SPOTLIGHT: SEGREDOS REVELADOS (Spotlight / 2015) - Uma equipe de jornalistas do jornal impresso The Boston Globe voltada para projetos especiais, investigativos, que leva meses para concluir cada reportagem. "Baseado em fatos reais" é a primeira informação que aparece logo na abertura de Spotlight: Segredos Revelados.
Atores e personagens reais juntos
A história real contada em Spotlight, se passa em Boston no começo dos anos 2000. Uma equipe de reportagens especiais de um grande jornal passa a investigar - por insistência do seu novo chefe - casos de pedofilia cometidos pela Igreja católica local. Conforme eles vão fundo na investigação, mais e mais lama salta pra fora. Um assunto delicado que o próprio diretor Tom McCarthy roteirizou.
Tom McCarthy em ação
Robby (Michael Keaton), é chefe da equipe Spotlight, que conta com Sacha (Rachel McAdams, que concorre ao Oscar, ao meu ver exagerado), Matt (Bryan d´Arcy James) e Michael (Mark Ruffalo, espetacular e cheio de trejeitos, que lhe rendeu uma indicação mais do que merecida como ator coadjuvante - aliás já passou da hora de ele levar uma estatueta. Ele já foi indicado outras duas vezes por Foxcatcher e Minhas Mães e Meu Pai).
Ruffalo em mais uma atuação de destaque
A história de padres católicos que abusam sexualmente de crianças é o pano de fundo de Spotlight. O filme tem o grande mérito de mostrar em detalhes o dia a dia de uma redação de jornal, voltada para o trabalho investigativo. Os jornalistas - no caso os quatro da equipe Spotlight - não tem horário de trabalho definido, se falam o tempo todo - mesmo fora da redação, passam boa parte do dia no telefone ou investigando fontes e dados no trabalho de campo. É estressante, mas inegável... muito empolgante.
Keaton e McAdams em ação
Spotlight lembra Todos os Homens do Presidente, filme de 1976 dirigida por Alan J. Pakula com Robert Redford e Dustin Hoffman, que tinha a mesma proposta - jornalistas investigativos e a vivência da redação tendo como plano secundário o escândalo de Watergate do presidente Ronald Reagan. A matéria da dupla acabou por derrubar o presidente, que renunciou alguns meses depois.
"Todos os Homens do Presidente"
A reportagem publicada pela Spotlight rendeu seus frutos também - a partir dela outras 600 foram escritas, centenas de vítimas tiveram a coragem de dar as caras. Sacha e Michael acabaram premiados com o prêmio Pullitzer pela publicação da reportagem.
Ficção e realidade...
....e dois personagens vencedores do prêmio Pullitzer
Spotlight é um recorte no dia a dia de uma redação de reportagens investigativas e não um filme sobre os padres católicos pedófilos e o drama das suas vítimas. Filmes como Dúvida de 2008 por exemplo, cumprem muito bem esse papel. O roteiro é genial, na medida que cumpre o que promete - a vida agitada e muitas vezes perigosa de jornalistas investigativos.
Veja abaixo o trailer de Spotlight: Segredos Revelados.
Elenco estrelado e roteiro descomplicado - dois maiores trunfos
A GRANDE APOSTA (The Big Short / 2015) - Um cara eclético e competente. Adam Mckay flutua com segurança pelos mais diversos gêneros, principalmente a comédia - com os inúmeros filmes que dirigiu com Will Ferrell no elenco. Mas agora Adam se "arrisca" - e aqui cabe um belo trocadilho em se tratando do seu mais recente filme - com o festejado A Grande Aposta. Adam assina também o roteiro do filme estrelado por Christian Bale, Brad Pitt, Steve Carell (mais uma vez em um papel dramático) e Ryan Gosling.
O verdadeiro "Show me the Money!!!"
A história, baseada em fatos reais, se passa em 2005. Michael Burry (Bale) é um gênio do mercado de ações, por isso virou chefe de uma das companhias. É muito excêntrico também. Tem um olho de vidro, escuta rock dos mais pesados em alto volume no meio do trabalho, e vai trabalhar de bermuda e camiseta surradas no meio de Wall Street. Ele é tolerado pelos empregados, porque é - e sem questionamento - um cara com uma visão privilegiada e um faro do mercado dos mais apurados.
