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Uma paixão tórrida |
AZUL É A COR MAIS QUENTE (La Vie d´Adèle / 2013) - Os Irmãos Lumière...
Jean Renoir...
Alain Resnais...
Truffaut...
Godard... A França é mesmo o celeiro das artes, principalmente do cinema. Definitivamente a sétima arte foi feita para ser apreciada na língua francesa. Não que outros idiomas não tem propriedade ou capacidade de dialogar com os filmes, não é isso, mas assistir um filme em francês - seja comédia, drama, documentário ou o que for - tem um sabor diferente.
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Das páginas da HQ para as telonas |
Abdellatif Kechiche é o diretor do filme
Azul é a Cor Mais Quente, longa francês que ganhou o mundo em 2013, principalmente depois de ser premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes daquele ano.
Kechiche não tem um modo de trabalhar dos mais agradáveis para seus atores, ele gosta de repetir as gravações inúmeras vezes, beirando a exaustão, aposta sempre em improvisações, muitas vezes nem segue o roteiro ao pé da letra e gosta de fazer algumas gravações às escondidas, para pegar os momentos mais realistas dos atores/personagens.
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Kechiche no meio das suas duas musas |
Nos papéis principais ele escalou duas atrizes com diferentes trajetórias na carreira. Para a menina do cabelo azul, Emma,
Kechiche escolheu
Léa Seydoux, que apesar de jovem é uma atriz das mais experientes da nova safra do cinema francês - ela já trabalhou como
Quentin Tarantino em
Bastardos Inglórios (ela fez uma das filhas do fazendeiro que esconde judeus logo no começo filme, é ela quem serve leite para o personagem de
Christoph Waltz, lembra?)
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Léa com Christoph Waltz em Bastardos Inglórios |
Léa Seydoux também já trabalhou com
Woody Allen em
Meia Noite em Paris, ela vive a francesa (claro!) dona do antiquário que o personagem de
Owen Wilson visita e por quem ele se apaixona (aparentemente) no final do filme.
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Léa com Owen Wilson em Meia Noite em Paris |
Para o papel de Adèle - que ilustra o título original do filme -
Kechiche preferiu a "inexperiente"
Adèle Exarchopoulos, que começou as filmagens como uma amiga da personagem principal, mas seu carisma, seu charme e apelo forçaram o diretor a uma mudança nos papéis e a jovem francesa recebeu no colo a difícil incumbência de viver a protagonista da história.
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Adèle Exarchopoulos, perfeita na pele da "inocente" Adèle |
Na escolha das duas meninas e suas interpretações viscerais e verdadeiras estão as grandes forças de
Azul é a Cor Mais Quente. O filme mostra a jovem Adèle, uma estudante que termina o relacionamento com o namorado e passa a se encantar por uma moça de cabelo azul, com quem cruza pelas ruas. Logo depois ela é elogiada e beijada por uma colega de classe. Adèle floresce e se redescobre.
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Uma troca de olhares, o despertar da paixão |
Ela reencontra a moça de cabelo azul e elas iniciam uma calorosa relação amorosa, enfrentando o julgamento dos amigos e das famílias, de quem escondem o namoro. Os anos passam e elas tocam as suas vidas juntas, mas um pequeno desvio da jovem Adèle põe o relacionamento a perder e elas sofrem. No final cada uma segue seu caminho, mas as rugas da paixão fica em Adèle para sempre.
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Nem tudo acaba como se imagina |
O filme não é convencional (do típico hollywoodiano, digo). Aqui não há trilha sonora ou qualquer outro som que conduza as emoções, tampouco indicação nas passagens de tempo ou envelhecimento dos personagens. Tudo é muito sutil e que nos obriga a refletir.
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As sutilezas de uma história de amor |
A cena mais famosa do longa dura cerca de sete minutos e mostra uma intensa relação sexual entre as protagonistas. Segundo elas, a cena foi fácil de ser feita, divertida, ao contrário da cena da separação, que exigiu muito delas do lado emocional, já que, como disse lá em cima, o diretor
Kechiche exigiu que a cena fosse filmada quase toda em improviso.
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Intenso |
Vejo
Azul é a Cor Mais Quente como se fosse uma espécie de
O Segredo de Brokeback Mountain de
Ang Lee, que concorreu ao Oscar de melhor filme em 2005. A diferença entre os filmes é justamente o que afasta o cinemão hollywoodiano do cinema europeu - no caso o francês. Ambos são ótimos filmes, que quebram tabus, mostrando de perto - de perto mesmo - uma relação de amor, que nem sempre tem um final feliz. Intenso e poético.