embora sempre competente e abusando de cenas e momentos memoráveis, Peele não mantém a escrita neste Não! Não Olhe!. A história não é tão profunda e cheia de camadas como nos seus filmes anteriores. Falta algo aqui.

O filme se passa numa fazenda afastada e conta a história de uma família dedicada a criar cavalos usados em comerciais e filmes. O patriarca da família morre após ser atingido por uma “chuva de metais”. Ninguém entende nada. O filho OJ (o ótimo Daniel Kaluuya) assume os negócios e conta com a falastrona irmã Emerald (Keke Palmer).

O problema está em um fenômeno extraterrestre que acontece durante a noite. Um OVNI gigantesco abre um bocão e engole tudo o que vê pela frente, em especial cavalos, por quem o OVNI parece ter um carinho maior. Mas ele abduz também pessoas, enquanto Emerald e OJ tentam à todo custo se defender e defender os cavalos da fazenda. 

OJ descobre, ao reviver uma lembrança de um dos seus cavalos, que o melhor à fazer é nunca olhar diretamente para o perigo - no caso o OVNI - e assim ele se desinteressa pela presa. Daí o nome do filme... Não! Não Olhe!

Não! Não Olhe! tem em Kaluuya a sua melhor coisa. Nem mesmo as cenas marcantes, um carimbo de Peele, estão aqui. Na verdade o roteiro, também escrito por Peele, faz um paralelo sobre a violência sofrida pelos cavalos na fazenda com uma tragédia que aconteceu num programa de auditório nos anos 90. É sobre um chimpanzé, Gordy, que perdeu o controle no meio de uma gravação e saiu matando os atores com quem contracenava. Uma historia inspirada levemente na história real de Charla Nash, que teve o rosto desfigurado por um macaco em 1997. Enfim, Peele fez esse paralelo para abordar como os animais selvagens são tratados em ambientes que não são os seus de origem.

À meu ver, o tiro saiu pela culatra... a historia do chimpanzé Gordy, que obviamente tem bem menos espaço do que a história dos cavalos, é muito mais interessante. Fiquei muito mais interessado em um filme sobre a tragédia de Gordy do que sobre o OVNI, os cavalos e tudo mais.

Veja abaixo o trailer de Não! Não Olhe!



sexta-feira, 17 de maio de 2024

O PAGAMENTO FINAL (1993)



O PAGAMENTO FINAL (Carlito´s Way / 1993) - Brian De Palma não iria dirigir este filme. Chegou a recusar algumas vezes. Muito por conta das similaridades com um clássico do próprio De Palma de dez anos antes - Scarface. Histórias parecidas, sim. Mas não iguais. Sua amizade com Al Pacino foi decisiva e dizem que o astro influenciou na decisão do diretor.
Carlito Brigante (Pacino) é um porto riquenho que acaba de sair da prisão depois de 5 anos. Era pra cumprir 30, mas saiu mais cedo depois do trabalho do advogado e amigo de infância Kleinfeld (Sean Penn com um permanente pra lá de encaracolado). A princípio Carlito é o durão e Kleinfeld o bobão. 
Do lado de fora, Carlito segue para sua comunidade, dizendo estar completamente recuperado e não se envolver em nada que o leve de volta pra cadeia, mas a vida do crime o puxa diretamente de volta pra ela. Carlito acaba envolvido numa matança num bar local, onde ele é o único vivo. 
Ele se torna sócio (para não dizer dono) de um disco clube local que sempre atrai figuras perigosas... traficantes (como um jovem John Leguizamo), prostitutas de luxo e gângsteres. E aos poucos, Carlito começa a juntar uma boa grana para abandonar toda aquela vida e se mudar dali para um lugar mais calmo com a namorada Gail (Penelope Ann Miller), com que se reencontrou depois de 5 anos. 
O problema está no vício de Kleinfeld no pó. Ele ainda mantém boa relação com Carlito e pede a ele a sua ajuda, já que terá que resgatar um preso da cadeia - um membro importante da máfia italiana local - de barco. Na operação tudo dá errado graças a Kleinfeld, que no último instante decidir matar o mafioso e jogá-lo no rio. Pronto. Carlito está afundado até o pescoço e agora tem que se livrar da perseguição constante da máfia italiana que busca vingança.
A cena final era para ser filmada no World Trade Center, mas eles tiveram alguns probleminhas e resolveram de última hora fazer na Estação Central de Nova York, a mesma que serviu de cenário para outro clássico de De Palma - Os Intocáveis e aquela inesquecível cena da escadaria. A perseguição ocorre pelos corredores e escadas da estação. Dura cerca de 7 minutos, a maioria deles em plano sequência.
O Pagamento Final foi muito bem de bilheteria e rendeu duas indicações ao Globo de Ouro - ator para Sean Penn e atriz para Miller - mas, claro, fica abaixo na galeria de De Palma. Digo "claro", porque é muito difícil ser melhor do que Carrie, a Estranha, Os Intocáveis ou Scarface. Um diretor que sabe como fazer um filme com essa temática, e claro... ajuda muito ter um Al Pacino pra lá de inspirado... uma equação perfeita. 
Veja abaixo o trailer de O Pagamento Final.






