A CONVERSAÇÃO (The Conversation / 1974) - O roteiro já era antigo. Francis Ford Coppola o havia escrito em 1966, aos 26 anos. Mas ele batalhava e não conseguia transformar o seu roteiro - um thriller de espionagem - em filme. Precisava de muito dinheiro, dinheiro que na época ele ainda não tinha. E foi com o mega sucesso, até certo ponto inesperado, de O Poderoso Chefão em 1972, que Coppola pôde juntar essa grana. E embarcou sem nem pensar duas vezes naquele roteiro de espionagem que agora já estava um pouco mais elaborado.
O plano inicial está entre os mais ambiciosos dos filmes do Coppola
Coppola tinha Gene Hackman em mente quando pensou no personagem de Henry Caul, um solitário investigador particular que vive de implantar escutas e gravar sigilosas conversas por encomenda. Ele é o melhor profissional do ramo, mesmo sem contar com equipamentos sofisticados, apenas aparatos criados por ele e por seu ajudante vivido por John Cazale.
Os aparatos caseiros de Caul
A grande trama de A Conversação gira em torno de uma gravação feita por Caul que passa a intrigá-lo. Na conversa, um homem e uma mulher planejam um golpe para ficar com o dinheiro do marido dela.
O casal "grampeado"
Caul fica receoso de entregar a fita com a gravação para o marido, vivido por Robert Duvall, tentando evitar um desfecho trágico. Caul quer evitar este peso na consciência. Um jovem Harrison Ford vive o braço direito de Duvall.
O jovem Ford em uma de suas primeiras aparições no cinema
A Conversação é um thriller de altíssimo nível, pra ficar amarrado à cadeira até o final. O personagem de Hackman é cativante e ao mesmo tempo irritante, ele prefere ficar sozinho no pequeno apartamento tocando saxofone a sair para se divertir e viver uma paixão, por exemplo. Parece ter medo da própria vida. Ou receio de algo que não se explica.
O dilema de Caul
OS PARÁGRAFOS ABAIXO CONTÉM SPOILERS
Caul decide por cumprir o seu dever e entrega a gravação para o marido que marca com a esposa uma espécie de "acerto de contas" num quarto de hotel. Caul reserva o quarto ao lado e implanta grampos por todos os lados para tentar evitar um possível crime. Atormentado pelo "silêncio" no quarto ao lado, Caul vai até a varanda e vê dois corpos duelando em meio a sangue, muito sangue.
O duelo no clímax do filme
Mesmo assim ele prefere não intervir. Pouco tempo depois quando o quarto ao lado parece vazio, Caul o invade e dá uma olhada por cima em tudo. Não encontra nada. Olha tudo minunciosamente, mas não vê nada de anormal. Suspeita da privada. Dá a descarga e começa a jorrar sangue. Na varanda o sangue está lá, mas não encontra vestígios de corpo em lugar algum.
O sangue da privada
Será que ocorreu mesmo um assassinato ou Caul imaginou tudo?
Sozinho em um galpão vazio - nada representa melhor Caul
FIM DOS SPOILERS
A sequência final é primorosa. Caul chega ao nível máximo de paranoia. Ele acredita tão piamente que está sendo observado que passa a "desconstruir" seu apartamento inteiro. Tira a cortina, desmonta os móveis e os eletrodomésticos, arranca os rodapés e os tacos do piso. Ele tira tudo! E se senta no chão mesmo, tocando o seu inseparável saxofone. Memorável.
A simples e significante sequência final
Uma surpreendente conclusão para um personagem fascinante. Gene Hackman foi tão bem como Henry Caul que ele foi convidado a reviver esse ambiente de vigilância absoluta no thriller Inimigo do Estado ao lado de Will Smith em 1998.
Hackman voltou ao mesmo ambiente de espionagem quase 25 anos depois
Não deixe de assistir A Conversação e o amadurecimento de um grande cineasta e um grande ator. Não dá para deixar passar um filme que é escolhido por Gene Hackman o seu preferido dentre todos os que já trabalhou e escolhido também por Coppola o seu preferido dentre todos os que já dirigiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário