segunda-feira, 28 de janeiro de 2013


DJANGO LIVRE (Or. Django Unchained) - Não existe definição certa ou errada para qualquer um dos 8 filmes da carreira de Quentin Tarantino. Cães de Aluguel e Pulp Fiction são muito mais do que apenas filmes de máfia. Jackie Brown passa longe de um filme de ação. Não há como dizer que Kill Bill vol. 1 seja apenas um filme de kung fu. E Kill Bill vol. 2, que já tem grandes méritos por ser tão diferente do vol. 1, apesar de ser uma continuação. É impossível de simplificar À Prova de Morte, classificando-o apenas como um filme de suspense. Bastardos Inglórios tem como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial, mas vai muito além de um filme de guerra. E é claro, com Django Livre não seria diferente. Se passa em 1858 no Texas e no Mississippi e tem inúmeras referências a Sérgio Leone, por exemplo, mas não dá para dizer que Django Livre é um filme de faroeste. Daí eu concluo, sem medo de errar, que Quentin Tarantino é um cineasta-gênero, que faz algo tão único, tão pessoal, que se sobrepõe a qualquer definição. O cara é um gênio!

o gênio em ação
Django Livre, como disse se passa em 1858 e conta a história do Dr. King Schultz (Christoph Waltz, mais uma vez estupendo), um dentista aposentado que se torna um caçador de recompensas no velho oeste. Schultz compra um escravo chamado Django (o também ótimo Jamie Foxx) com o propósito de ajudá-lo a encontrar três brancos em uma das fazendas da região. A dupla vai muito bem e começa a fazer bom dinheiro com o negócio. Schultz promete então a Django que como recompensa ele ajudará o ex-escravo na libertação da esposa Brunhilde, escrava da fazenda Candyland. Comandada por Calvin Candie (um Leonardo DiCaprio que finalmente, calou a minha boca, o cara está ótimo) a fazenda tem em Stephen (Samuel L. Jackson, muito engraçado) um homem de pulso firme, que comanda os negros escravos da propriedade e tem uma ligação muito afetiva com Calvin. Os eventos levam Schultz e Django à Candyland, onde acontece o embate pela pobre Brunhilde.

DiCaprio se destaca como o perverso Candie
O que esperar de um filme assim? Muita ação, bang-bang, sangue jorrando a cada tiro, diálogos e situações complexas e cômicas, e é claro, muito estilo. Tarantino é assim, nada do que ele faz foge ao seu estilo. E por isso mesmo ele é um cara de sucesso. Afinal para chegar longe em uma carreira curta ao ponto de poder contar a história que quer, do jeito que quer, só sendo muito bom mesmo. E isso não há quem duvide.

"The D is silent."
A trama se desenvolve de forma linear, mais próximo ao estilo Cães de Aluguel, onde Tarantino se usou de alguns flashbacks, poucos na verdade, para contar uma história que se apresenta de forma simples. Nada próximo à edição frenética de Pulp Fiction.

"I like the way you die, boy"
A trilha tem destaque constante. Tem as composições feitas especificamente para os filmes e é claro aquelas que Tarantino pinça da obscuridade e encaixa em momentos-chave do filme que fazem você ter a certeza que ela foi escrita para o filme. É impressionante como casa bem.

O quarteto base de Django: DiCaprio, Waltz, Jackson e Foxx
Django Livre é mais um filmaço da irretocável (e eu digo sem medo nenhum) carreira de Quentin Tarantino. Obrigatório para fãs e amantes do bom cinema. Quem disse que cinema de qualidade não pode ser divertido? Tarantino diverte, ensina e indica suas referências sem medo, sabe bem a quem elogiar e cabe a nós, simples mortais consumidores, digerir toda essa salada que Tarantino nos apresenta a cada filme.

Tarantino´s world
Foi difícil, mas segue abaixo a minha ordem de preferência dos filmes já lançados por Tarantino:

1)- Pulp Fiction
2)- Cães de Aluguel
3)- À Prova de Morte
4)- Kill Bill (vol. 1 e 2)
5)- Django Livre
6)- Bastardos Inglórios
7)- Jackie Brown

Você consegue fazer uma sua?

sábado, 12 de janeiro de 2013

WOODY ALLEN: A DOCUMENTARY - Uma sessão disputada essa na Rua Augusta. Também pudera, um documentário sobre um dos mais produtivos e criativos cineastas de todos os tempos, afinal os seus aguardados filmes acabaram virando um evento anual, desde 1966 ele continua nessa mesma sequência lançando um filme a cada 1 ano e meio. Ele não apenas dirige e escreve muito bem, mas atua em boa parte dos seus filmes também! Quase sempre como um personagem com um tipo neurótico, bastante articulado e cheio de referências e tiradas sarcásticas e inteligentes. Com vocês a história de Woody Allen.

Woody em ação
Um ícone. Talvez seja a melhor forma de definir Woody. Robert Weide dirige e produz este documentário que passeia de forma linear por toda a carreira do diretor nova iorquino. A condução é coberta com fotos e cenas de bastidores, principalmente do início da carreira de Woody, quando ainda ele tentava algo como escritor de contos e pequenas piadas em jornais.