segunda-feira, 13 de maio de 2024

POBRES CRIATURAS (2023)

 


POBRES CRIATURAS (Poor Things / 2023) – Amo os filmes de Yorgos Lanthimos. Esse diretor grego conta histórias nada comuns usando personagens e situações que desafiam, chocam e ficam com a gente, mesmo depois do fim do filme. Em Dente Canino e O Sacrifício do Cervo Sagrado, Lanthimos se mostrou um cineasta com gosto peculiar pelo bizarro. Em O Lagosta ele optou por uma distopia maravilhosa e em A Favorita, ele aceitou o desafio de pegar um projeto em andamento e por isso mal conseguiu dar a sua cara. E isso é justamente o que não acontece em Pobres Criaturas.

Aqui ele cria o mundo que imaginou. Me arrisco dizer que Lanthimos nunca tenha se sentido tão à vontade durante uma produção. O filme tem uma assinatura, uma cara, uma digital muito própria, assim como Burton e Nolan imprimem em suas obras. O que me fez ser ainda mais fã do cineasta.

Emma Stone produz o longa e interpreta Bella, uma espécie de Frankenstein feminina. O seu “pai” é um cientista maluco vivido por WillemDafoe que regata seu corpo do rio Tâmisa em Londres, e faz uma operação maluca, colocando nela o cérebro do feto que ela carregava na barriga. Bella sobrevive, mas com sérios problemas cognitivos de fala e coordenação motora.

Ela começa a se desenvolver bem lentamente e aprende a usar o sexo como forma de se divertir e usar os parceiros. Vale ressaltar que Stone nunca esteve tão desinibida num filme antes. Mas nada aqui é sensual... é tudo cru, mecânico, puramente carnal, porque Bella nem sabe fazer de outra forma. Tudo é visto do ponto de vista dela. É ela quem começa e termina seus breves relacionamentos, o que deixa seus parceiros enfurecidos.

Como o mulherengo Duncan, vivido por Mark Ruffalo, que fica perdidamente apaixonado por ela, justamente pelo fato de ela ser completamente diferente de qualquer outra mulher. Ela faz o que quer, vai para onde quer e do jeito que quer, quando quer. Ela roda várias partes do mundo ao lado de Duncan.

Aliás, o mundo criado por Lanthimos é fenomenal. Tudo é colorido, com formas e tamanhos curiosos, bem diferentes dos comuns. O colorido do mediterrâneo português, a brancura da neve francesa em contraste com o colorido forte e gasto do cabaré, o cinza londrino... tudo é pensado à dedo e muito bem executado pela equipe comandada por LanthimosPobres Criaturas é sem dúvida, o filme mais bem acabado e caprichado do cineasta.

Ainda acho inferior a outros filmes de Lanthimos, mas Pobres Criaturas ocupa um lugar de destaque na filmografia dele. E merece. Com Pobres Criaturas, ele carimba o passaporte para ocupar um posto entre os grandes do cinema atual. Merecido. Só torço para ele jamais perder sua essência e o gosto pelo bizarro.

Veja abaixo o trailer de Pobres Criaturas.


segunda-feira, 29 de abril de 2024

A TORTURA DO MEDO (1960)



A TORTURA DO MEDO (Peeping Tom / 1960) – Um filme muito à frente do seu tempo. Em todos os sentidos. Mark Lewis é um fotógrafo que trabalha em um estúdio de cinema como assistente de câmera. Ele ainda levanta uma graninha fotografando mulheres seminuas para uma revista. Mas ele carrega um trauma do passado que o atormenta e o transforma em um assassino em série impiedoso. 
No meio de tantos rolos de filme que ele tem em casa, um deles mostra um filme feito pelo pai quando Mark ainda era uma criança. Ele queria estudar a reação dos seres humanos ao medo e usa o filho como cobaia. Ao crescer, Mark pegou o gosto de filmar o medo das pessoas e só consegue isso ao ameaçá-las e matá-las com um faca escondida no tripé da câmera. Sensacional, aliás.
Mesmo sem mostrar uma gota de sangue, A Tortura do Medo é considerado o primeiro slasher já feito e chocou tanto que acabou sendo retirado de cartaz com apenas 5 dias. O longa é um dos preferidos de Scorsese e é considerado a resposta britânica a Psicose, que fez muito barulho quando lançado. Hitchcock é homenageado em A Tortura do Medo na pele de um exigente diretor de cinema que pega no pé da sua atriz que não consegue atuar.
A Tortura do Medo é dirigido por Michael Powell que foi muito criticado à época pela violência - principalmente psicológica - e pelas cenas de nudez frontal. E a sua carreira dali pra frente foi comprometida, ele se tornou um diretor ignorado pelos produtores e não deslanchou. O próprio filme demorou para se tornar cult, só com os anos veio o reconhecimento da qualidade da obra.   
Veja abaixo o trailer de A Tortura do Medo.





quinta-feira, 25 de abril de 2024

MARTE UM (2022)

 


MARTE UM (2022) – O genuíno cinema brasileiro é de maravilhar qualquer amante de uma boa história. E não só isso. Quando não tenta imitar o cinema estrangeiro e usa suas próprias referências e estilos próprios, fica tudo melhor ainda. Essas histórias brasileiras com personagens tão facilmente reconhecidos em qualquer cidade do país, só deixam a trama ainda mais saborosa. E nesse ponto Gabriel Martins acertou na mosca.

