MENTES PERIGOSAS (Dangerous Minds / 1995) - Uma oficial da marinha que se torna professora de uma escola de periferia e ajuda os alunos problemáticos a verem que a vida pode ser melhor. LouAnne Johnson é o nome dessa mulher que resolveu colocar sua história num livro que acabou se tornando um filme de muito sucesso - Mentes Perigosas.
Johnson (Pfeiffer) chega na tal escola e passa a dar aula para uma turma com alunos negros e hispânicos envolvidos com drogas, gangues e problemas familiares diversos. Eles não se interessam por aprendizado, passam os dias cantando, dançando e brigando. Não respeitam qualquer tipo de autoridade, principalmente uma professora loirinha de olhos claros, frágil, que acaba de entrar na sala. Mas ela prova o contrário e mostra uma força que não se imaginava nela e blá-blá-blá.
Moça de boa lábia
Os problemas de Mentes Perigosas saltam à tela. A personagem de Pfeiffer não é forte, o roteiro não lhe dá qualquer mérito no convencimento daqueles alunos - para se ter uma ideia ela ganha a confiança deles dando bolinhos para quem acertar a resposta da pergunta, como se fossem animais amestrados. Ah, faça-o me favor...
Ganhando a confiança
Mentes Perigosas é um filme formatado, editado para agradar apenas uma parte da audiência - os brancos - e apenas confirma os estereótipos criados para os mais pobres e humildes. Pense comigo - Pfeiffer é branca, loira, de olhos azuis, e se vê no meio de alunos negros e hispânicos que no final, aprendem com ela e graças a ela.
Ensinando fora da escola também
E mais, ela ensina poesia aos alunos citando "Mr. Tambourine Man" de Bob Dylan. Uma mudança bizarra se comparada com o que aconteceu na vida real (e no livro). A Johnson real usou Public Enemy - famosa banda de rap - para ensinar os alunos que já curtiam esse tipo de música. Mas o estúdio mudou para Bob Dylan, com medo de que a audiência não reconhecesse o rap de Public Enemy como arte. E olha que o filme tem um canção tema que fez enorme sucesso - a "Gangsta´s Paradise".
CORRA! (Get Out / 2017) - Jordan Peele estreou na cadeira de direção depois de anos e anos como redator e ator de esquetes cômicas. E foi justamente através de uma peça de comédia que ele tirou a ideia de Corra!. Sim, é isso mesmo. Eddie Murphy em um dos seus stand-ups na década de 80 contava uma piada sobre a relação dos brancos com figuras/momentos assustadores à noite e o terror em geral. Foi daí que Peele sacou que daria uma boa ideia colocar outros elementos em cena. Acredite, Murphy chegou a ser cotado para estrelar Corra!, mas Peele mudou de ideia.
Peele em ação
Corra! conta a história de Chris, um rapaz negro (Daniel Kaluuya) que está indo conhecer os pais da namorada Rose em uma casa no meio da floresta. Como se já não bastasse a tensão de tal evento, Chris começa a reparar que lá as coisas não são muito normais. O pai dela é neurocirurgião e a mãe psiquiatra/psicóloga especializada em hipnose.
Namorados
Ele repara que os empregados da casa - o jardineiro e a faxineira, ambos negros - são muito estranhos, tem sorrisos forçados, conversam roboticamente... enfim, não aparentam ser normais. Logo depois é convidado pela mãe da namorada para uma sessão de hipnose. Aceita. E daí pra frente Chris descobre algo assustador da família e pior... sem spoilers, ok?
A família de Rose - prestativa
Corra! é genial na medida em que usa de um roteiro dos mais simples para contar uma história de terror - no caso social também - que assusta e incomoda. É daqueles que dá vontade de conversar sobre logo depois de sair do cinema e que ficam com a gente por um tempo ainda. Principalmente a cena mais marcante do longa e que estampa alguns dos cartazes do filme - Chris sentando numa poltrona chorando com os olhos arregalados.
