Rápida no gatilho, ou melhor no teclado de uma máquina de escrever
A DATILÓGRAFA (Populaire / 2012) - O cinema francês nunca para, está sempre tentando se reinventar. E alguém nega que tem conseguido? Sucessos como O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, de 2001 e O Artista, de 2011, mostram que os franceses tem um prazer em contar histórias de um jeito diferente. Em ambos os filmes é fácil de se notar a opção de seus diretores em homenagear um cinema de uma outra época, quando tudo era mais ingênuo, digamos. O resultado? Filmes gostosos de assistir, leves embora não levianos.
Decididamente um filme que não parece ser dessa década
Assim que terminam os créditos já somos levados pelos passos de um sapato feminino usando uma saia rodada, é mais um indício, estamos nos anos 50. Mais precisamente 1958. É neste ano em uma pequena cidade francesa que se passa a história de Rose e Louis. Ele procura uma secretária, o emprego mais cobiçado das moças da época e ela se candidata junto com outras dezenas.
Desde pequena a paixão pela máquina de escrever
Rose é péssima secretária, realmente muito ruim, mas tem o dom de datilografar muito rápido e chama a atenção de Louis, principalmente por conta de um torneio estadual de rapidez diante de uma máquina de escrever. Pensando no titulo do torneio, Louis contrata Rose.
Rose e Louis
Ambicioso, Louis treina Rose e o resultado aparece - ela vence o torneio estadual e o nacional, disputado em Paris. E se classifica para a finalíssima mundial contra datilógrafas dos EUA, da Alemanha, da Coréia do Norte e mais outros lugares.
Rose disputando o título mundial
De uma forma encantadora pelo conteúdo, pelo colorido da paleta do filme, pelos cenários, pela trilha sonora escolhida a dedo, A Datilógrafa conta uma história de amor com um tom de comédia do passado, leve e escapista. Vale para aqueles sábados a tarde de chuva fina e cobertor no sofá da sala.
R.I.P.D. - AGENTES DO ALÉM (R.I.P.D. / 2013) - Em 2003 Peter Lankov lançou pela Dark Horse uma graphic novel, que ficou famosa pelo conteúdo cômico e absurdo, ao mesmo tempo que trazia um forte clima de suspense e ação policial. Se chama R.I.P.D. - Rest In Peace Departament. A história trata de uma corporação formada apenas por policias mortos trabalhando numa delegacia de polícia do além, prestando serviço no mundo dos vivos. Dez anos depois o diretor Robert Schwentke se viu com o dever de transpor aquelas páginas para a telona, para isso convocou Ryan Reynolds e Jeff Bridges para viver a dupla de policiais do além, além de Kevin Bacon, mais uma vez vivendo um vilão.
Personagens da Graphic Novel...
... personagens do filme.
Trabalhando para a R.I.P.D., a dupla tem que descer à Terra e capturar os undeads, uma raça de mortos que ainda vagam entre nós e se recusam a descer para o inferno para cumprir a pena pelos crimes que cometeram em vida. A coisa passa a se complicar quando os undeads criam um plano para abrir um portal e reverter a ordem natural da vida, dessa forma os mortos retornariam do inferno para o mundo dos vivos.
"Undead"
Logo que é morto por seu parceiro, Nick (Ryan Reynolds) vê tudo paralisado como se o mundo tivesse parado naquele segundo. Ainda na surpresa do acontecido ele acaba sendo puxado para o céu, passa por algumas camadas, como o inferno, o limbo, o purgatório e chega numa sala pequena e toda branca onde se vê diante de uma mulher que lhe explica a sua situação - "você está morto e agora trabalha para a R.I.P.D.", e ainda lhe apresenta seu novo parceiro, o cowboy de poucos modos Roy (Jeff Bridges).
Na "Delegacia de Polícia" a primeira impressão entre os parceiros não é das melhores
A princípio a parceira não é das mais fáceis, eles não se entendem. Mesmo estando mortos eles conseguem conversar e interagir com qualquer pessoa viva, só que para isso eles assumem uma identidade totalmente diferente das que tinham em vida.
É assim que Reynolds e Bridges são vistos pelos vivos
Kevin Bacon mais uma vez vive o cara a não ser confiado
Apesar de ser um divertido passatempo o filme não funciona em sua principal aposta - a química da dupla Bridges-Reynolds, como funcionou tão bem na trilogia MIB com Will Smith e Tommy Lee Jones. Em R.I.P.D.Bridges parece incomodado, não está à vontade apesar de lhe cair como uma luva o xerifão mal humorado. Enquanto Ryan Reynolds também não se encaixa bem no papel, ele não é naturalmente engraçado como pede a personagem. Por algum motivo a dupla não funciona e o filme não decola.
A quíímica não rolou
A ponta para uma sequência fica clara ao final, mas como não fez muito barulho não parece haver sequência. Nunca se sabe. De qualquer forma R.I.P.D. - Agentes do Além tem um argumento ótimo, é realmente uma ideia muito boa, quem sabe com uma sequência eles concertem alguns equívocos aqui e ali, de repente com a inserção de um terceiro grande nome e façam um filme que funcione por completo. Estamos no aguardo.
Veja abaixo o trailer de R.I.P.D. - Agentes do Além.
Cate Blanchett ganha todos os prêmios com sua Jasmine
BLUE JASMINE (2013) - Quem já assistiu documentários como "Wild Man Blues" de Barbara Kopple de 1997, "Woody Allen: Um Documentário" de Robert B. Weide de 2012 ou qualquer outro filme biográfico sobre Woody Allen já sabe disso. Quem já leu qualquer livro como "Conversas com Woody Allen" ou qualquer outro biográfico também já sabe disso. Woody nunca escondeu - na essência ele é um escritor. Não só por conta dos seus cinco livros publicados (O Nada e Mais Alguma Coisa, Adultérios, Cuca Fundida, Sem Plumas e Que Loucura!), ele próprio gosta de se definir assim. Talvez por isso ele tenha feito uma descarada homenagem a Tennessee Williams, um dos seus escritores ídolos em Blue Jasmine.
Blanche Dubois, papel de Leigh no filme de 1951, ficou famosa pela sua dramaticidade e seus delírios dos tempos em que era rica. Virou alcoólatra e ficou louca. Assim como Jasmine.
Jasmine e Blanche - homenagem
Cate Blanchett, que merece todos os inúmeros prêmios que recebeu pela interpretação de Jasmine, faz uma mulher da alta sociedade casada com Hal (Alec Baldwin), um investidor de sucesso que não para de fazer dinheiro.
Mimada pelo marido
Quando se descobre que a forma que Hal enriquece é ilícita, Jasmine cai no desespero, é obrigada a se desvencilhar de uma hora para outra de todos os seus bens, Hal perde tudo, é preso e se enforca na cadeia. A vida desmorona ao redor de Jasmine que acaba por sofrer um colapso nervoso, bebe cada vez mais e caminha falando sozinha pelas ruas.
Jasmine perde tudo, inclusive a si própria
Acaba buscando ajuda da irmã Ginger e vai passar alguns tempos com ela. Com seus delírios de ex-rica, Jasmine abala a vida de Ginger que mora com o namorado Augie e dois filhos. Augie perde todo o dinheiro que tinha apostado nos investimentos de Hal e por isso abandona Ginger. Essa começa a namorar o truculento Chili, que tampouco se dá com Jasmine.
Jasmine ao lado da irmã e de Chili, à direita
Jasmine é como um Rei Midas ao avesso, tudo o que ela encosta dá errado e acaba sentada num banco de praça falando sozinha, lembrando dos tempos que tinha tudo e vivia de esbanjar.
Ao lado da irmã Ginger
Um roteiro inteligente e uma montagem simples, porém eficiente, fazem de Blue Jasmine um dos grandes momentos do cinema recente de Woody Allen. A eficiência da montagem está na leveza com que a história flutua entre o presente e o passado de Jasmine. Cenas curtas dela rica no passado e pobre no presente permeiam todo o filme, pequenos ganchos aqui e ali deixam a história fluida, prendem a atenção enquanto desvendam para onde Jasmine vai, mostrando ao mesmo tempo como chegou àquela condição.
Depois da morte do marido Jasmine tenta outros namorados, mas nada funciona
Blue Jasmine rendeu o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Atriz para Cate Blanchett, o filme teve ainda outras 33 indicações em outros prêmios, faturou 25 (23 deles para a interpretação de Cate Blanchett). Imperdível para fãs de Woody, de um bom roteiro e de ótimas interpretações.