quarta-feira, 29 de junho de 2016

O OPERÁRIO (2004)

Um homem preocupado com a realidade vivendo uma ilusão... ou seria o contrário?

O OPERÁRIO (The Machinist / 2004) - Foram quase 40 quilos. De 90 beirou os 50. Este é o peso que Christian Bale exibe durante praticamente todas as cena de O Operário. Em nenhum momento Brad Anderson, o diretor, havia pedido para o ator perder tanto peso, mas Bale insistiu. As suas refeições diárias não passavam de uma lata de atum e uma maçã. E mais nada. A aparência cadavérica ajudou na construção de Trevor Resnik, personagem principal de O Operário.

Em poucos meses Bale interpretaria Batman no primeiro filme da série dirigida por Nolan

Trevor trabalha numa empresa como operador de maquinário pesado, na linha de produção. É solitário, mal se alimenta, não dorme e lava as mãos com alvejante e outros produtos de limpeza. Tudo piora quando ele causa, por distração, um acidente na empresa ocasionando na amputação do braço de um companheiro. Seu mundo aos poucos começa a desabar.

A cena do acidente - o plot que muda tudo definitivamente

Nada mais faz sentido. Ele é acusado de delirante, a realidade lhe prega peças o tempo todo, nada é real e tudo parece um terrível pesadelo - o tempo todo. Ivan é seu "amigo" que circunda todos os acontecimentos desastrosos que perseguem seu mundo. Mas quanto mais Trevor persegue o tal Ivan, mais confuso tudo fica. Nada é o que parecer ser.

O misterioso Ivan

A sua relação humana mais próxima é com a prostituta Stevie (Jennifer Jason Leigh) com quem inicia um namoro que não engata. Marie, a garçonete simpática de um café perto do aeroporto também lhe faz boa companhia. Mas a medida que a história avança, Trevor não sabe em quem mais confiar e ele acaba afastando as pessoas que mais gosta.

Stevie, a prostituta namorada

SPOILERS

Todos os personagens que fazem parte da vida de Trevor tem um ponto de ligação único - há 1 ano ele atropelou uma criança e fugiu. Ao que tudo indica a criança morreu ainda no asfalto. Alguns personagens foram afetados diretamente por aquele evento, outros da consequência dele. E mais - alguns personagens nem são verdadeiros, e sim apenas produtos da mente deturpada de Trevor, que procura uma forma de trabalhar com a culpa, com o peso enorme na consciência. A garçonete do bar que frequenta nada mais é do que a mãe do menino atropelado; o carro dirigido por Ivan é seu próprio carro. Ivan aliás é o personagem mais enigmático e misterioso da trama. Para mim ele representa a própria consciência de Trevor - ele existe está ali, mas cabe ao protagonista lidar com ele (no caso ela). O filme é uma sequência de dados desconexos frutos da mente de uma pessoa tentado lidar com a culpa de ter cometido um erro grave no passado.

FIM DOS SPOILERS

Uma interpretação assustadora e um roteiro impressionante

Bale e seu olhar profundo são os donos do filme. O roteiro também não fica atrás. O Operário é o tipo de filme que vai entrando no hall dos grandes filmes aos poucos. Demorei algumas semanas para considerar este um grande filme e um roteiro incrível. É duro ter que processar tantas informações. Um filme desses mexe muito com quem assiste, uma história que fica na cabeça martelando, mesmo depois de algum tempo.
Veja abaixo o trailer de O Operário.


quinta-feira, 23 de junho de 2016

O ESCORPIÃO DE JADE (2001)

Um charlatão e dois desafetos hipnotizados

O ESCORPIÃO DE JADE (The Curse of the Jade Scorpion / 2001) -  Um roteirista genial e um diretor muito talentoso, mas como ator... Afinal, vamos convir, Woody Allen só sabe fazer papel de Woody Allen. E eu acho ótimo para ser sincero. Esse "não-talento" como ator serve muito bem à comédia. Deixa o filme mais charmoso. Woody não gosta. Por isso ele aponta O Escorpião de Jade como um de seus filmes mais fracos. Ele assumiu o papel principal depois de ouvir recusas de caras como Tom Hanks e Jack Nicholson.

Woody vive o investigador C.W. Briggs

Woody é um detetive de uma companhia de seguros que fica revoltado com a situação no escritório onde trabalha. Seu chefe - Dan Aykroyd - recrutou uma mulher - Helen Hunt - para ser a nova manda-chuva do pedaço. O ambiente, totalmente masculino em plena década de 40, fica péssimo. Ninguém trabalha bem a ideia de responder aos mandos e desmandos de uma mulher.

