quarta-feira, 28 de setembro de 2016

BOA NOITE E BOA SORTE (2005)

Um produtor executivo e toda equipe com a carreira à prêmio

BOA NOITE E BOA SORTE (Good Night and Good Luck / 2005) - As feridas abertas de uma nação. No caso dos Estados Unidos uma delas é a caça às bruxas que o país empreendeu na década de 50 contra os comunistas, que o governo acreditava, e plantou para ser uma grande ameaça à família e ao cidadão de bem.

Um jornalista destemido e peitando o todo poderoso senador

O senador Joseph McCarthy foi durante bom tempo, o grande responsável por executar a caça aos comunistas e o fazia de forma implacável investigando e interrogando cidadãos - conhecidos ou não - ao menor indício de serem membros do partido ou mesmo simpatizantes.

Uma equipe... comunista???

Boa Noite e Boa Sorte conta a história real de um apresentador de um programa noticioso chamado "See It Now" da CBS que questionava abertamente os métodos do senador McCarthy e por isso foi acusado de ser comunista. O jornalista e apresentador do programa, Edward Murrow, é interpretado por David Strathairn, que tem aqui o grande papel da carreira.

Apresentando o programa sem deixar o cigarrinho de lado

George Clooney, que também assina a direção do longa (e recebeu uma indicação ao Oscar nesta categoria por Boa Noite e Boa Sorte), interpreta Friendly, uma espécie de editor chefe do programa, que comanda as ações nas reuniões de pautas e durante as gravações no estúdio.

O diretor Clooney

Murrow, um jornalista incomodado e indignado com a postura e os métodos do senador McCarthy, tira proveito do seu grande prestígio junto ao público norte americano para não ter receio e dizer tudo o que pensa sobre o caçador de comunistas. A resposta é imediata e vem direto da Suprema Corte. A emissora CBS também é atingida e o programa perde patrocinadores.

A direção da emissora preocupada com a postura questionadora do jornalista 

Uma grande força de Boa Noite e Boa Sorte está na escolha do preto e branco, o que contribui para um aspecto cru e seco, combinando muito bem com o jeitão de Murrow. A ausência de cor retrata também o medo que a população norte americana sentia ao se imaginar cercada pelo "perigo comunista", como o governo fazia as pessoas acreditarem na época.

Os bastidores da televisão

Clooney foi genial ao usar muito bem as imagens reais dos julgamentos dos "espiões" comunistas e dos depoimentos de McCarthy quando pediu direito de resposta à CBS. Isso acrescenta muito a um filme. Abaixo vídeos originais de abril de 1954 - o primeiro é o programa "See It Now" na íntegra com o senador McCarthy se defendendo e mais abaixo a resposta de Edward Murrow, os dois vídeos que inspiraram o enredo de Boa Noite e Boa Sorte.





Vale pelos bastidores de uma redação de TV e de um programa de TV da década de cinquenta, vale também para ver como os bastidores de um programa formador de opinião pode ser complexo, com pessoas e opiniões sendo postas frente à frente o tempo todo, a cada programa. Um filme com um tema interessante, mas que por vezes pecou na cadência, com quebras de ritmo em alguns momentos, deixando-o um pouco arrastado. 
Veja abaixo o trailer de Boa Noite e Boa Sorte.


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

ONDE VIVEM OS MONSTROS (2009)

Olho no olho

ONDE VIVEM OS MONSTROS (Where the Wild Things Are / 2009) - É sempre bom pessoas que pensam diferente do usual, inovadores. Geralmente essas pessoas são tão confiantes nas suas ideias que não temem colocá-las em prática, muitos vezes quebrando a cara. Outras não. Spike Jonze é uma dessas mentes brilhantes do audiovisual. Ele fez o nome dirigindo videoclipes inovadores das mais diversas bandas como Foo Fighters, Sonic Youth, Björk, Fatboy Slim, Beastie Boys, REM, Chemical Brothers e mais um incontável número de filmes de skate.

Jonze carrega o protagonista mirim
Jonze entrou no mundo da sétima arte fazendo algumas pontas como roteirista e até atuando, como em Vidas em Jogo de 1997. A criatividade em excesso levaram Jonze rapidinho a cadeira de direção em filmes como Adaptação, Quero Ser John Malkovich e Ela. Todos com muito sucesso. Onde Vivem os Monstros fica no meio termo.

A difícil relação entre uma mãe e o menino que não quer crescer

A história gira em torno de Max, um menino de 7 anos muito mimado e irritante. Ele passa o dia tentando atrair a atenção da mãe e da irmã que já está na pré adolescência. Max vive gritando, se veste como um lobo e passa a se comportar como um bebê, só quer saber de atenção.

Menino chato

O comportamento piora quando ele percebe que a mãe está acompanhada do namorado, vivido por Mark Ruffalo em pequena participação.

Pequena participação de Mark Ruffalo

Irritado e enciumado, Max morde a mãe, toma uma bronca e foge de casa. Acaba no mar e chega a uma ilha com silhuetas grandes se movimentando ao fundo no meio das árvores. Max, curioso, chega perto e vê grandes monstros. Ele não se assusta e se torna amigo deles. É proclamado rei da ilha e idolatrado por todos aqueles grandes bichões.