Marte Um se passa em Minas Gerais, na periferia, acompanhando a rotina de 4 pessoas de uma mesma família e suas rotinas tão próprias e os conflitos entre elas. Tércia é a mãe, casada com Wellington. O casal tem dois filhos – Eunice é a mais velha e Deivinho, o caçula. O ator que faz o menino sonhador é estreante nas telonas. Ele joga bola num time de várzea e o pai sonha que do talento dele saia o dinheiro que vai sustentar a família no futuro. Mas Deivinho tem outros sonhos, quer virar astrofísico e fazer parte da tripulação que vai à Marte em 2030 numa missão de colonização do planeta.

Wellington é porteiro num prédio de classe média alta e é apaixonado por futebol. Tércia trabalha limpando casas e tem a vida mudada quando participa de uma pegadinha na TV, onde o ator estoura uma dinamite perto dela. A mulher fica traumatizada e acredita atrair azar à partir daquele dia. Eunice, a filha mais velha, se apaixona por outra menina e, no impulso, começa a procurar apartamento para morar. Tudo é rápido e pega os conservadores pais inesperadamente.

Aqui não tem espaço para melodrama barato, Marte Um foi feito de tal forma que mais parece um documentário sobre as dores de qualquer família brasileira. Cada personagem tem peso igual na trama, deixando o resultado final muito bem balanceado. Talento puro de Gabriel Martins, que equilibrou muito bem e claramente teve um cuidado especial na preparação dos atores. Todos estão muito bem, principalmente nos momentos onde a carga emocional aumenta.

Marte Um entrega situações críveis, o que deixa o filme ainda mais interessante. O drama brasileiro abre mão de recursos fáceis, como trilha sonora principalmente. Não precisa, nem faz falta. E cá entre nós, o sotaque mineiro é o mais bonito que tem. Na última cena o pai fala o seguinte para um dos filhos: “uai, a gente dá um jeito,  sô”. Puro carisma.

Veja abaixo o trailer de Marte Um.       




segunda-feira, 22 de abril de 2024

M3GAN (2022)


M3GAN (2022) – Uma história nada original e que surfa na onda dos potenciais perigos que a inteligência artificial pode trazer ao ser humano. O ótimo Ex_Machina fez um questionamento parecido e com muita competência e inventividade. M3gan é uma mistura dele com Chucky, mas passa longe de qualquer comparação. Não é criativo e inovador como o clássico brinquedo assassino de Tom Holland e nem inovador quanto Ex_Machina.

Cady (Violet McGraw) tem 9 anos e é a única sobrevivente de um acidente de carro, que tira a vida dos pais. A criança vai morar com a tia, solteira que passa muito do seu tempo na empresa onde trabalha. Gemma (Allison Williams) desenvolve brinquedos de alta tecnologia e alto custo.

A relação das duas é ruim, distante. Por isso Gemma termina de desenvolver um projeto seu chamado M3gan, uma boneca comandada por inteligência artificial, que se conecta “emocionalmente” com a primeira pessoa que vê, assim que “nasce”. Cady foi essa primeira pessoa. E é óbvio que essa relação de amizade entre a menina e a boneca de inteligência artificial não acaba bem. Com o tempo, a superproteção de M3gan passa a machucar fisicamente qualquer pessoa que ameaça Cady. Cenário montado e daí pra frente é só pra baixo...

Uma das coisas que mais me tirou da experiência de M3gan foi justamente o roteiro, extremamente fraco e previsível. Não apresenta nada de novo, nada. É muito fácil dizer o que vai acontecer na cena seguinte e apontar os personagens conforme aparecem: “esse vai morrer, esse é o vilão, esse escapa”. E assim por diante.

Outro problema está justamente na falta de preparo dos atores. Allison Williams está muito mal aqui, não tem expressão facial nenhuma, nenhuma emoção. Sem falar na menininha, Cady, que ódio dela... Se a indicação do cineasta Gerard Jonhstone era essa, parabéns para a pequena Violet, ela conseguiu. E outros personagens caricatos, como a dupla de chefe e assistente da fábrica de brinquedos, tudo muito fraco e estereotipado. É realmente muito ruim.

Mas há que se torcer o braço para alguns pontos de M3gan, e o principal é o design da boneca, muito bem feito. A sua quase total falta de expressão e os grandes olhos ajudam na formação de uma figura indiferente à tudo e à todos. Ela têm direito a uma dancinha que por conta das redes sociais virou cult, antes mesmo do filme ser lançado.

Veja abaixo o trailer de M3gan.