O PAGADOR DE PROMESSAS (1962) - Seria exagero afirmar que trato aqui do filme brasileiro mais premiado de todos os tempos? Precisaria certamente de um estudo mais aprofundado, mas não restam dúvidas de que O Pagador de Promessas é o filme brasileiro que recebeu as mais importantes honras do cinema mundial - foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro (depois dele vieram O Quatrilho de 1993, O Que É Isso, Companheiro? de 1997 e Central do Brasil de 1997) e ganhou a Palma de Ouro no festival de Cannes (antes dele só Orfeu do Carnaval foi premiado em 1959, mas não conta como um filme brasileiro pois a produção foi dividida também com Itália e França e dirigido por um francês Marcel Camus).
O diretor Anselmo Duarte
O filme dirigido por Anselmo Duarte é baseado na obra de Dias Gomes e conta com um elenco jovem à época mas muito comprometido. Total competência de Anselmo que deu profundidade não apenas a história como também ao seu elenco, que interpretou intensamente o ótimo texto de Dias Gomes. O resultado não poderia ser outro.
Uma das edições do livro lançado em 1959
A história começa com uma peregrinação sofrida de Rosa (Glória Meneses) e seu marido Zé do Burro (Leonardo Villar) que carrega nas costas uma pesada cruz de madeira.
A sofrida peregrinação de Zé e Rosa
Sem falar nada e enfrentando chuva e sol, o casal chega à escadaria da Igreja de Santa Bárbara em Salvador e começa a subir um a um os degraus. Mas a Igreja está fechada, Rosa é levada a dormir num hotel nas redondezas, onde é aliciada pelo inescrupuloso Bonitão. Zé do Burro dorme nas escadas ao lado da Cruz.
As escadarias da Igreja de Santa Bárbara
Pela manhã Zé acorda e começa conversar com o padre sobre sua intenção que é levar a cruz até o altar da Igreja, só assim ele cumpriria a sua promessa - salvar a vida de Nicolau, o burro que lhe ajuda no seu trabalho na roça. Zé, ingênuo ao extremo, confidencia ao padre que fez a promesa para Santa Bárbara em um terreiro de umbanda, de candomblé. Indignado, o padre não permite a entrada de Zé e sua cruz na Igreja, já que prometer algo em um local de "macumba" (como o padre mesmo definiu). "Isso não é cristão e sim algo de quem adora o diabo".
O truculento padre que não permite a entrada de Zé do Burro na Igreja
Sem saber o que fazer, Zé se deita novamente na escadaria e diz que vai ficar lá e levar a cruz ao altar de qualquer jeito, de qualquer maneira. Está selado o principal conflito do filme - de um lado a simplicidade de um homem da roça que precisa cumprir sua promessa para salvar a vida do seu burro e do outro a truculência de um padre que precisa manter a sua palavra e não pode dar o braço a torcer em frente a toda a sua comunidade.
Zé e Rosa
Com o passar do tempo a história passa a chamar atenção de toda a cidade criando uma série de mitos envolta das intenções de Zé. Alguns acha que ele é um agitador querendo causar danos públicos à imagem da Igreja ou ainda que ele pretende promover o comunismo lutando pela reforma agrária. Zé não quer nada disso: "me deixem em paz, só quero cumprir a minha promessa e salvar a vida do meu burro!"
Com o povo a seu lado Zé tenta entrar na Igreja
Othon Bastos, no papel de um jornalista em busca de autopromoção, a mulher do Bonitão, um escritor de literatura de cordel, além do Monsenhor da Igreja e adeptos do candomblé e da capoeira são alguns dos personagens que aparecem para criar (ou evitar) mais tumulto a situação. O final dessa história não poderia ser outro - é trágico.
Zé é abordado pela imprensa que vê ali uma boa história
Zé é dos personagens mais simpáticos do cinema nacional, sua causa simples ganha proporções gigantescas para um homem da roça resolver. A "cidade grande" e cheia de uma mistura sem fim de culturas e religiões, como era e ainda é Salvador, proporciona um algo mais pra história - é o pano de fundo perfeito.
Sua causa virou atração na cidade
Poucas vezes se viu personagens tão bem resolvidos, uma história tão enxuta e tão brasileira - mas ao mesmo tempo tão universal, capaz de arrebatar prêmios em inúmeros festivais por todo o mundo. Indispensável em muitos aspectos.
Os coadjuvantes também tem seu espaço - como Rosa e Bonitão
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