sexta-feira, 24 de março de 2017

A MOSCA (1986)

Um sonho cego e inconsequente 

A MOSCA (The Fly / 1986) - Estilo e criatividade. Poucos cineastas ostentam tão bem essas duas características quanto David Cronenberg. Por mais que isso tenha lhe custado algumas escorregadas na carreira com filmes que não renderam tanto nas bilheterias, ele sempre abriu mão disso por confiar no seu taco e nas suas maluquices à todo custo. Que bom! Cronenberg pôde colocar toda a sua criatividade à prova no remake de A Mosca, clássico da ficção científica de 1958.

Cronenberg e sua mosca

Seth Brundle (Jeff Goldblum) é um cientista fechado, introspectivo que acaba de realizar o seu maior feito - criou um sistema de teletransporte através de "telepods", que nada mais são do que cabines de desintegração. Em outras palavras... os objetos são colocados dentro de um telepod e segundos depois surgem no outro. 

Um visionário cientista

O principal problema é que ele só consegue realizar o experimento com objetos inanimados, os testes que ele realiza com seres vivos nunca dão certo, como no pobre babuíno que acabou literalmente, virado do avesso.

O macaquinho virou... macarronada 

Ele namora (em uma relação que rapidamente sai de fria para das mais quentes e apaixonadas) com Victoria (Geena Davis, que namorava Goldblum à época), uma jornalista que pretende escrever um livro sobre o invento de Seth.

A namorada jornalista

O problema é que numa noite de bebedeira ele decide fazer o teste nele mesmo. Tudo poderia dar certo se não fosse por uma mosca que entrou no telepod sem que Seth tenha percebido. O computador, nas palavras do próprio Seth, "fundiu os dois DNAs que ele encontrou dentro do telepod". Seth agora era meio humano, meio mosca. E é nesse palco que Cronenberg se sente mais à vontade - tudo está armado para muito gore, vísceras e todo o resto... do jeito que ele gosta.

Subindo pelas paredes

A cada cena Seth vai tomando a forma de mosca, vai perdendo o que o faz dele humano. Cronenberg não tem problemas em mostrar essa transformação nos mínimos detalhes. Muito do roteiro lembra Kafka e o seu "A Metamorfose". Seja quando ele arranca as unhas e espreme os dedos no espelho, ou perde os dentes, ou vomita no alimento antes de digerí-lo, e por aí vai, só piora. Por tantos efeitos impressionantes o filme levou a estatueta de efeitos visuais no Oscar de 1987.

A metamorfose de Seth

A Mosca é pesado, não apenas no sentido gore da coisa, mas porque até o último segundo do filme vemos Seth ali naquela quase-mosca. Mesmo na sequência final quando ele mal fala e não tem absolutamente nada de humano, tudo o que lhe resta é a sua consciência.  

Nada humano, nada mosca...

Goldblum escreveu uma carta para Vincent Price - astro do A Mosca original - dizendo que queria que ele gostasse do remake. Vincent respondeu dizendo "gostei até uma parte, depois o filme foi longe demais". Cronenberg é isso, sempre vai além, muito além. E é isso que torna os filmes do diretor tão únicos e atraentes de uma forma bizarra, grotesca. Bem no estilo ame-o ou odeie-o.
Veja abaixo o trailer de A Mosca.



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