segunda-feira, 28 de novembro de 2011

DEMÔNIO (or. DEVIL) - Tá certo que a direção não é dele, mas o roteiro é. M. Night Shaymalan, que chegou a ser chamado de "novo Spielberg", principalmente pela inventividade dos seus roteiros/filmes, como Sexto Sentido, Corpo Fechado, Sinais - e eu incluo Fim dos Tempos, que pessoalmente me agrada muito - assina o roteiro deste Demônio. O que a princípio é um chamariz, ao final se mostra uma decepção. O roteiro é muito fraco, beirando o amadorismo.

A história é o seguinte: 5 pessoas, que não se conhecem, entram em um elevador de um prédio comercial - uma velha, um jovem introspectivo, uma moça metida, um chato falastrão e um segurança negro (nada poderia ser mais estereotipado do que esses 5 tipos). O elevador trava e coisas estranhas começam a acontecer a cada minuto, ao mesmo tempo em que a polícia é chamada e acompanha toda a movimentação pela câmera de monitoramento do elevador.



Um dos guardinhas que vê tudo pelas imagens, acredita que os acontecimentos são obras do demônio, e se põe a rezar (não é preciso dizer que o tal guardinha é hispânico - mais um estereótipo raso).


As pessoas ficam presas lá no elevador por boa parte do filme. Acusações de racismo, brigas por interesses vazios, mexicano rezando e mortes no elevador acontecem até o desfecho, que se mostra fraco e sem graça. Digno de um roteiro de filme mocinho-bandido, de tão pobre.

Nada se tira deste filme, apenas que o Shyamalan tem que abrir os olhos e botar a cabeça pra funcionar porque aquele apelido do começo da carreira ficou pra trás, já era.

domingo, 27 de novembro de 2011




A PELE QUE HABITO (or. LA PIEL QUE HABITO) - Logo de cara já admito - tenho um preconceito danado pelos filmes do Almodóvar. E antes que comecem a atirar pedras em mim já digo: não é pela temática das suas obras, nem pela questão homossexual, outra constante. Na verdade é bem mais simpes que isso... eu simplesmente não gosto, acho que tudo o que ele faz tem cara de novelão, não tem cara de cinema para mim. Tenho por ele total respeito, mas não gosto da sua filmografia. Simples assim.
Então, já dá para imaginar com que carga eu fui ao cinema assistir A Pele que Habito. Tentei me desarmar delas, mas claro, falhei. Enfim, na primeira meia-hora de filme curti muito, tinha entrado na história, toda a relação bizarra do "médico louco" do Banderas com a sua Frankenstein. Gosto desse personagem - médicos ricos, loucos, sem escrupulos ou consciência.
Mas depois dessa meia-hora, para ser preciso na hora do cara vestido de tigre, o "Almodóvar real" apareceu e estragou tudo depois que a história do menino sequestrado se confirmou. Aí caiu pro escambo total. Se a história fosse dele, uma maluquice da cabeça dele, ele merecia até certo respeito, aí estão Lynch, Fincher, Anderson e tantos outros, mas depois que descobri que a história é de um livro, o Almodóvar caiu até mais no meu conceito."Para não dizer que não falei de flores" o Banderas está ótimo! A obstinação do seu médico é o que carrega o filme todo, o resto não passa de puro desperdício de película.
O PALHAÇO - Feliz Natal foi a estreia e O Palhaço é o segundo longa do ator/produtor/diretor Selton Mello. Que grata surpresa. E digo isso apenas pelo O Palhaço, um road movie com um Q (bem grande mesmo) de Wes Anderson e pitadas de Fellini.
Selton Mello assina a historia que conta a vida de Benjamim, um palhaço de circo que passa a questionar o sentido de fazer os outros rirem o tempo todo, sendo que ele mesmo é um poço de melancolia e frustração por não resolver os mais simples dos problemas da sua vida, como ter uma certidão de identidade. Aqui, tudo é cheio de simbologias e pequenas metáforas que vão se encaixando até formar um roteiro bem amarradinho e nada pretencioso, mas acima de tudo, belo.
Outro destaque fica por conta dos coadjuvantes, um show a parte. A cada cena um novo "velho" rosto. Um filme tocante, com uma condução muito segura do Selton. Uma bela história, que emociona.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011


MEMÓRIAS (orig. STARDUST MEMORIES) - Em 1980, Woody Allen escreveu e dirigiu esta película, sem grandes estrelas no elenco, além do próprio Woody no papel principal. Ele atua como um diretor de cinema (Sandy) em conflito com seus pensamentos e amores, revisitando toda a carreira através de uma mostra de filmes seus em uma pequena cidade.



Por onde caminha, Sandy é reverenciado por todos, que o idolatram como um grande gênio de filmes de comédia. Todos esperam isso dele, filmes engraçados, mas ele está em uma fase mais madura, buscando realizar obras mais sérias. E ele fica preso nessa "capa" de diretor de comédia e não consegue sair dela.


O sentimento do próprio Woody na época era mais ou menos esse também. Ele vinha de uma sequência de filmes elogiados por crítica e público (O Dorminhoco, A Última Noite de Boris Grushenko - um dos meus favoritos, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa - vencedor de 4 Oscar, Interiores - indicado a 5 Oscar e Manhattan - indicado a 2 Oscar) e Memórias, apesar de ser extremamente refinado e cuidadosamente montado, ainda possui certa resistência do público.


Aos 11 minutos de filme, vê-se em close um coelho morto e na sequência o rosto perplexo de Sandy (cena acima). Dali pra frente o filme todo é uma série de colagens e fragmentos da sua vida, navegando entre a comédia e a tragédia. E mudam-se também os planos de câmeras, que ficam mais ousados, a fotografia, que fica mais exagerada, e as atuações, principalmente dos coadjuvantes, que se tornam mais e mais caricatas. Segundo o diretor, uma homenagem ao cinema de Fellini e às suas figuras únicas.


Mais uma aula de Woody, sendo simplesmente... o próprio Woody.
Não há como passar sem destacar a cena final, quando todos os personagens de seu filme saem do cinema como se tivessem acabado de assistir ao próprio filme e, obvimamente vê-se as críticas dos próprios atores às atuações e à direção de Sandy. Com a sala vazia, abaixo, um desolado Sandy caminha por entre as cadeiras até o fade final.