Betty Ann, a nova manda-chuva do escritório

Quem mais se exalta é Briggs (Allen). Ele e Betty Ann (Hunt) se odeiam. Durante uma festa num bar com amigos do escritório os dois são levados ao palco e hipnotizados por um ilusionista na frente dos colegas de trabalho. O show acaba e eles vão para casa. À partir daquele dia, os dois recebem ligações do hipnotizador que usa as palavras "Madagascar" e "Constantinopla" como código. Ao ouví-las cada um executa o comando dito pelo ilusionista.

Hipnotizados eles não sabem o que fazem

De homem da lei, Briggs se torna fora da lei. Sob hipnose, ele rouba jóias valiosas de uma mansão. A ironia da história - quando as jóias são dadas como desaparecidas, o próprio Briggs é destacado para tentar solucionar o furto. Ele não imagina que está investigando um crime cujo criminoso é ele mesmo! Muita confusão à vista em mais uma comédia afiada de Woody Allen.

Charlize Theron no papel da mulher que vive seduzindo os homens

Woody, claramente não se sente à vontade no papel de Briggs, ele não é tão neurótico e paranóico como Woody gosta. Aliás, é justamente o contrário, ele tenta se mostrar a cada cena como um Humphrey Bogart de araque, um detetive de filme noir charmoso e seguro de si, mas tudo anda pro lado errado. Até as roupas, que parecem gigantes no corpo magrinho de Woody, ajudam na comédia. Um tom exato. Já Betty cai perfeitamente em Hunt, uma mulher determinada e focada em quebrar um paradigma de machismo tão presente.

Briggs em cana

Veja abaixo o trailer do divertido O Escorpião de Jade:


segunda-feira, 20 de junho de 2016

CREED: NASCIDO PARA LUTAR (2015)

Rocky Balboa - um personagem eterno

CREED: NASCIDO PARA LUTAR (Creed / 2015) - Foi como reencontrar um velho amigo. É a sensação que fica ao final de Creed para cada fã do clássico personagem criado por Sylvester Stallone na década de setenta. Aqui não se vêem lutas repetitivas, pugilismo encenado ou mesmo falta de emoção. Rocky nunca foi assim. Creed não seria diferente

Assumindo papel de treinador agora

Creed é um filme construído em volta do personagem título, Adonis Creed, um jovem problemático que passou a infância em reformatórios, sempre se envolvendo em brigas. Nas ruas ele não vê outra saída senão buscar o sucesso naquilo que melhor faz na vida - lutar boxe. Ser filho de ninguém menos que Apollo Creed - um cara vital na franquia Rocky - ajuda também na escolha, é claro.

Adonis Creed segue instinto (e sangue) e vê no boxe uma oportunidade

Sem aceitar o sobrenome do pai para evitar comparações, Adonis vai ao restaurante mantido por Rocky Balboa e ali as coisas começam a acontecer. Rocky aceita treinar o jovem ambicioso que pretende ser campeão mundial. Ao assumir o novo "cargo", Rocky acaba voltando a velhos lugares que já não frequentava há tempos - antigos ginásios, academias - e neles as pessoas ficam desconcertadas diante de Rocky. O carinho de todos por ele é tão grande que emociona. Rocky, como personagem fica ainda mais forte nesse ponto. Assistindo ao longa, o fã de verdade, também reverencia ao ídolo, igualmente a cada cena.

Uma cidade apos pés de Rocky, um ídolo para sempre

O filme engrena e encanta pra valer nas cenas em que Rocky está presente. Mesmo estando longe do vigor físico que o personagem pede, Rocky está ali - cabisbaixo como sempre, semianalfabeto, com o chapéu preto, andar com gingado e claro, muito coração, o tempo todo.

"Não é sobre o quão forte você pode bater, mas sobre quantos golpes você aguenta"

A primeira luta de Adonis é marcante, justamente pela forma como foi filmada. É tudo um grande plano sequência - os 2 rounds, e tudo em cima do ringue. Literalmente nós ficamos no ringue junto com os dois. São impressionantes 4 minutos e meio. Veja só:



Rocky está sozinho. Mickey já tinha ido, Adrian foi também e agora Paulie. Destaque para a cena do cemitério, quando Rocky se senta ao lado do túmulo de Adrian e Paulie, abre o jornal e começa a contar os fatos do dia. Poucas cenas definem tão bem o que é Rocky Balboa.

