O LAR DAS CRIANÇAS PECULIARES (Miss Peregrine´s Home for Peculiar Children / 2016) - É sempre mais legal ler um livro antes de ver o filme. Não importa a história. Assim você imagina tudo antes de assistir o que outra pessoa imaginou. Mas é claro, algumas vezes é normal se decepcionar e ver algo diferente do que se imaginou ou se surpreender com um filme que é melhor do que um livro (são raros mas existem). No caso de O Lar das Crianças Peculiares a regra é confirmada, o livro é muito melhor do que o filme de Tim Burton.
A trilogia de livros
Ramson Riggs criou a história de Jake, um jovem que sempre ouviu do avô as histórias fantásticas sobre crianças com poderes peculiares que viviam em um orfanato numa ilha do País de Gales. Quando o avô é morto por forças inexplicáveis, Jake segue para a tal ilha em busca de respostas. Através de uma série de eventos ele descobre algo como uma fenda que o transporta para o ano de 1940 (1943 no filme) e lá ele encontra o tal orfanato e as crianças peculiares. Como um Peter Pan moderno, Jake passa a entrar e sair daquela fenda, se transportando de 2016 para 1940, na medida em que cresce a sua paixonite por uma das peculiares. Tudo vai bem, até eles descobrirem que são caçados pelas tais forças inexplicáveis.
O Jake do filme do Tim Burton
Basicamente é história é essa. E o livro é empolgante, divertido, muito bem escrito e ilustrado com fotos que mostrariam os peculiares e toda a vida dos principais personagens da trama. Um livro difícil de largar quando se começa a ler.
Miss Peregrine (Eva Green)
Mas o filme... bem, o roteiro de Jane Goldman teve que adaptar muita coisa para deixá-lo mais cinematográfico e claro, perdeu muita coisa. Algumas até certo ponto irrelevantes, mas outras essenciais!
SPOILERS (ou o que tem no livro e foi mudado ou não tem no filme)
A relação entre Jake e o avô, e entre o avô e o pai não existe no filme. Você não acredita que eles se amam apesar das diferenças gritantes de personalidade. A psicóloga é uma mulher no filme e não um homem e isso pode parecer bobo, mas faz toda diferença, porque no livro explica muito melhor a questão dos etéreos e acólitos, os vilões da história.
Um etéreo e seus olhos brilhantes
As motivações dos acólitos e etéreos aliás no livro era muito mais ambiciosa, nada a ver com aquelas coisas de eles se alimentarem dos olhos das vítimas. O etéreo que persegue Jake e descobre a fenda é uma pessoa que o está observando há décadas, desde os tempos de escola, mas no filme isso não existe.
A busca pelos olhos dos peculiares, segundo o filme
Emma tem o poder do fogo, nada a ver com o ar (ou flutuar), que é o poder da Olive. No filme os poderes são invertidos, descaracterizando completamente as duas personagens. E porque??? Sem falar que o roteiro cria um namorico entre Claire e Enoch, o que desperta o ciúme de Jake...
O poder de Emma no filme é controlar ar
Quando fora da fenda as crianças peculiares envelhecem rapidamente igual a maçã no livro (que virou uma rosa no filme), mas isso é totalmente ignorado no filme. Elas passam boa parte do tempo final do longa metragem em 2016 sem qualquer dano à elas. Isso era essencial para a história.
Quando saem da fenda deveriam perecer, mas...
A batalha final entre o psicólogo (reforço, no livro é homem) e Jake e Emma é no farol da ilha com um revólver 38 e uma gaiola com Miss Peregrine presa lá dentro. Tiros são disparados, Millard (o menino invisível é atingido) e há uma disputa no alto do farol com a gaiola sendo arremessada lá de cima. É algo mais cru, mais simplista, mas Burton quis dar aquele tom cinematográfico e arrancou tudo isso. Criou a fenda no parque de diversões em janeiro de 2016 e colocou todas as crianças para jogarem bolas de neve nos etéreos gigantões para que eles pudessem ser vistos. Sem falar que a fenda de janeiro de 2016 permite que Jake veja sempre o avô vivo, no livro (pelo menos no primeiro da trilogia) ele está morto e não dá nenhum sinal de que ele possa ser revisitado pelo neto.
Jake segura Emma para não voar por aí
Isso sem falar no pano de fundo da Segunda Guerra Mundial, que deu ao livro um aspecto tão real, como se fosse um realismo fantástico, como O Labirinto do Fauno fez com o terror durante a ditadura Franco. Mas Burton quase ignorou a Guerra e transformou um dos pontos altos do livro, em um filme juvenil, cheio de esquisitices e alguns acertinhos aqui e acolá.
Claire e sua boca na nuca
Pôxa... e tantas outras coisas que deixei escapar aqui, mas muito mais foi mudado.
Tim Burton usou o filme para mostrar as suas esquisitices, mas quanto a história em si...
Mas para alguém que como eu, estava com o livro de Riggs fresco na cabeça - terminei de lê-lo na véspera da estreia - a decepção foi grande porque apesar do filme ter os seus méritos estão MUITO abaixo do livro. O que acontece com Burton? Ele precisa rever os roteiristas que contrata ou está assumindo uma fase decadente na carreira?
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