Um dos cartazes do filme - inspiração em O Ódio, longa francês dos anos 90
Aliás, Kaluuya está perfeito no papel. Seu olhar nos diversos momentos em que ele se vê sem saída demonstra tal força qual Lupita Nyong´o mostrou em 12 Anos de Escravidão, filme pelo qual ela levou o Oscar de melhor atriz em 2014. Por falar nisso, Kaluuya concorre ao Oscar de melhor ator. Sinceramente acho que não leva, mas só a indicação já é um reconhecimento e tanto.
Ótimos atores coadjuvantes
Assim como Corra! que conseguiu emplacar outras três indicações na grande noite do cinema - melhor roteiro original, melhor direção e melhor filme. Isso para um filme de terror é um alcance e tanto.
Uma das cenas mais marcantes do longa
O problema de Corra!, a meu ver, é que ousou pouco na conclusão dos pontos que levantou. Explico - apesar do roteiro ser eficiente ao nos passar uma constante claustrofobia, ele peca ao solucionar o caso de uma forma muito simples. Mas isso não estraga a experiência incrível de assistir Corra!, de forma nenhuma.
Veja abaixo o trailer de Corra!
SOB A PELE (Under the Skin / 2013) - Não é exagero afirmar que o diretor inglês Jonathan Glazer se inspira em Stanley Kubrick. Ele mesmo já afirmou isso. Assim como seu ídolo, Glazer gosta de uma pré-produção bem feita, nem que isso leve muito tempo. Nos últimos 13 anos ele lançou apenas 3 filmes, por exemplo. Mas não é só isso. Glazer tem uma linguagem que se aproxima, em alguns momentos, à do Kubrick - ele gosta mais de sugestionar do que explicar. É o que acontece em Sob a Pele.
Um filme com estilo próprio e assinatura
Scarlett Johansson interpreta uma alienígena que tem como missão atrair homens para um local - uma casa abandonada - e lá ela se insinua para eles. Eles - como patinhos - tiram toda a roupa e acabam submergindo num líquido escuro, preto, e lá ficam presos. Acabam sendo "sugados", restando apenas suas peles. Mas há pouco espaço aqui para o jogo sexual. Embora Johansson apareça nua aqui em diversos momentos - é tudo muito cru.
Johansson atraindo vítimas
A mulher sem nome começa a ter problemas quando atrai um homem desfigurado. Não se sabe se ela se arrepende ou se os ETs "chefes", digamos assim, pedem algo a ela. O que aparece no filme é que o homem desfigurado é libertado. Com isso ela parece ter perdido a condição de "caçadoras de seres humanos" e vaga à esmo, sem rumo e sem propósito aqui na Terra.
O homem que, involuntariamente, mudou o jogo
Na parte final do filme, ela - abandonada - se torna a caça dos humanos. Claro que ninguém sabe que se trata de uma alienígena, mas algumas figuras à procura de sexo casual aparecem. E ela - antes fria, indiferente e dominante - passa, ao que parece, a impressão de sentir-se isolada e com medo. É impossível não se sentir mal ao perceber que no fundo o animal chamado ser humano simplesmente não deu certo.
A dificuldade de relação com sere humanos
Scarlett Johansson diz muito com o olhar, já que pouco fala. Mostra desenvoltura em cenas difíceis. Foi testada como atriz - e mulher - como nunca antes na carreira. Se saiu muito bem. E prova que tem talento sim (embora algumas pessoas tenham ainda ressalvas com relação à atriz, como eu por exemplo, admito).
A atriz até que tenta
Sob a Pele tem muito de cinema, puro e simples. Glazer faz muito habilmente o uso de ferramentas cinematográficas que em alguns momentos são simplesmente ignoradas por outros cineastas. Aqui há pouco CGI, Glazer usa muito efeito prático, abusa dos silêncios como forma de contar muito, e claro tem uma trilha sonora incidental que preenche os espaços belamente. Existem coisas que gritam na tela mesmo sem serem ditas. Uma lição que Glazer aprendeu muito bem com seu ídolo Stanley Kubrick.