Punching ball lado a lado

E prepare os ouvidos para a trilha sonora clássica de Rocky que toca em alguns momentos essenciais. Isso dá força para Adonis e deixa o filme ainda mais emocionante, principalmente na luta final.
Veja abaixo o trailer de Creed: Nascido para Lutar.



quarta-feira, 15 de junho de 2016

A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO (1988)

Jesus como nunca antes visto

A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO (The Last Temptation of Christ / 1988) - Era o sonho de Martin Scorsese desde criança - se tornar cineasta e dirigir uma obra sobre a vida de Jesus Cristo. Ele não imaginava na época, mas tal feito geraria muitos comentários e muita polêmica. O filme foi banido por muitas décadas em vários países e até hoje ele não pode ser visto em lugares como Bulgária, Singapura e Filipinas por exemplo. Alguns religiosos extremistas chegaram a colocar fogo nos cinemas onde o filme estava sendo exibido. A Última Tentação de Cristo está na lista dos filmes mais controversos já realizados.

Na época do lançamento protestos se espalharam pelo mundo

Ainda durante a década de 50, o escritor grego Níkos Kazantzákis escreveu o livro contando a história de como ele imaginava que o homem Jesus Cristo enfrentou os desafios de ser o filho de Deus. Uma figura mais humana e, pelo menos no começo, nada santa. E foi assim, dessa forma, com defeitos, medos, nojo, irritação que Scorsese retratou o seu personagem principal no filme que leva o nome do livro - A Última Tentação de Cristo.

Scorsese em ação no set

Willem Dafoe incorpora Jesus Cristo e Harvey Keitel faz Judas. Eles são muito próximos, grandes amigos até. Mas a verdadeira estrela do longa é o texto - controverso e sem medo - que cutuca feridas abertas de um assunto considerado tabu por muita gente.

Um homem como qualquer outro, cheio de defeitos

Algumas cenas particularmente chamam mais atenção, como o nu frontal de Jesus na cena da crucificação e a sugestão que ele mantinha relações íntimas com Maria Madalena. Tudo mostrado no filme. Ou na outra em que reage com nojo ao cheiro de um leproso dentro de uma caverna. Tudo muito humano. Sem falar no final paralelo que Scorsese cria logo após a crucificação, onde uma espécie de sonho/transe sugere uma outra caminhada do personagem. Tudo muito polêmico.

Maria Madalena e Jesus

A controversa obra de Scorsese concorreu a dois Globos de Ouro e um Oscar, mas não levou nada. O que causou estranheza é que Martin Scorsese foi indicado ao Oscar de Melhor diretor e o filme não concorreu a mais nenhum outro prêmio naquela noite. É como se a Academia respeitasse a obra de Scorsese, por isso lhe deu a indicação, mas não quisesse que ela ganhasse nada. De repente evitando cutucar um tema tão delicado.

Harvey Keitel vive Judas Scariotes

No mais as cenas impressionam, e convidam à reflexão. Uma obra corajosa de um diretor que já tinha feito alguns clássicos na carreira - Taxi Driver, Touro Indomável - mas ainda buscava um lugar entre os grandes. E naquele ponto da vida, aos 46 anos de idade, se mostrava sem medo de lidar com os mais difíceis temas.
Dafoe e Scorsese
Veja abaixo o trailer de A Última Tentação de Cristo.  



segunda-feira, 13 de junho de 2016

HOMEM-FORMIGA (2015)

Marvel recebe mais um sinal de positivo

HOMEM-FORMIGA (Ant-Man / 2015) - Há de convir, a ideia primária deste personagem é um tanto quanto idiota. Afinal de contas poucos bichos na natureza (no caso um inseto) são tão facilmente "morríveis" quanto uma formiga. É bom também que se diga que eu não sou um expert em quadrinhos, ainda mais nos do Homem-Formiga, portanto vou me fixar apenas na crítica do filme.

O Homem-Formiga original

Michael Douglas vive Hank Pym, um gênio da ciência que desenvolve um uniforme que faz quem o usa ficar do tamanho de uma formiga ao se apertar um botão. Hank abandona a própria empresa que estava criando o uniforme quando descobriu que o uniforme estava nos planos para se transformar num armamento bélico. Corey, seu ambicioso pupilo, fica na empresa e toca o projeto adiante.

