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Breno Silveira, diretor de mais uma cinebiografia de sucesso |
GONZAGA: DE PAI PARA FILHO (2012) -
Breno Silveira é um cineasta de mão cheia. Gosta de histórias reais e as retrata de forma muito única. Desse gênero no Brasil, poucos profissionais alcançaram tanto sucesso como ele.
Dois Filhos de Francisco é um fenômeno do cinema nacional recente. Relutei muito, demorei para assistir por conta do meu (e admito sem medo) preconceito com relação ao gênero musical da dupla Zezé di Camargo e Luciano. Imaginei que seria um melodrama à lá Globo Filmes com cara de novela das sete e feito só para promover a dupla. Não poderia estar mais errado. Me emociono cada vez que assisto ao filme.
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Simpatia de Gonzagão |
Em
Gonzaga: de Pai para Filho,
Breno se vê diante de uma das histórias musicais mais ricas do nosso país. Da relação entre Luiz Gonzaga e Gonzaguinha. Como "pai e filho" e como músicos de sucesso (cada um no seu gênero e na sua época).
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Gonzagão, o rei do baião |
Uma breve resumo do que o filme conta - Luiz Gonzaga nasceu no meio do sertão de Pernambuco, fez de tudo na vida até descobrir o talento para música e se lançou no mundo como sanfoneiro. Chegou ao Rio e só passou a fazer "sucesso" quando deixou de tocar o que as pessoas queriam ouvir e passou a tocar coisas próprias, nordestinas, baião. Casou, descobriu que a esposa estava grávida e nasceu um menino, que recebeu o nome de Luiz Gonzaga Filho. Gonzagão só pensava em tocar, ganhar dinheiro para sustentar sua família, por isso passou muito tempo ausente da vida da sua esposa e do pequeno Luiz Gonzaga.
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Gonzaguinha e sua MPB |
Quando a mulher morreu, Gonzagão, que já fazia sucesso, se casou de novo, enquanto crescia no menino um sentimento ruim em relação à Gonzagão, um músico amado por todos, mas incapaz de despertar esse sentimento no próprio "filho".
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Tocando sanfona a qualquer momento |
O filme conta o crescimento e "amadurecimento" desses dois personagens, tendo como espinha dorsal um encontro tenso entre Gonzaguinha com Gonzagão, nos últimos anos de vida do rei do baião. Um espetáculo de atuação.
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O encontro para acerto de contas |
Cada um é vivido por três atores, retratando suas vidas na infância/adolescência, vida adulta e na velhice. Os atores escolhidos para viver Gonzaguinha são ótimos, todos com muito ao mostrar uma pessoa muito talentosa, mas rancorosa, reunindo muita raiva contra o pai que ele tanto queria ao seu lado. O destaque é todo de
Júlio Andrade que quando aparece é o dono do filme. Capaz de uma semelhança física assustadora com Gonzaguinha,
Júlio passa todo o sentimento com um olhar, com o jeito de andar, de se postar em cena. É o grande destaque do filme. Todo o embate de sentimentos de Gonzaguinha, vivido nessa etapa por
Júlio, é rebatido com muito êxito pelo não menos ótimo
Adélio Lima, que vive Gonzagão nos últimos anos de vida. Uma linda e forte cena.
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Gonzaguinha criança... |
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... na fase adulta como amante da esquerda... |
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...e com a carreira estabelecida como músico. |
Já Gonzagão é vivido quase por todo o filme pelo músico
Chambinho do Acordeon.
Chambinho se esforça, é simpático, carismático, mas em momentos de mais drama, quando a verdade no sentimento precisa dar a tônica (quando sua primeira esposa morre ou quando ele expulsa Gonzaguinha de casa devido à sua ligação com a esquerda) é fácil de se reparar que não se trata de um ator de ofício. Pena.
Chambinho não estraga, mas deixa o filme menos forte em alguns momentos.
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Gonzagão na adolescência... |
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... na fase adulta... |
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... e no fim da vida. |
O filme não enfraquece, mas deixa de ser melhor.
Breno surpreende ao inserir em todo o filme, fotos, recortes de jornal da época, mostrando os reais personagens naqueles momentos. Fazendo isso ele separa os atores dos retratados e dá mais força aos Gonzagas.
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No confronto dos sentimentos, a força da trama |
Perto do final,
Breno redescobre um vídeo dos "reais" Gonzaguinnha e Gonzagão cantando juntos nos anos 80. Uma pérola. E ele encerra o filme com Gonzagão "apresentando" sua família em um programa de TV e diz "esse é meu filho, Gonzaguinha". Emocionante.
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O reencontro dos verdadeiros Gonzaguinha e Gonzagão garantem um final emocionante do filme |
"Mesmo que seu sangue nunca tenha corrido nas minhas veias, tenho certeza que você sempre foi meu filho."