DÚVIDA (Doubt / 2008) - O texto não poderia ser mais original, é de 2004. O alto teor contestatório da obra lhe rendeu um prêmio Pullitzer - a maior premiação do gênero - e depois no teatro ganhou o Tony - outro prêmio mundialmente famoso. Ir para as telonas era questão de tempo. E foi pelas mãos de John Patrick Shanley - o autor do livro e do roteiro - que o filme chegou aos cinemas em 2008.
Uma relação próxima
Philip Seymour Hoffman, Meryl Streep, Amy Adams e Viola Davis estrelam a polêmica obra sobre um carismático padre (Hoffman) e sua relação com um garoto de 12 anos. Ele é carinhoso com o garoto, conversa aos cantos e o trata com carinho, mas em momento algum do filme vemos ou ouvimos algo que garanta que o padre abusou do menino.
O padre querido pela comunidade
Essa relação próxima desperta a curiosidade de uma freira novata (Adams), que leva a suspeita de que há algo errado na relação para a controladora freira superior (Streep).
Os olhares das freiras se voltam para o "crime" do padre
Ela passa a pressionar o padre para que ele conte a verdade sobre o caso. Tem certeza que o padre é culpado. Ele nega até o fim. A mãe do menino (Davis) é chamada para conversar com a freira superiora. A cena é curta, tem pouco mais de 5 minutos, mas é sem dúvida uma das mais emocionantes de todo o filme.
A freira durona e a mãe com um surpreendente pedido
O padre acaba desligado da igreja e ao final do filme, em outra sequência emocionante, a freira superior desaba em sua intransigência e cai aos prantos sem saber ao certo se o padre tinha culpa no caso ou não. Se sente mal por estar em dúvida. Esta mesma dúvida fica no ar ao final do longa, não sabemos se a expulsão do padre da igreja foi justa ou não.
"Porque você fez isso comigo? Eu não fiz nada!"
Todas as pontas da trama se amarram muito bem. O roteiro enxuto entrega interpretações incríveis do quarteto principal e tem algumas cenas longas com diálogos intensos. É comum que dentro de uma mesma cena os personagens variem de motivações e intensidade nas emoções, isso é mérito completo do texto - infalível, duro e claro, muito atual. O roteiro concorreu ao Oscar, assim como os quatro atores. Pontos fortes de um filme impressionante... para isso não restam dúvidas.
Veja abaixo o trailer de Dúvida.
MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA (Mad Max: Fury Road / 2015) - Quando se fala em filmes poeirentos, perdidos no meio do nada - normalmente nos desertos por aí - nada como ter um diretor que sabe explorar bem o espaço. Que mesmo em um ambiente completamente inóspito se sente em casa. Como se fosse um passeio ao lado de um guia que conhece bem o lugar. Este é George Miller. Ele dirigiu todos os quatro filmes da franquia Mad Max.
George Miller dirigindo Tom Hardy
Este quarta longa da série tem uma gama de tribos e personagens cheios de detalhes com um visual apurado, uma maquiagem muito bem feita e uma caracterização das mais cuidadosas. Isso é inegável, mesmo que você não goste do filme e da simplicidade do roteiro. Entrar de cara nesse mundo fantástico dos ficcionais povos da areia do deserto australiano é incrível.
Manada dos maníacos
Em Mad Max: Estrada da Fúria, Miller filmou tudo o que é visto na tela, à la cinemão bom dos anos 70. Cerca de 80% dos efeitos são realizados em frente às câmeras, ou seja, poucos efeitos de computador, pouco CGI. Finalmente, no meio de tanta "tela verde", cinema de verdade!
Carros tunados e visual marcante
As perseguições, explosões, os capotamentos, o fogo saindo pelo braço da guitarra e os carros envenenados e cheios de detalhes. Tudo aqui foi montado, construído e filmado em pleno deserto da Namíbia.
Cenas de ação acontecendo na frente das câmeras, sem CGI
Immortan Joe é o grande vilão da história, controla um exército de fanáticos - quase religiosos - pessoas com uma pele sem cor, carecas e com os olhos fundos, todos foram doutrinados a fazer o necessário para cumprir os mandos e desmandos de Immortan Joe. Ele controla também o suprimento de água do resto da população daquela parte do deserto e prega "não fiquem viciados à água", enquanto abre válvulas que despejam litros e mais litros da água para um povo miserável, faminto e sedento.
Immortan Joe
E como quase todos os personagens, Immortan Joe tem um visual impressionante. Ele tem um respirador artificial acoplado às costas, que bomba ar pro pulmão, tem uma voz grave e metalizada - à primeira vista tem muito de Darth Vader ali -, mas a força de Joe está no olhar profundo e na máscara com dentes grandes, o que lhe confere um ar assustador. É interpretado por Hugh Keays-Byrne, o mesmo que fez o vilão Toecutter no primeiro filme de 1979. Aliás, há quem diga que os dois são o mesmo personagem. Miller não confirma, mas também não desmente.
Immortan Joe e Toecutter seriam o mesmo personagem?
Max (Tom Hardy), assim como quando interpretado por Mel Gibson nos primeiros três filmes, é um herói de pouquíssimas palavras. Hardy, aliás conversou com Mel e pegou algumas dicas para interpretar o personagem. O astro norte americano, conhecido por ser uma pessoa de difícil trato e opinião muito forte, deu a sua benção e Hardy encarou o desafio sem medo.
O calado Max
Furiosa (Charlize Theron) é quem provoca o desenrolar da história quando resolve fugir das garras de Immortan Joe, levando algumas grávidas consigo que faziam parte do harém pessoal do vilão. Theron não tem problemas em se "enfeiar" para viver com mas intensidade os seus papéis - como fez em Monster: Desejo Assassino, o que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz - e agora raspou o cabelo quase a zero para viver a justiceira. Uma atriz que se entrega sem medo aos papéis.
A impetuosa Furiosa
O roteiro de Mad Max: Estrada da Fúria pode ser contada em poucas palavras - grupo foge de vilão controlador e desperta sua ira. Ele vai atrás com toda sua equipe de soldados devotos. Só isso. Não explica muita coisa e nem precisa! É o gato correndo atrás do rato o filme todo. Mas de resto, o visual, as cenas fantásticas e reais (!), e as tribos e personagens ricos fazem de Mad Max: Estrada da Fúria uma ótima diversão. E apertem os cintos, vem sequência por aí!
UM SONHO POSSÍVEL (The Blind Side / 2009) - Tudo começou em setembro de 2006 para Michael Oher. O jornal The New York Times publicou uma reportagem com o título de "The Ballad of Big Mike", falando de um jogador de futebol americano muito talentoso que se destacava em uma escola pequena de Memphis. Não só o talento, ele era grande e muito forte. Nada nem ninguém parecia poder passar por ele. Michael se destacava também pela simplicidade.
O verdadeiro Michael Oher na juventude
A reportagem chamou a atenção do jornalista Michael Lewis que estava pesquisando sobre a evolução da tática no futebol americano nos últimos 30 anos. Lewis publicou o livro "The Blind Side" falando sobre a evolução do jogo e do jogador Michael Oher. O livro vendeu muito bem, ao mesmo tempo que a carreira de Michael deslanchava. O jogador entrou para a NFL em 2009, mesmo ano do lançamento de Um Sonho Possível, filme de John Lee Hancock.
O livro que tirou Oher do ostracismo e lhe deu fama
Em Um Sonho Possível uma família rica decide adotar um calado jovem negro grandalhão. Se simpatizam com ele. O matriculam na escola local, a mesma dos seus filhos. Claro que ele acaba virando o centro das atenções - um negro numa escola rica. Michael Oher é vivido por Quinton Aaron e cumpre bem o seu papel. Qualquer semelhança com Forrest Gump não é mera coincidência, o personagem aqui foi construído naqueles moldes. A cara de menino perdido e "lerdinho" domina a expressão de Aaron o filme todo.
O grandalhão com cara de cachorro abandonado
Sandra Bullock vive brilhantemente a mãe dessa família. Dentro da casa é ela quem dá as cartas e comanda as ações. Foi dela a ideia de adotar Michael e de conduzi-lo depois ao futebol americano. O jogador teve um ascensão meteórica na carreira e atingiu certo sucesso defendendo as cores do Baltimore Ravens. Mas o filme foca no começo dessa história, principalmente enfrentando os preconceitos, como o da família branca e rica que adota um menino negro e pobre.
A família reunida com seu mais novo integrante
Bullock interpreta um mulher que age como superior a todos o tempo todo, mas não de uma forma depreciativa, é o contraponto perfeito. Uma personagem durona com coração mole. Sandra Bullock inspirada mereceu todas os prêmios que levou.