Veja abaixo o trailer de Sob a Pele.
LOLITA (1962) - Polêmico. Pra dizer o mínimo. Vladimir Nabokov publicou nos recatados anos 50 um livro sobre uma jovem de meros 12 anos e o caso de um amor com um professor que já chegou aos 50. O problema principal aí é que a história toda do livro é contada pela ótica do professor, então em nenhum momento sabemos se a erotização da menina é somente vista pelo professor ou se ela de alguma forma existe. Esta visão é passada integralmente pelo filme dirigido por Stanley Kubrick no começo da década de 60.
Humbert babando em Lolita
Humbert Humbert - sim, este é o curioso o nome do professor de literatura - se aproxima de Charlotte, para ficar mais próximo da filha dela, Dolores, a quem carinhosamente eles chamam de Lolita. James Manson está patético, para dizer o mínimo, como Humbert. Ele é abobalhado, um velho babão principalmente quando divide a cena com Lolita.
Fazendo as unhas da "filha"
Ela por sua vez - interpretada por Sue Lyon que tinha 14 anos na época - está muito bem, passando muita segurança principalmente no olhar e na sua postura em cena. Levou o globo de ouro de atriz revelação. Mas ficou marcada. Sue só conseguiu papeis de mulheres atraentes. Na década de 70 a carreira da atriz declinou e Sue abandonou tudo nos anos 80.
Kubrick conversando com Sue Lyon
Petter Sellers é outro trunfo do filme. Ele interpreta um dramaturgo que se caracteriza de outros personagens de forma a ficar por perto do professor Humbert e acaba sendo um dos responsáveis pelo desfecho trágico da história. Sellers seria dirigido mais uma vez por Kubrick dois anos depois em Dr. Fantástico.
Sellers e seu dramaturgo controverso
Kubrick entregou um filme muito - muito mesmo! - mais leve do que o livro de Nabokov. Nas páginas do escritor russo Lolita se entrega às aventuras sexuais, enquanto Humbert passa linhas e mais linhas descrevendo o corpo da jovem e o que faria com tudo o que vê. Em certo momento ele admite ter "pensamentos pedófilos" com relação à Lolita. É horroroso.
Vladimir Nabokov
Aqui, Kubrick é bem mais pudico. Ele se basta colocando um pirulito na boca da jovem, mostra Humbert pintando as unhas dos pés dela, uma sentada no colo e nada mais além disso. O diretor temia que o filme sofresse com a censura. E sofreu de certa forma - acabou sendo proibido para menores de 16 anos no lançamento.
A pequena dos olhos de Humbert
Lolita se tornaria cult somente anos depois, mas o problema é que muito se perdeu na tradução da obra pro cinema. O livro choca muito, o filme fica na sugestão. Mas dá raiva - assim como o livro, é verdade. Se esse foi o intuito de Nabokov então parabéns pra ele. Mas dentro da obra cinematográfica de KubrickLolita acaba entrando como uma obra menor.
Veja abaixo o trailer de Lolita.
FILADÉLFIA (Philadelphia / 1993) - Filadélfia foi o filme certo no momento certo, dirigido pelo cara certo e atuado pelos atores certos para o momento. Tudo se encaixa aqui. O filme também tem um papel crucial na história do cinema por ser o primeiro a discutir abertamente sobre aids, ao se basear na história real dos advogados Geoffrey Bowers e Clarence Cain.
Bowers
A cidade da Filadélfia serve de pano de fundo para a história de Andrew (Tom Hanks), um jovem e promissor advogado de uma grande empresa que apresenta um vigor e uma gana profissional muito únicos. Ele ganha respeito na empresa, fica com a moral elevada junto aos chefes, pouco antes de começar a apresentar feridas pelo corpo.