Max é o rei dos monstros

A amizade cresce muito. Os monstros funcionam como alter ego de Max, os defeitos e qualidades dos bichos são os mesmos do garoto. Na ilha ele acaba por perceber que há muito a ser mudado para se crescer e amadurecer.

Max e Carol são melhores amigos

Alguns dias se passam e Max sente saudades de casa. Volta e é recebido pela mãe que nada questiona. Um grande abraço é dado, nenhuma palavra é dita. E o filme acaba.

Max e o inseguro Alexander

Onde Vivem os Monstros surpreende pelos efeitos perfeitos dos monstros, pouco se nota o CGI. Os bichões tem sentimento, expressões, emoção, olhar, tudo muito bem desenvolvido. Esse é o grande barato do longa do Spike Jonze. E digo sem medo, o único.

Sentimentais

O problema está em Max. Ele é tão irritante que dá vontade de torcer contra ele o tempo todo. A vivência que ele adquiriu na ilha e a forma como se entrega à mãe sem rancor ou tristeza mostram que Max amadureceu. O filme é baseado num livre de enorme sucesso lançado na década de 60 que possui ilustrações que serviram de base para Jonze criar os bichões.

Um dos desenhos do livro
Veja abaixo o trailer de Onde Vivem os Monstros.                                   



sábado, 10 de setembro de 2016

ÚLTIMO TANGO EM PARIS (1972)

Dois desconhecidos 

ÚLTIMO TANGO EM PARIS (Last Tango in Paris / 1972) - Início da década de 70. O diretor italiano Bernardo Bertolucci - que ainda não tinha lá um nome muito forte fora do seu país - convidou um astro de primeira grandeza do cinema, Marlon Brando - que já tinha feito filmes como O Selvagem, Sindicato de Ladrões, Uma Rua Chamada Pecado e estava filmando o primeiro O Poderoso Chefão - para fazer um filme de arte com uma atriz francesa novata de 19 anos. Brando topou.

Um apartamento vazio - o local da fantasia

Duas pessoas desconhecidas - interpretados por Marlon Brando e Maria Schneider - se cruzam pelas ruas de uma Paris pouco glamorosa, longe da Torre Eiffel e do Arco do Triunfo. O homem parece agoniado e distante, ela se interessa. Momentos depois ela aluga um apartamento e ele está lá dentro, na penumbra. Sem meias palavras eles se abraçam, se beijam ferozmente e transam ali mesmo no chão do apartamento sem mobília.

Uma relação quente e sem culpa

Começa um jogo de regras claras - dentro do apartamento eles não tem nomes, nem passado e nem presente, apenas viverão intensamente aqueles momentos. Naquela relação nada é sensual, pelo contrário, é sexual, na carne.

Íntimos em pouco tempo

Fora de lá cada um leva a sua vida. Paul está amargurado porque sua esposa acaba de se suicidar no pequeno hotel de propriedade da família. A mãe dele vem visitá-lo e ajuda aos poucos a superar o duro momento. Ele revela em outro momento que é estéril e completamente sozinho, não sabe o que faz em Paris e ao mesmo tempo não tem ambição alguma de voltar pros Estados Unidos.

Paul conversa com a esposa morta, um homem transtornado

Jeanne é novinha de tudo. Tem um namorado, tão novo quanto, que sonha em ser cineasta e fazer um documentário sobre a namorada e as mulheres em geral. Ao mesmo tempo que ela se sente segura com o namorado, ela se sente intrigada com aquele americano esquisito e calado.

Estilosa e à procura de aventuras

A relação do casal improvável no apartamento se estreita. Poucas palavras, muito sexo e cenas marcantes. Como a da manteiga e a dos dedos de Jeanne, cenas que fizeram com que o filme fosse proibido por muito tempo em diversos países. No Brasil mesmo demorou quase dez anos para ser lançado.

A "cena dos dedos"

A famosa cena do sexo anal usando manteiga causou controvérsia no momento da gravação. Schneider conta em entrevista que a cena não existia no roteiro, Brando havia sugerido e Bertolucci embarcou. Envergonhada e jovem demais para se negar, Schneider fez a cena, mas se arrependeu profundamente. Humilhada, ela chorou. Diz ela, que as lágrimas na cena são reais.

A "cena da manteiga" com lágrimas verdadeiras

A aventura sexual dos dois desconhecidos - um fetiche como definido pelo próprio Bertolucci - tem fim na iminente tragédia final. O enorme barulho que fez na época - mais de choque do público do que sucesso - fez do filme o que ele é, mas é inegável que Último Tango em Paris se mostrou em erro na carreira dos principais envolvidos. Bertolucci foi caçado na Itália, condenado à prisão e perdeu vários direitos civis devido à obscenidade excessiva e gratuita, Brando disse anos depois que o filme foi uma experiência ruim. Schneider se sentiu violentada e disse que o filme desgraçou a sua carreira, jamais deveria ter aceitado fazer o que te pediram na época.

Brando e Bertolucci, Schneider ao fundo

Vendo hoje, mais de 40 anos depois do lançamento, Último Tango em Paris não choca e por vezes irrita. Na época o choque foi grande, mas visto com os olhos de hoje não empolga.
Veja abaixo o trailer de Último Tango em Paris.