quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

WHIPLASH - EM BUSCA DA PERFEIÇÃO (2014)

O professor, o carrasco, o dono do filme

WHIPLASH - EM BUSCA DA PERFEIÇÃO (Whiplash / 2014) - Damien Chazelle é amante de música, sempre sonhou em se tornar um bom baterista. Estudou, se esforçou, tocou mas nunca foi além do sonho. Desistiu de se tornar músico e passou a escrever histórias. Uma delas é baseada na sua própria trajetória e se tornou um sucesso como curta metragem no Festival de Sundance de 2013. Damien ganhou um dinheirinho com o curta e resolveu fazer dele um longa. Nasceu aí Whiplash - Em Busca da Perfeição.

Não basta ser bom, tem que ser perfeito

Damien, além do roteiro, assina a direção desse filme minimalista sobre a relação conturbada de um baterista, que só pensa no sucesso, e o professor da escola de música mais renomada do país, que é um verdadeiro carrasco. O papel de Andrew, o baterista, fica a cargo de um jovem desconhecido - Milles Teller -, mas que até pode colher alguns bons frutos da interpretação de um jovem irritante e ambicioso, disposto a pagar qualquer preço para ver seu sonho realizado - o de se tornar o maior baterista de jazz da história.

Andrew e seu sonho

Seu pai é vivido por Paul Reiser, mais conhecido pela série cômica Mad About You, que fez sucesso na TV entre os anos de 1992 e 1999. Outro papel menor mas de grande importância na trama, fica com Melissa Benoist, a menina por quem Andrew tem uma queda e tenta um relacionamento. Eles são os pontos que mantêm Andrew preso à Terra, e que segundo ele, o atrapalham e impedem de alcançar seus objetivos.

Pai e filho, se distanciando

Aí chegamos ao professor da banda, Fletcher, vivido por J. K. Simmons. O cara mereceu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Com folga. Ele é vivo, é a alma do filme, o que nos mantém presos e empolgados pela próxima cena. A sua atuação é precisa, temerária. Só o olhar já dá o recado, mas quando solta o verbo o temor se transforma em medo. Dá pra sentir isso nos atores, na maioria jovens, com quem ele contracena. A sua personificação de Fletcher é soberba, é o que nos faz querer ver e rever o filme outras vezes. 

Perfeição

Em Whiplash - Em Busca da Perfeição, mais uma vez nos vemos naquele embate "aluno esforçado X professor carrasco" de tantos e tantos filmes, mas aqui tem um algo a mais, um diferencial, a atuação de J. K. Simmons.
Veja abaixo o trailer de Whiplash - Em Busca da Perfeição.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

BOYHOOD - DA INFÂNCIA A JUVENTUDE (2014)

Um menino introspectivo e sonhador
BOYHOOD - DA INFÂNCIA À JUVENTUDE (Boyhood / 2014) - Richard Linklater não é um cineasta comum. E portanto não realiza filmes comuns. Palmas para ele por isso. Entre eles se destacam a trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia-Noite, filmes de autor baseado somente no encontro casual entre dois desconhecidos, os ótimos diálogos serviram de inspiração para tantos outros filmes. O diretor também inovou ao utilizar a técnica de rotoscópio, que é o desenho sobre cenas previamente gravadas, em filmes como Waking Life e O Homem Duplo. A inovação continua pautando a carreira de Linklater, desta vez com o festejado Boyhood - Da Infância à Juventude.

Linklater em ação

O filme foi gravado com o mesmo elenco, um pouquinho a cada ano, com início em maio de 2002 e término em agosto de 2013. A ideia é mostrar a evolução do menino Mason, vivido por Ellar Coltrane, até se tornar um adolescente e depois um quase adulto.

A evolução na tela

Seus pais são separados e interpretados por Ethan Hawke e Patricia Arquette. Ele, se aventurando, sem emprego fixo, ostentando um carro potente e ela fazendo o papel de mãe e pai, educando os filhos, segurando a barra de criar Mason e Samantha, sua irmã, interpretada por Lorelei Linklater, a filha do diretor.

Filha e mãe em cena

Técnicamente o filme é perfeito, o roteiro nos leva pelas desventuras de Mason com seus melhores amigos da escola, do colégio e das casas onde mora - sua mãe se vê obrigada a mudar de residência e seus filhos de escola por conta de desencontros da vida, entre eles seus namorados, geralmente errantes, bêbados e violentos. Nos finais de semana que passam com o pai, os filhos geralmente viajam, acampam, se divertem no boliche.