Corey se torna o Yellowjacket, arqui-inimigo do Homem-Formiga no filme

Décadas se passam, Hank procura alguém para vestir o uniforme e impedir que Corey leve em frente o uso errado da invenção. Scott Lang (o versátil e divertido Paul Rudd) é um presidiário, que quando solto acaba sendo o escolhido. Depois de muita insistência de Hank e sua filha, Hope.

Paul Rudd é o Homem-Formiga

O treinamento de Scott não poderia ser diferente - com as formigas. Ele conhece cada grupo de insetos - as que voam, as que se sacrificam, as que constroem coisas, as companheiras - tudo com o intuito de usá-las como um exército. Elas ajudam Scott a entrar nos lugares, passar por frestas minúsculas e derrotar alguns inimigos no caminho.

Os "soldados" do Homem-Formiga

Um deles - Falcon - é um vingador. A épica batalha que acontece no meio do filme já mostra bem do que o Homem-Formiga bem treinado é capaz. Ele alterna velocidade e astúcia, ao mesclar momentos em tamanho real com mínimos.

Falcon, uma das aparições 

Homem-Formiga é um filme cômico, o mais sarrista da Marvel (só perde mesmo para Deadpool), que muitas vezes tira sarro dos próprios personagens e para ser sincero é o que torna Homem-Formiga um bom filme. Boa sacada do estúdio. Afinal, convenhamos, um herói com essa habilidade não pode mesmo ser levado a sério - acerto no roteiro e acerto  na escolha de Rudd no papel principal.

O Homem-Formiga original e o atual

Homem-Formiga tem bons momentos, ótimas cenas - como as sequências em alto escala das coisas super gigantes - muito humor e um Paul Rudd que está se entregando ao máximo ao personagem. A sequência chega em 2018 quando Homem-Formiga faz dupla com a Vespa - Hope - a filha de Hank.

Boas cenas em realidade aumentada
Veja abaixo o trailer de Homem-Formiga.


domingo, 5 de junho de 2016

FARGO (1996)

Um crime no meio do nada

FARGO (1996) - Um plano que parecia perfeito. Marido planeja sequestrar a esposa para tirar dinheiro do sogro rico. Muitos empecilhos no caminho. E tudo dá errado. Essa história toda é centrada em duas pequenas cidades caipiras dos Estados Unidos - Brainerd e Fargo.

Seja bem vindo a Brainerd

Logo de cara o filme, dirigido pelos irmãos Coen, exibe um alerta dizendo que a história é real, mas em respeito aos mortos e aos envolvidos eles apenas trocaram os nomes dos personagens. "O resto aconteceu exatamente como em Minnesota, 1987", confirma o letreiro. Cria um clima ótimo e prende para o que vem pela frente. Mas tudo não passa de cascata. A história é uma criação das mentes doentias dos irmãos Coen - Joel e Ethan.

A direção dos Irmãos Cohen

Jerry é interpretado à perfeição por William H. Macy, aliás difícil pensar em alguém tão bom quanto Macy para viver alguém tão inseguro, perdido quanto Jerry. Percebendo isso, Macy perseguiu os irmãos Coen durante meses a fio até ser aceito para o papel. Macy se provou uma escolha ótima, sua atuação foi coroada com a indicação ao Oscar.

Uma atuação magistral de Macy

Jerry contrata dois sequestradores - um falastrão (Steve Buscemi) e outro calado (Peter Stormare) - para sequestrar a esposa. Depois do sequestro, eles são parados por um policial que acaba morto pela dupla. Outras pessoas que testemunharam o crime acabam assassinadas. A polícia vai no encalço dos dois.

Uma dupla improvável

Quem lidera a caçada é Marge, vivida por Frances McDormand. Mas as buscas são lentas - primeiro porque Marge está grávida e depois porque as duas pequenas cidades não estão acostumadas com este tipo de crime. O charme de Marge está na sua simplicidade, mas sem deixar a perseverança de lado. O seu sotaque é carregado e seu sorriso ganha a simpatia na hora. Mesmo aparecendo quase na metade do filme, Marge conquista o espectador de cara. A interpretação de Frances foi premiada com o Oscar, merecidamente.

Premiação merecida de McDormand

Um encontro trágico entre o sogro e o bandido falastrão, uma busca implacável (e lenta) da polícia local, um velhinho enxerido, uma briga violenta entre os bandidos e... um picador de madeira. São esses elementos, e mais alguns, que levam a solução do caso e o sucesso da investigação.