A batalha nos tribunais
Tempos depois ele aparece na sala do também advogado Joe (Denzel Washington) pedindo ajuda. Andrew está magro e abatido. Se diz portador de HIV. Como reflexo, Joe se afasta e começa a reparar nas coisas que Andrew toca em seu escritório, enquanto conta a sua história. Ele não gosta, se incomoda mas não diz. Andrew procura um advogado para processar a empresa onde trabalhava - ele foi demitido após os seus chefes descobrirem a doença. Por fim, Joe aceita o trabalho.
Antonio Banderas interpreta o namorado de Hanks
Daí em diante o filme se desenrola em grandes sequências de tribunal com protestos, objeções, testemunhas e júri. Enquanto isso Andrew definha e não assiste ao final do seu próprio julgamento. Acaba recolhido a uma unidade hospitalar e fica sabendo do resultado depois.
De cama, sem forças
Mérito grande do diretor Jonathan Demme - o mesmo de O Silêncio dos Inocentes - que soube dar a Filadélfia uma cara muito própria. Em boa parte das cenas, principalmente as com trocas de diálogos intensos, os atores são posicionados de forma a parecer que estão olhando diretamente pra lente da câmera. Não chega a ser a quebra da quarta parede, mas deixa a gente incomodado e emocionado ao mesmo tempo.
Demme e Hanks
Tom Hanks levou aqui o primeiro dos seus dois Oscars, o segundo seria por Forrest Gump. O seu discurso no momento em que recebeu o Oscar é apontado como um dos mais bonitos já feitos na história da premiação. E mais, inspirou a história da comédia Será Que Ele É? com Kevin Kline. Assista.
A canção Streets of Philadelphia de Bruce Springsteen levou também o Oscar de canção original. Veja abaixo o trailer de Filadélfia.
DEMOLIÇÃO (Demolition / 2015) - Poderia ser mais. Muito mais. E olha que prometia, principalmente pelo elenco estrelado. Jake Gyllenhaall e Naomi Watts, embora sejam reconhecidamente atores de talento, acumulam altos e baixos nas carreiras. O diretor francês Jean-Marc Vallée não é exatamente um grande nome, mas já fez filmes que causaram um certo barulho como Livre e Clube de Compras Dallas. Mas desta vez Vallée, também não acertou a mão.
Vallée e Gyllenhaal
Davis (Gyllenhaal) e a esposa Julia (Heather Lind) estão conversando amenidades no carro quando sofrem um acidente grave. A esposa morre. A partir da tragédia, que acontece nos primeiros minutos de filme, Davis se desliga de tudo e todos. Se desconecta. Para muitos, uma reação normal de choque perante à gravidade da situação. Mas não é bem isso.
Aéreo, desconectado
Phil (Chris Cooper), pai da Julia e chefe de Davis, se aproxima ainda mais do rapaz tentando superar o próprio luto e dar um pouco de apoio ao agora viúvo. Os dias passam e Davis não sai do estado de choque, ele continua tratando tudo e a todos com o máximo de indiferença. Não consegue chorar pela ausência da esposa. Até tenta, mas não consegue.
Sogro e genro
Ainda no hospital ele tenta comprar um pacote de MM´s naquelas máquinas de doces sem sucesso. Ele fica preso. Esse ato banal muda o destino dos personagens. Davis manda uma carta para a empresa responsável pela máquina, para reclamar do acontecido. Mas ele não fica só nisso e acaba contando toda a história da perda da vida da esposa. Acaba trocando correspondências com a moça da empresa que se compadece - Karen (Watts).
Amigos parceiros
Karen é uma moça perdida na vida. Passa os dias fumando maconha, mesmo ao lado do filho Chris, um jovem problemático que fala palavrões o tempo todo e parece ter problemas em se encaixar na escola.