Pai tenta puxar papo com o filho, calado

Da escola pro colégio, do colégio para a entrada na faculdade, amores intensos que somem do nada, amizades duradouras de poucos meses, até a fase pré adulta onde tudo muda e outra vida começa. Boyhood acaba do mesmo jeito que começa, com Mason olhando o céu, imaginando como será o depois.

A cena final, o início de uma nova fase

Linklater se preocupou em fazer um filme fincado na realidade com poucos ou nenhum ponto de virada no roteiro, não há uma doença na família, ou morte, ou namoro ou amizade intensa que mude algum planejamento, nada. O filme começa e termina como uma linha única, reta e sem mudanças de direção, como uma viagem por uma estrada lisa, sem fim e sem carros ao redor. Parece como a vida da maioria de cada um de nós e por isso por vezes é tedioso e para cinema não funciona muito. 
Veja abaixo o trailer de Boyhood - da Infância à Adolescência.



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

NOSSA QUERIDA FREDA (2013)

Freda, uma mulher de sorte

NOSSA QUERIDA FREDA (Good Ol' Freda - 2013) - Alguém teria coragem de questionar a genialidade de figuras como John Lennon, Paul McCartney e George Harrison? Difícil... O Ringo não  é um gênio, mas quem conhece a história dos Beatles sabe, eles nunca seriam o que foram se não fosse pelo baterista e seu espírito, no mínimo, divertido. Como músico Ringo, não tenho medo de afirmar, levou muita sorte.

Querida por todos

Sorte parecida levou o diretor Ryan White, que praticamente recebeu dos céus a história de Freda Kelly. Ela se manteve calada sobre a sua vida desde o início dos anos 70, mas tudo mudou quando Freda virou avó e pensou: "tenho que contar para o meu neto a história da minha vida". Por acaso os fatos chegaram aos ouvidos de Ryan, jovem cineasta que pensou em fazer um filme pequeno para Freda guardar em DVD. Conforme as pessoas foram ouvindo a história, convenceram Ryan a fazer do filme um longa e assim nasceu Nossa Querida Freda.

Fotos caseiras, ao lado de Ringo e George

Freda era uma adolescente no início dos anos 60, quando começou a frequentar o Cavern para ouvir os Beatles, que ainda contava com Pete Best na bateria. Ele ia todos os dias ao bar, chegava antes de todo mundo e ficava lá na frente, trocava algumas palavras com os músicos e chegava a fazer pedidos de música. Se tornou íntima deles. Ela estima que ao todo assistiu 190 das 292 apresentações dos Beatles no Cavern.

Ao lado de Ringo e Maureen, esposa do baterista

Brian Epstein, manager da banda, convidou a jovem simpática, de sorriso fácil, para a função de secretária da banda, já que no período havia caído nas graças dos rapazes. Ela inclusive datilografava. Permaneceu no cargo até depois do final da banda, oficialmente em 1970.

Durante "Magical Mystery Tour"

Freda conta no documentário que participava ativamente das vidas privadas dos integrantes, se tornou amiga pessoal das famílias, principalmente da de Ringo. Ela indicou o endereço da própria residência como sede do fã clube oficial dos Beatles, recebia milhares de cartas todos os dias e se via na obrigação de satisfazer os pedidos da fãs,  geralmente cabelos ou pedaços de roupas dos Fabfour. Outras ainda iam além, mandavam lençol e pediam que o Beatle favorito dormisse nele, só para o pano ficar com o cheirinho. Freda recebia e atendia, conforme ela mesmo diz, todos os pedidos.

Ao lado de Paul

Apesar da riqueza enorme que um documentário desse pode conter, o produto principal (a história da própria Freda), foi muito mal aproveitado por Ryan. Claramente a impressão que fica é que se ele tivesse a oportunidade de refazer esse documentário quando fosse mais maduro como cineasta, sairia algo melhor. Ou ainda, se a história caísse no colo de um cineasta mais experiente, o longa seria bem mais interessante de ser assistido.

Ela estava lá, sempre

Nossa Querida Freda é um filme fraco. Se você já tem algum conhecimento mais aprofundado da história dos Beatles vai terminar o filme com a sensação de que ele poderia ter ido mais fundo, o resultado é raso. A personagem, muitas vezes, não ajuda. Ela se orgulha da sua vida, mas é muito retraída, não parece se abrir com facilidade, tudo para ela parece banal demais "É, o John isso...", "O Paul aquilo..."

Ainda jovem, em uma das inúmeras entrevistas que deu

No momento mais forte do filme, Freda sobe ao sotão e revela caixas e mais caixas de material do fã clube que ela ainda guarda em sua casa, produtos de valor inestimado para qualquer fã da banda, mas que estão mofando no sotão de uma senhora. Qualquer um ficaria horas e mais horas ali desvendando objeto por objeto, mas Ryan decidiu não fazer bom proveito daquilo, foi uma rápida passada, tirou uma ou outra história do sotão e abandonou aquele tesouro. Pobre...