A clássica cena do picador de madeira

O roteiro, premiado também com o Oscar, não me impressionou muito, sinceramente. Tantas possibilidades poderiam surgir de personagens tão interessantes, mas a impressão que deu é que eles queriam resolver logo a história e não complicá-la mais. Vários nós foram atados e perto do final tudo foi resolvido facilmente... De verdade, esperava bem mais da história.

A esposa, vítima do "sequestro"

Uma lenda diz que uma japonesa, que acreditava que o filme era baseado em fatos reais, morreu tentando encontrar o dinheiro - 1 milhão de dólares - que o personagem de Steve Buscemi escondeu sob a neve em Fargo. Fato ou lenda?

O milhão enterrado... será outra lenda?

Veja abaixo o trailer de Fargo.


sexta-feira, 3 de junho de 2016

BANANAS (1971)

O discurso inflamado do "revolucionário"

BANANAS (1971) - Em seu terceiro filme, Woody Allen ainda buscava a sua própria identidade como cineasta. Para formar essa identidade ele remontava a seus ídolos e fazia uma delicada escolha dos papéis femininos. Esse sim fundamental em cada filme seu. A primeira, e a melhor na minha opinião, foi Diane Keaton que só daria as caras em O Dorminhoco, quinto filme de Woody. No início da carreira do cineasta a comédia pastelão dava o tom. Bebendo muito nos filmes dos Irmãos Marx, Woody entregou O que Há, Tigresa? e Um Assaltante Bem Trapalhão, de 1966 e 1969 simultaneamente. Na sequência viria Bananas.

Um conflito político, um ambiente rico para as peripécias de Woody

Woody faz Fielding Mellish, um nova iorquino que trabalha testando equipamentos novos (à lá Chaplin na famosa cena de Os Tempos Modernos de 1936, quando ele se lambuza todo ao testar uma máquina que alimentaria o trabalhador de uma forma mais eficaz e rápida, teoricamente) em uma empresa de desenvolvimento de facilidades.

Woody testa uma máquina de se exercitar em "Bananas"...

...e homenageia Chaplin em "Tempos Modernos"

Sozinho e sem amigos ele acaba se relacionando com Nancy, ativista política voltada a defender povos em dificuldade. O namoro acaba quando Nancy reclama que Fielding não se interessa por estes assuntos. Resta a ele mudar.

Fielding e Nancy

Nesta primeira parte de Bananas, Woody tem à sua mão um palco cheio para as suas peripécias. Ele usa com muito inteligência a grande cidade como parte do esquete de um cara atrapalhado. Essas pequenas cenas são realmente hilárias, como quando ele tenta comprar revistas de mulher pelada na frente de uma senhora judia ou quando no metrô ele se envolve em uma confusão com dois brigões, entre eles um jovem Sylvester Stallone em participação não creditada.

Impossível não reconhecer Stallone como o encrenqueiro do metrô

Para salvar o namoro e mudar a opinião da namorada, Fielding viaja para o fictício país de San Marcos na América Latina que passa por um momento político complicado - seu presidente acaba de ser assassinado e o país é tomado por uma ditadura. Por ser norte americano, Fielding acaba sendo bem recebido pelos ditadores, interessados em conseguir apoio dos EUA para a sua causa.

Em San Marcos, fictício país da América Latina

Mas após uma tentativa desastrada de aproximação, Fielding acaba nas mãos dos rebeldes e convencido por eles, inicia uma tentativa de devolver a democracia à San Marcos. Usando uma barba falsa, Fielding se faz de Fidel e busca angariar popularidade à causa rebelde. E consegue. Acaba voltando à Nova York, reencontra Nancy com quem se casa.

Protótipo de Fidel

Bananas não é dos melhores de Woody, como filme não funciona muito bem. O grande destaque são as pequenas cenas, que funcionam como esquetes soltas e nem sempre fazem diferença à continuidade da história. Tem uma gracinha aqui e ali. É um filme importante para a carreira dele, que a partir dali se soltava cada vez mais das amarras dos ídolos, caminhando com sua própria identidade, criando seu próprio jeito de fazer filmes e contar histórias. É uma construção onde Bananas tem um papel fundamental.

Nas pequenas esquetes cômicas a grande força do filme
Veja abaixo o trailer de Bananas.