No começo da carreira lutando com um canguru
Várias personalidades da sua vida como Charles J. Hoffe, Diane Keaton (menos Mia Farrow por razões óbvias)  e tantos outros dão o seu testemunho, inclusive o próprio Woody, que revela, como já havia descrito em outras entrevistas, a "gaveta das ideias". Explico, Woody se diz uma pessoa com dificuldade de criar histórias longas e complexas logo de cara. Então, ele imagina fatos ou pessoas, ou se baseia em fatos e pessoas do seu cotidiano, anota em algum papelzinho qualquer e joga na gaveta. No momento de escrever um roteiro ele abre a gaveta e vai pinçando papeizinhos até achar seus personagens ou fatos que melhor se encaixam na história que ele desenvolve.

Ao fundo a máquina de escrever ainda usada por Woody
Passear pelas ruas de Nova York acompanhando os passos de Woody talve seja o melhor do raso documentário, afinal pouco se viu tão de perto de Woody Allen durante toda a sua vida. A questão do caso de Woody com a filha adotiva de Mia também é abordado no filme, e eles deixam claro que a atriz não quis falar sobre o assunto. Woody também não se nega, mas fala apenas em que aquela sua escolha lhe afetou na vida pessoal e profissional.

Na infância
O documentário de Robert Weide é essencial para fãs, se vê um Woody mais de perto com seus tiques, suas manias e suas histórias. Além de acompanhar também os bastidores das gravações de Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, como a relação de Woody com Josh Brolin e Scarlett Johansson.

Dirigindo Scarlett
A carreira de Woody é para ser festejada, ao contrário do documentário que parece não se aprofundar em alguns momentos, parece um release de imprensa em alguns momentos. Mas vale a pena para conhecer um pouco mais de perto Woody Allen




AS AVENTURAS DE PI (Or. The Life of Pi) - Baseado num livro de um brasileiro, As Aventuras de Pi trazem aos cinemas mais do que um filme. Algo como uma poesia. Ang Lee é um dos poucos cineastas que consegue unir essas duas artes.

Ang Lee (de boné) em ação

Chega a ser inexplicável o quanto o seu mais novo filme, As Aventuras de Pi, é bom. Mais que isso, é extraordinário. É magnífico e grandioso. Em muitas maneiras. Pode parecer exagero, mas acredite, não é. É claro que muito vai de quem assiste, de quem se identifica com a história e com a busca do personagem, da forma como são assimiladas as metáforas, de quem se deixa embarcar na história. Este último talvez o mais importante.


A fúria de Pi, lutando pela sobrevivência
 A história se baseia no livro de um brasileiro. O gaúcho Moacyr Scliar escreveu o romance "Max e os Felinos" em 1981 sobre um jovem que acaba em um barco no mar, sozinho com um jaguar. Esta história de Moacyr baseou o livro "Life of Pi" de  Yann Martel, de 2001, onde o roteiro de Ang Lee se baseia.


O brasileiro Moacyr Scliar, criador da história que por fim acabou por basear o roteiro de "As Aventuras de Pi"

Pi é um jovem indiano que vive com seus pais e seu irmão mais velho Ravi em um zoológico, de propriedade própria. A família se vê em uma situação financeira complicada, cuja única saída é a devolução do terreno do zoológico para a prefeitura. Isso feito, eles colocam todos os animais enjaulados dentro de um navio e tem como plano seguir para o Canadá, onde reiniciarão a vida. Não é preciso dizer que eles tem sérios problemas na viagem. O navio é atingido por uma fortíssima tormenta e sofre um naufrágio. O jovem Pi se vê então dentro de um pequeno barco salva-vidas à deriva no oceano, tendo como companhia um tigre de bengala, que também escapara da tragédia e procurou abrigo no barco. Assim seus dias se passam, tendo que aprender a viver com um animal feroz em um ambiente desconhecido. Palco perfeito para os devaneios e questionamentos do "poeta" Ang Lee.


O confronto Pi x Tigre de Bengala
 O imperdível do filme está no simples fato de ser impossível saber o que pode acontecer na próxima cena. Tudo pode ser encarado como um trajeto que cada um de nós faz por toda a vida. Afinal, como não relacionar com a vida uma história de um jovem que precisa aprender os desafios de um ambiente desconhecido e hostil, vivendo na base do sem saída, a não ser encarar os problemas, ou seja, conviver com o tigre.


Quadros como verdadeiras pinturas
 Certamente, As Aventuras de Pi é o melhor filme de Ang Lee e já está entre os grandes que já assisti. Tudo o que foi lido aqui pode parecer exagero, mas tudo neste filme tem um significado muito forte para mim, o que para alguns pode não ser tão forte. O que fica para mim é uma imagem de um lindo filme, cheio de metáforas e uma mensagem profunda, sem falar no banho de bom cinema que Ang Lee dá. Mais uma vez. 


O tigre de bengala "companheiro" de Pi