Um gênio excêntrico
O pontapé da história é dado por Burry, que descobre que em pouco tempo a economia norte americana vai falir, tendo como início a falência no mercado imobiliário. Os bancos vão liberando mais e mais créditos para pessoas que não podem pagar, a bolha vai inchando, inchando e ninguém percebe. Burry decide apostar todo o dinheiro da sua empresa - cerca de 1,3 bilhão de dólares - na falência de todo o sistema. Aí está a grande aposta.
A teia de influências que uma simples - mas certeira, aposta causa
Os demais personagens da trama giram em torno dos efeitos realizados por essa aposta - que acaba por se confirmar. Menos de três anos depois o mercado imobiliário norte americano abriu falência, milhões de pessoas perderam os seus empregos e suas casas.
Adam Mckay em ação, atrás de pé Steve Carell
Carell vive um dos donos de uma das empresas de aplicações. Ele enfrenta seus próprios demônios pessoais, enquanto encara a realidade de Wall Street - sonha com o sucesso, é nervoso e está sempre estressado, discutindo com as pessoas nas ruas. Como chefe, vive gritando com os funcionários, enquanto decide se deve comprar mais ações ou vendê-las antes que desvalorizem.
Gosling é o urubu, um homem que vive de facilitar as negociatas entre as ações - buscando compradores para fazer seus próprios investidores mais felizes. Ele encarna o movimento constante em Wall Street, sem ele a roda não para de girar. Mesmo que seja para girar ao contrário, se isso for render alguns milhões a mais para ele e claro, os investidores.
Um urubu
Pitt, que também assina a produção de A Grande Aposta, vive um guru de dois jovens que largaram tudo atrás do sonho de riqueza em Wall Street. As consultas são por telefone, sempre à distância. Mas quando a aposta de que a maior economia do mundo está despencando, ele larga tudo e se junta aos dois jovens. Nenhum desses gananciosos quer perder 1 centavo em jogo.
O veterano guiando inexperientes no mundo financeiro
A Grande Aposta não é um filme fácil, trata de um assunto espinhoso e profundo, fazendo uso do "economês", com muitos números, porções, frações e siglas. Adam Mckay fez um filme leve e fácil de acompanhar. Ele tenta ao máximo "traduzir" a linguagem e fazer paralelos. Ele usa gráficos e participações de pessoas de fora desse mundo para fazer paralelos, como Selena Gomez, um chef de cozinha e uma modelo numa banheira cheia de espuma. E ajuda.
Ponta de Selena Gomez
O filme funciona na medida em que escancara o antes pensado infalível - mercado financeiro norte americano. Todos os dias pessoas em Wall Street lucram com a desgraça e a tragédia de milhões de pessoas, principalmente pobres e imigrantes. O elenco afiado e as interpretações muito boas - principalmente de Bale - ajudam a digerir um filme que trata de um assunto delicado. É triste, mas a realidade.
Um amor verdadeiro como pano de fundo para a construção de uma cidade
BROOKLYN (2015) - Em comparação com os demais concorrentes ao Oscar de melhor filme no ano de 2016, Brooklyn talvez pareça o mais sem sal, meio sem graça. "Mas porque esse filme está concorrendo ao maior prêmio do cinema?", alguns talvez se perguntem. Brooklyn é baseado em um livro e roteirizado por Nick Hornby - o mesmo roteirista de Alta Fidelidade e Um Grande Garoto por exemplo.
Uma menina irlandesa que queria mais
A história se passa na década de 50 com uma jovem irlandesa - Eilis - que arrisca tudo ao viajar para os EUA em busca de uma melhor condição de vida, deixando para trás a irmã e a mãe. Durante a longa viagem de barco ela começa a aprender com a vivida companheira de quarto um pouco de malandragem - e Eilis precisa. Ela é ingênua e não está preparada para o desafio que vai encontrar.
De barco, os desafios de uma imigrante
Nos EUA ela se hospeda numa pensão para mulheres no bairro do Brooklyn, um dos distritos mais procurados por estrangeiros na época - principalmente os europeus que fugiam dos efeitos colaterais da Segunda Guerra, que tinha acabado há cerca de 5 anos. A governanta comanda as mulheres que ali moram com mãos de ferro, exigindo disciplina o tempo todo, mas dando liberdade até um certo limite. A veterana Julie Walters encarna a dona da pensão.
A disciplinadora dona da pensão - a mãe que Eilis encontrou nos EUA
Eilis sofre de saudades de casa, da mãe e da irmã. Mas aos poucos começa a se sentir em casa no país estrangeiro. Arruma trabalho e um namorado - Tony, imigrante italiano que trabalha como encanador. Juntos, os dois imigrantes começam a namorar e dão um novo sentido para as suas vidas.
Irlanda e Itália se encontram no Brooklyn
Até que uma carta chega e Eilis fica sabendo que a irmã morreu subitamente e ela decide voltar para a Irlanda, para passar um tempo com a mãe. Mas não antes sem se casar - em segredo - com Tony. Na Irlanda Eilis passa a ser cortejada por um jovem rico e bom partido. A jovem fica perdida sobre o que fazer.
Dividida entre dois amores
Sua vida se torna uma mescla de sentimentos - primeiro a culpa por estar se interessando por um rapaz mesmo estando casada com outro no papel, segundo a frustração ao perceber que a sua relação com a mãe esfriou completamente, terceiro orgulho por estar muito melhor do que as suas antigas amigas que preferiram ficar na Irlanda.
Um austero jantar de família
Brooklyn é um filme de muitas cores - uma paleta pastel, sem graça na parte inicial quando Eilis ainda mora na Irlanda passando por tons vivos e coloridos a partir do momento que ela chega aos Estados Unidos e por fim mais vida ainda quando ela volta triunfante pro país de origem.
Saindo uma menina, voltando uma mulher
Brooklyn é mais do que simplesmente uma história de amor. O diretor John Crowley teve a sensibilidade de entregar um filme irretocável no que diz respeito à construção de uma cidade pelos imigrantes. Eles construíram aquela cidade, fugindo das sequelas da Guerra em seus países e se concentraram, no bairro de Nova York com duas grandes comunidades de imigrantes - os irlandeses e os italianos. Está aí o pano de fundo que é o grande mérito do filme.
Veja abaixo o trailer de Brooklyn.
Em O RegressoIñarritú abusa do uso de steadicam, um sistema que prende a câmera no corpo do operador e permite que longos trajetos sejam percorridos a pé, sem que a imagem trema, a imagem sai sempre suave, dá a impressão de estarmos flutuando entre os atores, como se fizéssemos parte daquele ambiente.
Um cenário grandioso
A história é baseada em fatos reais e se passa num ambiente inóspito nos confins de uma mata fechada onde índios e homens brancos vivem, nada pacificamente. Leonardo DiCaprio vive Glass, um dos poucos homens que vê os índios com simpatia. Ele é pai de Hawk, filho com quem teve com uma índia. Em um rápido flashback descobrimos que a índia e toda a sua aldeia foi dizimada, as ocas queimadas e as pessoas mortas.
Os índios e a relação de amor e ódio com o homem branco
Glass e seu filho Hawk conhecem as trilhas daquele lugar como poucos, por isso fazem parte de uma companhia que extrai peles de alces, búfalos e outros grandes animais selvagens para levantar dinheiro. O problema é que as peles são muito valiosas. Até os índios tem interesse nelas, por isso atacam os homens brancos o tempo todo com flechadas e machados.
A equipe fugindo de um ataque indígena
Depois de dizimados, eram 45 e agora são 10, os homens fogem com o que sobrou das peles. Eles buscam o forte, onde está o resto da companhia. Mas o problema está ali dentro mesmo. Glass sai para caçar e acaba sendo atacado por um urso, que protegia os filhotes. A briga é violenta, uma das cenas mais fortes de todo o filme.
O ataque inesperado
Ele acaba resgatado, mas está muito ferido. Não fala mais devido a um arranhão profundo na garganta. Mas como é o único que conhece aquela região, ele é levado em uma maca. O intuito é chegar ao forte para salvar a vida de Glass. O problema está em Fitzgerald (o espetacular Tom Hardy), que odeia índios e quer se dar bem a qualquer custo.
Tom vai à caça
Fitzgerald, Hawk e outro jovem são incumbidos de carregar Glass pela maca, mas ele muda de planos - mata Hawk, enterra Glass e foge rumo ao forte onde recebera uma quantia em dinheiro. Aí começa uma busca. Glass sai da terra, se arrasta pra fora e encontra um velho índio isolado que lhe salva a vida e cura seus ferimentos. Glass vai atrás de Fitzgerald.
Um homem buscando vingança
É a partir desse ponto que Leonardo DiCaprio brilha. Ele caminha sozinho pela floresta, enfrentando índios sozinho, buscando comida e fugindo do frio. Come peixe cru e carne crua sangrando. Ele pouco fala, mas a fúria que ele passa pelos olhos é impressionante. É aí que a interpretação dele merece todos os méritos. DiCaprio só esteve tão bom em Django Livre.