Ao lado de Chris, um sentido, mínino que seja
Davis acaba afastado do trabalho, da família e de todo o resto. Ele apenas se aproxima de Karen e Chris, mas sempre da mesma forma - com indiferença. A saída que Davis encontra - e daí vem o título do filme - é destruir coisas. Simples assim. Ele desmonta aparelhos domésticos e outros itens da casa. Inclusive a própria casa, usando marretas, serras e até uma escavadeira que ele compra no ebay.
Quebrando tudo
Não tem muito o que contar a partir daí. E mesmo se eu revelasse spoilers não faria diferença, porque tudo é muito fraco. A óbvia sequência seria uma aproximação amorosa entre Karen e Davis, mas não acontece de forma clara. Ou então de repente acordar do luto, mas também não. E fica nisso.
Um homem da deconstrução
Demolição é um filme que apresenta personagens e um plot principal, mas não caminha, não desenvolve nem resolve as subtramas. E acaba assim. Não dá nem para dizer que as atuações salvam o filme, porque Gyllenhaall atua aqui sem esforço - mesmo porque o personagem não exige muito - e Watts se acomoda em uma personagem rasa também.
O que esperar?
Parecia e prometia tanto. No final tanta indiferença do personagem de Gyllenhaall contamina a quem assiste. Ele gera indiferença, fica na promessa e acaba sem se resolver. O gosto que fica é amargo, tudo não passou de uma grande perda de tempo.
Veja abaixo o trailer de Demolição.
A LENDA (Legend / 1985) - Daqueles filmes que marcam a infância mas que não ficam na cabeça, pelo menos para mim. Reassistir A Lenda foi uma viagem de volta aquele "lembro disso" em algumas cenas. Mas quando o filme saiu eu tinha meros 4 anos e depois quando passava na Sessão da Tarde eu deveria ter por volta de 7, 8. E o filme de alguma forma não ficou comigo, assim como outros da mesma época ficaram, como Goonies por exemplo.
Juntos, passeiam pela floresta e acabam um dia observando dois unicórnios, o ser mitológico que dá balanço à floresta e à existência. Quando Lili toca no unicórnio - algo que não deveria fazer - o animado é alvejado por um dardo distante e ele acaba ficando debilitado.
Unicórnio, o animal mágico da floresta
O dardo foi lançado por um goblin à mando do demônio (Tim Curry) que quer à todo custo impedir que o sol nasça novamente e com isso ter o domínio sobre todo o lugar. O unicórnio atingido perde o seu chifre, ítem mágico que pode reparar o mal que foi feito. A partir do momento que o chifre é cortado do animal a neve e a escuridão tomam conta da floresta.
Criaturas fantásticas
Arrependida, Lili parte em sua jornada para tentar reparar o mal que fez. Jack, se junta a um grupo de duendes comandado por um elfo baixinho e nervoso, para recuperar o chifre do unicórnio, salvar Lili e derrotar o demônio.
O elfo
A Lenda é uma viagem do começo ao fim, fantástica, mas que não teve um grande sucesso comercial e custou bem mais do que arrecadou. Mas marcou de alguma forma a infância de muita gente, principalmente a demoníaca figura de Tim Curry, com uma maquiagem impecável, uma voz cavernosa e dois enormes chifres pretos.
O processo de maquiagem de Tim Curry
Mas envelheceu mal. Vendo hoje não cumpre mais o papel que cumpriu, é datado e exagerado. Assim como História Sem Fim, lançado um ano antes em 1984. Esse sim se pegou mais ao mundo infantil e acabou rendendo duas sequências. Já Scott preferiu para A Lenda algo mais elaborado, com algumas questões mais sérias. Uma fantasia com um tom bem mais sombrio.
RELATOS SELVAGENS (Relatos Salvajes / 2014) - Não sei se foi a expectativa altíssima ou o formato episódico que nunca me agradou ou aquela maldita opinião de que "cinema argentino é sempre bom" e a óbvia sequência "...muito melhor que o cinema brasileiro". Pode ter sido uma junção de tudo isso, na verdade. O que eu sei é que Relatos Selvagens não me agradou tanto assim.
Os personagens de cada história
O filme ficou em cartaz em São Paulo até três anos depois do lançamento, tamanho o sucesso no melhor estilo boca a boca, que fez. Relatos Selvagens trata basicamente de pessoas que chegam ao seu limite - tipo Um Dia de Fúria - e buscam vingança. É um prólogo e mais cinco pequenas histórias.
O diretor Daminán Szifron em ação
"Pasternak" é o prólogo. Gabriel Pasternak não aparece mas é o protagonista desta história. Ele consegue colocar num mesmo avião pessoas que de certa forma lesaram a vida dele. Uma aeromoça desesperada conta que a cabine está trancada e que Pasternak está no comando do avião em plena queda.
Confusão à bordo
"Las Ratas" se passa em um restaurante de estrada. Ali entra um homem que é recebido pela garçonete, que volta assustada para a cozinha. Ela descobre que aquele homem foi o causador do suicídio do seu pai, além de ter dado em cima da mãe. Outra cozinheira tem uma ideia - colocar veneno de rato na comida do homem. Destaque para a boa sacada quando elas descobrem que o veneno está vencido. "Será que isso faria ainda mais mal a ele?"
Um encontro inesperado
"El Más Fuerte" mostra um cara com sua BMW por uma estrada tentando ultrapassar uma caminhonete caindo aos pedaços, sem sucesso. O cara bloqueia a ultrapassagem de propósito. Quando passa, o cara da BMW xinga o outro. Mais à frente - o óbvio - um pneu furado. E os dois se reencontram. Campo aberto para uma batalha dura, desigual, com tom escatológico, e um final inesperado.
Perseguição na auto estrada
"Bombita" é protagonizado por Ricardo Darín. Ele tem o veículo guinchado depois de estacionar em um local proibido. Começa uma batalha pela seus direitos no departamento de trânsito, já que ele tem certeza que o local não estava sinalizado. Mas mesmo assim tem que pagar multa, guincho, mais o estacionamento da prefeitura. Ele perde a festa de aniversário da filha, acaba se divorciando, é demitido e por fim... arruma um jeito de se vingar do sistema.
Um homem à beira de um ataque de nervos
"La Propuesta" é o melhor curta do filme. Um jovem filho único de uma família rica, atropela e mata uma mulher grávida e foge sem prestar socorro. O pai oferece uma grana alta pro jardineiro da família assumir a autoria. Os advogados pedem mais dinheiro para poder comprar os juízes que vão julgar o caso. De repente o pai desiste de tudo e um dos advogados, na iminência de perder uma fortuna, fala ao pai "por favor, seja razoável".
Vale tudo para salvar o filho de uma condenação?
"Hasta que La Muerte nos Separe" se passa em uma festa de casamento onde uma noiva acaba de descobrir que foi traída pelo noivo - agora marido - por uma das convidadas da festa. Desesperada, a mulher surta. Transa com um cozinheiro, dança uma valsa com a moça e a joga contra uma vidraça e transforma a festa de casamento numa comemoração inesquecível.
A noiva ensandecida
Relatos Selvagens é inteligente, rico, muito bem construído e escrito. Mas sofre do mesmo mal que todo filme episódico sofre - a falta de conexão entre as histórias. Eu entendo que o tema vingança está presente em todas as esquetes, mas o problema é que um filme assim é recheado de altos e baixos e deixa o resultado final capenga.
Darín e Szifron
Não chego a dizer que é ruim, mas Relatos Selvagens nem de longe se aproxima de outros resultados geniais do cinema argentino recente como O Segredo dos seus Olhos, principalmente. De lá também saem algumas bombas também. Relatos Selvagens não é o caso, mas também não é para tanto, né?