Ninguém comanda Michael como a "mãezona"
Um Oscar que valeu por cada minuto de Sandra Bullock em "Um Sonho Possível"
O filme combina o amor do norte americano pelo futebol - o"deles" - e um personagem querido adotado por uma família rica de bom coração. É a equação perfeita, um passo a mais, que vai além do sonho americano. Mas é bom que se diga - o Oher da vida real não tem nada a ver com o Oher do filme. Mas vende, né. De vez em quando é bom acreditar que alguns sonhos podem se tornam possíveis, mesmo que um pouco floreados.
Michael Oher e sua família - pouco depois do atleta entrar para a NFL
ROBOCOP (2014) - As expectativas eram as piores possíveis. José Padilha sabia disso. O diretor brasileiro responsável pelos sucessos da série Tropa de Elite, era perfeito para a escolha do homem que comandaria as ações no remake do clássico policial-homem-robô de 1987. Já começa pela semelhança com o diretor do primeiro filme, o holandês Paul Verhoeven. Ele tinha distância de Hollywood por isso conseguiu entrega um filme sem influências - ou quase - do sistema imperado do cinemão norte americano. E conseguiu. O primeiro Robocop é inovador, violentíssimo e chocante.
Até o Robocop original gostou deste "remake"
Padilha assumiu sem medo a cadeira de direção deste "remake", mas logo de cara se frustrou. Foram inúmeras ligações para o amigo Fernando Meirelles - que em Hollywood dirigiu O Jardineiro Fiel, Ensaio Sobre a Cegueira e 360 - falando sobre a falta de estímulo que sentia no set de Robocop. Isso porque, segundo Padilha, de cada 10 ideias que ele levava aos produtores, 9 eram rejeitadas. Ele não se sentiu um diretor e sim apenas um cara que grita "ação" e "corta" no começo e final de cada cena.
Padilha dá coordenadas ao cinegrafista
Mesmo assim, sem medo dá para afirmar que este Robocop é sim um grande trabalho de José Padilha. Ele teve nas mãos um elenco de primeira linha - Michael Keaton, Gary Oldman e Samuel L. Jackson - e um roteiro que, sem dúvida alguma, é atual (ou futuro?) e avança sobre a história original. Não é apenas um remake, é um passo além.
Filme estrelado e ao fundo a vestimenta do filme original de 1987
O ano é 2028. O mundo usa a tecnologia dos robôs para segurança em diversas partes do mundo. Menos nos EUA, onde ainda se discute se é seguro que uma máquina seja capaz de decidir o futuro de uma pessoa ou mesmo compreender a natureza do crime praticado. Para acabar com a discussão, o rico empresário Raymond (Keaton) cria a solução perfeita - combinar policial e robô numa coisa só.
O marido perfeito
Paralelo a isso, o policial Alex Murphy - vivido pelo desconhecido ator sueco Joel Kinnaman - desmascara uma dupla de policiais corruptos que desviavam armas pro crime organizado. Ele sofre uma emboscada - uma bomba no carro - e é dado como morto. Uma escolha bem mais tênue essa, do que a famosa cena de tortura que Murphy sofre antes de virar Robocop no filme de 1987. Ele é escolhido, com a autorização da esposa, para fazer parte do experimento, caso contrário ele não viveria.
Para salvar Murphy, só a tecnologia
Nasce Robocop, que apesar de ser uma máquina ainda tem uma consciência humana, visto na relação que mantém com a esposa e o filho. Ele vira herói da noite para o dia, um símbolo de orgulho das pessoas. Mas aos poucos ele vai perdendo as características humanas e se tornando cada vez mais máquina. E a história vai daí pro final com muita ação, boas cenas e um visual futurista/nostálgico que impressiona.
Rapidamente, Robocop se torna herói nas ruas
Padilha já disse que não se interessa em dirigir uma provável sequência. É escolha dele, só ele sabe o que passou no set durante as gravações. De qualquer forma, ele pode sair orgulhoso. Robocop vai muito além do "bom remake". Um roteiro cheio de boas ideias e escolhas certeiras - como a de um desconhecido para viver o papel título - que renderam boas atuações, um filme que dá vontade de assistir mais de uma vez. Padilha deu um tiro certo.