Poucas vezes DiCaprio esteve tão bom
Não são incomuns os filmes que retratam séculos passados na história norte americana, onde a briga por terra entre brancos e índios. Talvez o mais premiado dos filmes com essa temática seja Dança com Lobos de 1990. Foram 12 indicações e 7 estatuetas naquela noite, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado. O Regresso também concorre a 12 Oscar e vou dizer, merece a maioria deles.
Confronto de interesses no mundo selvagem
Um filmaço magnífico que tem tudo para ser o grande papa-oscar na noite de 28 de fevereiro. É esperar pra ver.
Veja abaixo o trailer de O Regresso.
PERDIDO EM MARTE (The Martian / 2015) - Ridley Scott é um cara que gosta de encarar o desconhecido. Dirigiu Alien - o encontro do ser humano com o tal bichão de outro planeta, Thelma e Louise - duas amigas que embarcam numa viagem inconsequente pelas estradas dos EUA, Blade Runner - um mundo novo com seres humanos em contatos com replicantes e robôs e outros seres, Prometheus - outra busca do homem fora do planeta Terra. E agora Scott dirige a adaptação do livro lançado em 2011, Perdido em Marte.
Ridley Scott em ação
Aqui, ele abusa do uso da trilha sonora e da leveza para conduzir a história de Mark Whatley, um astronauta que dado como morto pelo resto da equipe, é abandonado em Marte. O que poderia ser uma jornada desesperada de um ser humano em um lugar absolutamente inóspito, se torna uma viagem divertida de uma pessoa que não desiste do sonho de voltar para casa, embora saiba que as chances são terrivelmente pequenas. Matt Damon vive Mark.
Literalmente, uma jornada pelo desconhecido
Botânico de formação, Whatley descobre um jeito de criar água e cultivar batatas. Os dias - ou os sóis, no caso - passam e Whatley vai se virando muito bem, usando com consciência também os suprimentos dos demais membros das equipe, que ficou para trás. E não pense que isso é spoiler não! Tudo isso se passa em menos de 40 minutos das mais de 2 horas e vinte de projeção. Muita coisa ainda vai acontecer em solo marciano.
O diário de Whatley
O que poderia ser apenas um filme sobre um homem tentando desvendar e sobreviver em um ambiente onde tudo é contrário acaba se tornando uma operação de resgate, a partir do momento que a Nasa - através de fotos dos satélites - descobre que Whatley está vivo e bem. O que fica a pergunta pro resto do filme é... como tirar o astronauta de Marte e trazê-lo pra casa?
A "morada" de Whatley
Perdido em Marte tem seu mérito principal na leveza com que um assunto denso e desesperador é tratado. O cômico Whatley, que Damon cria, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator. Apesar de ser uma boa atuação de Damon um fato me chamou muito a atenção. Depois de ficar tanto tempo no espaço se alimentando mal, era normal que ele perdesse alguns quilinhos ou muitos no caso. Mas toda hora que o personagem aparece magricelo de tudo é com um dublê, não vemos Damon magricelo - como aconteceu com Tom Hanks em O Náufrago ou Christian Bale em O Operário. Pena, isso deve custar o Oscar.
Damon tentando um Oscar, mas sem "emagrecer"... porque?
Jessica Chastain faz a comandante da nave que autorizou a fuga de Marte - largando Whatley pra trás - Jeff Daniels o executivo da Nasa que tem a caneta na mão para autorizar ou não uma missão resgate e Chiwetel Ejiofor, como outro executivo da Nasa. Todos muito bem.
O elenco principal do filme
É incompreensível a escalação de Kristen Wiig no papel de secretária de comunicação da Nasa. Ela não é boa atriz, embora uma excelente comediante. Sua performance não serve de parâmetros, cada vez que ela entra em cena, a impressão que dá é que ela vai soltar algo infame ou tropeçar em alguém ou ainda jogar uma torta na câmera, mas nunca atuar.
Incompreensível a escalação Kristen Wiig no papel
Uma trilha sonora de respeito, que precisa ser mencionada - Jimi Hendrix, a clássica Starman do David Bowie - que toca inteira aliás - e I Will Survive, que encaixa perfeitamente na temática do filme.
Whatley conta seus progressos para câmeras instaladas na estação espacial
Perdido em Marte tem alguns pontos negativos - além dos enumerados, não vale nem a pena citar a insistência dos norte americanos em achar que o mundo está a seus pés o tempo todo e corta pra Londres paralisada vendo as imagens de um resgate, a transmissão ao vivo para todos os países e que aquela baboseira nacionalista toda - mas muito mais positivos. E é com eles que fico para dizer que sim, Perdido em Marte é um ótimo filme. Sim, Matt Damon mostrou que é um bom ator. E o mais importante - Sim, Ridley Scott ainda sabe fazer bons filmes. O velhinho não perdeu a mão. E esse último ponto merece sim muito destaque.
O QUARTO DE JACK (Room / 2015) - Ninguém conhece melhor O Quarto de Jack do que Emma Donoghue. Ela escreveu o livro, lançado em 2011, e adaptou a obra para o cinema. Resultado? Um filme incrível dirigido por Lenny Abrahamson. Impossível não se comover com a história e filho que levam sua vida presos numa pequena cabana num lugar desconhecido.
A escritora e o diretor no cenário principal do filme
O Quarto de Jack começa com imagens fechadas, propositalmente tremidas de itens espalhados pelo tal quarto, que é ao mesmo tempo sala e banheiro. Olhos verdes se abrem e revelam o cabeludo menino Jack, que acaba de acordar no dia em que completa 5 anos. Sua mãe, Joy, está toda descabelada e com cara amarrada, ao seu lado.
Um dando suporte pro outro dentro do pequeno cativeiro
Os dois estão trancados em um quarto minúsculo, sem janela e isolado acusticamente. A única ligação com o mundo externo, além da pesada porta de aço que só abre com senha - que eles não sabem qual é - é uma clarabóia no teto. Eles vivem em um cativeiro.
Ninguém vê, ninguém ouve
A única "visita" que recebem é de um cara conhecido como Nick, que chega tirando a roupa e se deitando com a mulher. Ao menor sinal de Nick, Jack corre pro armário - onde dorme - e dorme, ou tenta.
O mundo pela clarabóia
O mundo de Jack se resume àquele pequeno quarto. Ele tem 5 anos e a mãe está sequestrada à 7. É emocionante a forma como o filme aborda o mundo visto por uma criança que aprendeu que o mundo é só aquilo. Filmes com temáticas parecidas como O Quarto do Pânico com Jodie Foster fazem diferente e abordam a história pelo ponto de vista dos adultos.
Bolando o plano
Jack reclama muito com a mãe quando ela propõe que eles bolem um plano para enganar Nick e fugir definitivamente do cativeiro. O medo toma conta dos dois, Nick é violento e não pensaria duas vezes se tivesse que bater na mãe, o que já aconteceu algumas vezes.
Um e outro é tudo o que tem
Com uma mescla de sentimentos, sobretudo medo, Jack se finge de morto e é enrolado num carpete. Nick leva o que seria o corpo do menino para fora, o garoto grita socorro. Alguém escuta e quem passa a ter medo agora é Nick, que larga o menino no chão e foge. Pela primeira vez os olhinhos de Jack vê outras pessoas, arvores, a rua, e essa descoberta é um dos pontos altos do filme.
Descobrimos o mundo junto com Jack
Mas não acaba por aí não. Ainda tem toda a adaptação de Jack ao mundo e à sua família, o reencontro com Joy - que aconteceu pouco depois de ele conseguir a liberdade - e claro, a interação com outras crianças.
SPOILERS
O que mais me assustou nesse filme é a economia no discurso, ou seja, você não precisa resolver todos os nós que a história levanta para mesmo assim ter uma grande filme.. Ou seja, será que Nick - se é que ele se chama assim mesmo - foi preso? Ou se entregou? Ou voltou para buscar vingança? Não se sabe... E nem faz falta. O roteiro prefere se focar em Jack e Joy e se luta para se adaptar no novo mundo.
FIM DOS SPOILERS
Existe o mundo todo lá fora
O Quarto de Jack é sem dúvida, um dos melhores filmes que assisti nos últimos anos. Surpreendente e emocionante, com uma proposital falta de informação - que deixa o filme ainda mais completo - e uma série de grandes atuações - principalmente do menino Jacob Tremblay - que deixa tudo ainda mais rico. Fora da lista das grandes produções, O Quarto de Jack prova que o primeiro passo para se ter um bom filme é uma boa história.