Freda hoje

Pouco se ouve da música original dos Beatles no filme, muito pela dificuldade que é conseguir os direitos das músicas. Mas incomoda a falta que o som da banda faz em alguns momentos, o diretor preferiu até usar outras bandas tocando. Não orna. Altas expectativas para um filme tão fraco, até tecnicamente. Os Beatles, e até a própria Freda, mereciam um registro melhor.
Veja abaixo o trailer de Nossa Querida Freda.  


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

BIRDMAN OU A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA (2014)

O herói que assombra o anti-herói

BIRDMAN OU A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA (Birdman / 2014) - Você conhece a Cha Cha Cha Films? Pois deveria... Ela não é das produtoras de cinema mais atuantes do mercado, longe disso, mas é o ponto comum de três dos maiores cineastas (que é muito mais do que simplesmente "diretores") da atualidade, sem dúvida. Alfonso Cuarón, Guillermo Del Toro e Alejandro González Iñarritú são responsáveis por obras como O Labirinto do Fauno, 21 Gramas, Hellboy, Amores Brutos, Filhos da Esperança, Biutiful, Gravidade... É muita coisa boa. Eles tem a mesma faixa etária, começaram no cinema juntos, são amigos e cada um segue um caminho mais brilhante do que o outro. Ainda bem.

Keaton e Iñarritú

Birdman, dirigido por Iñarritú, é o filme da vez, junto com O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson. Ambos estão concorrendo em 9 categorias no Oscar. Birdman conta a história de um ator que quer provar ser bom ao dirigir e atuar numa peça da Broadway. Ele está cansado de ser apenas reconhecido por ter atuado num filme de super-herói há quase 20 anos. Papel perfeito para Michael Keaton, que vestiu o traje do Batman nos filmes dirigidos por Tim Burton em 1989 e 1992. Qualquer semelhança aqui não é mera coincidência.

Criador e criatura
Riggan, o ator interpretado por Keaton, ainda sofre com os conturbados relacionamentos, principalmente com a filha (a sempre ótima Emma Stone, embora ache que a indicação dela ao Oscar de atriz coadjuvante seja um pouco demais) e Mike (vivido magistralmente por um sempre ótimo Edward Norton). Zach Galifianakis surpreende em um papel sério e Naomi Watts, desta vez, não rouba a cena.

Norton, Iñarritú e Stone - o melhor de Birdman juntos

São três pontos principais que, na minha opinião, formam a força motriz de Birdman. Em primeiro lugar Edward Norton, que está ótimo. Irritante, petulante e impulsivo (extamante da forma como muitos os descrevem na vida pessoal). Aliás a "semelhança" entre o ator e o personagem foi um dos atrativos para Norton. Caberia bem um Oscar, que seria seu primeiro depois de outras duas indicações - As Duas Faces de um Crime de 1996 e A Outra História Americana de 1998.

Mike, o dono do filme, encurralando Riggan

O segundo ponto importante que garante o sucesso de Birdman é Michael Keaton. Ele não está genial, longe disso (inclusive, a meu ver, ele não merece um Oscar por este filme), mas o fato dele ter aceitado interpretar um personagem tão parecido com ele mesmo (um ator, apenas reconhecido por um papel de super herói, há 20 anos, buscando se provar), é um mérito. Isso nem sempre garante reconhecimento pelos velhinhos da Academia, o exemplo mais recente é o erro (a meu ver) da premiação de 2009 quando Mickey Rourke interpretou o papel da sua vida em O Lutador e foi derrotado por Sean Penn em Milk - A Voz da Igualdade.

Em 2009 no Oscar de melhor ator - uma ótima atuação contra o papel da vida.

O terceiro e mais importante trunfo de Birdman está na forma como Iñarritú escolheu para contar a história. É tudo gravado em plano sequência, mal notamos os cortes, o que faz do processo todo um desafio gigante para produção e atores e facilita bastante a captação e a finalização, todo o filme foi filmado em menos de um mês e editado em duas semanas. Processo parecido foi utilizado em filmes como Festim Diabólico de Hitchcock, de 1948, e Arca Russa de 2002.

A engenhosidade de Iñarritú no seu plano-sequência de quase duas horas 

Merecedor ou não das nove indicações ao Oscar fica a cada um discutir. Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância é sim um belo filme, provocativo e divertido que trouxe à tona um profundo sentimento de coragem, principalmente de Keaton por se expor num papel que lhe renderá comparações eternas. Veja abaixo o trailer de Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância: