quinta-feira, 27 de abril de 2017

CAROL (2015)

Uma mulher decidida

CAROL (2015) - Uma novidade na carreira de Cate Blanchett. Ela agora também é produtora executiva. E Carol é sua primeira contribuição nessa nova função. A diva tem uma carreira vencedora. O mais recente reconhecimento do seu inegável talento veio com Blue Jasmine, de Woody Allen de 2013, quando ela arrebatou simplesmente o Globo de Ouro e o Oscar de melhor atriz. Conquistas inquestionáveis, reconhecidos até mesmo por suas concorrentes.

Um prêmio mais do que merecido

Blanchett vive Carol, um mulher casada, mãe de uma criança de uns 4 anos e que se descobre homossexual na conservadora década de 50. O marido descobre o segredo da esposa e tenta convencê-la do contrário. Sem sucesso, ele pede divórcio.

Um casal que deixou de ser

Carol vê em Therese, uma jovem vendedora de uma loja de departamentos, algo especial. E as duas se aproximam, se tornam amigas e começam a ficar mais íntimas. Alguns encontros depois as duas já estão se relacionando mais sério e combinam de viajar juntas durante as festas de final de ano.

A paixão de uma e a fascinação da outra

O marido, que já desconfiava que Carol não o amava quanto antes, quer proibir a ex-esposa de ter acesso a filha e coloca um detetive no encalço dela para pegar em flagrante a "relação imoral" - como ele chama. Ele consegue provas da relação homossexual da ex-esposa e um juiz proíbe Carol de ver a filha. Desesperada, Carol foge e Therese, perdida, volta pra casa.

Um final triste nada surpreendente

Um final triste para um filme triste. Mas não é só isso, ele também é lento e arrastado demais. Ele segue o ritmo de atuação de Blanchett, com gestos suaves e pouco inspirados.

Uma rara Blanchett sem inspiração em Carol

Mas o principal problema de Carol está no elemento que deveria dar força ao filme, a história de amor. Em nenhum momento sentimos verdade na relação das duas, como na relação entre os personagens de O Segredo de Brokeback Mountain e Azul é a Cor Mais Quente, por exemplo. Em Carol, o sentimento é imposto, surge do nada.

Para Therese resta a fuga

Therese mais parece vítima do desejo da Carol do que uma amante disposta a tudo para lutar pelo seu sentimento. O amor delas é raso demais e para embarcar numa história como a que o filme propõe o primeiro passo é acreditar no amor. E aqui isso não acontece, definitivamente.
Veja abaixo o trailer de Carol.


quinta-feira, 20 de abril de 2017

VÍCIO INERENTE (2014)

Paz e amor (ou quase) 

VÍCIO INERENTE (Inherent Vice / 2014) - Um diretor de primeiro nível. Se não for está perto disso. Paul Thomas Anderson já foi diversas vezes indicado pros principais prêmios do cinema, embora nunca tenha arrebatado nenhum. Foram 6 indicações aos Oscar por exemplo, 4 delas de roteiro. E nos seus filmes ele sempre consegue contar históricas intrincadas com elencos estrelados e com um resultado sempre muito bom, como em Boogie Nights, Magnolia, Sangue Negro. Embora ele tenha alguns tropeços, como em O Mestre e este Vício Inerente.

Equipe filmando Joaquin Phoenix

A história, adaptada do livro de mesmo nome, se passa na Los Angeles dos anos 70. Doc (Joaquin Phoenix) é um detetive particular que recebe a visita de Shasta, ex-namorada que estava sumida há um tempo. Ela pede à ela que ajude a encontrar o paradeiro de um ricaço do ramo imobiliário, Michael Wolfmann, que está envolvido em alguns esquemas obscuros. No dia seguinte ele recebe a visita de um outro cara que pede a busca por um amigo que também está desaparecido e também tem ligações com Michael.

Shasta, a bela ex-namorada de Doc

Doc está sempre chapado de todos os tipos de droga que aparecem na frente dele - de maconha à ácido, passando por cocaína e LCD. O visual de Phoenix, a barba por fazer e o cabelão ajudam na composição do personagem, mas é irritante, sempre com quele "olho de Garfield" e aquela voz molenga.

Nem Doc sabe em que mundo está

No oposto disso está o chefe da polícia, Bigfoot (Josh Brolin). Sujeito quadradão, de voz dura, olhar marcante que nutre particular ódio por Doc e sua forma de trabalhar. Mas como os dois estão teoricamente do mesmo lado da lei, Bigfoot não pode fazer nada com Doc. Só tirá-lo do caminho sempre que possível e usando a força bruta.

Opostos em tudo

Os dois - cada um usando as ferramentas que possuem - seguem nas buscas pelos desaparecidos. Doc encontra um deles numa seita estranha de pessoas com roupa branca. Coy (Owen Wilson) está lá. Nesse meio tempo, Doc leva umas alfinetadas de Penny Kimball (Reese Whiterspoon, com quem Phoenix tem uma química toda especial).

Revivendo os tempos de Johnny e June

Benicio Del Toro, como advogado de Doc e Martin Short, como um dentista viciado, fecham as participações especiais em Vício Inerente. De certa forma, eles ajudam Doc na busca para desvendar não apenas os desaparecimentos daquelas pessoas, mas para descobrir no que elas estão envolvidas - uma busca que começa pequena e termina gigante.

O advogado de Doc lhe dá conselhos

Complicado, né? Vício Inerente é um nome ótimo para um livro aclamado pela crítica. Mas no todo, o filme é fraco. Merece a indicação pro Oscar de roteiro na medida em que a adaptação de uma obra literária como esta - indicada pelos especialistas como das mais complexas do autor - tem lá suas dificuldades. E são grandes.

Martin Short em curta participação

Com filme não convence. É chato, arrastado, longo e cheio de personagens chapados o tempo todo. A trama de muitos personagens e situações é confusa e não funciona. Talvez seja um ótimo livro mas no formato de filme não funciona. Uma derrapada de Paul Thomas Anderson.

Owen Wilson

Veja abaixo o trailer de Vício Inerente.  
  


sexta-feira, 14 de abril de 2017

O REI DA COMÉDIA (1983)

Os 15 minutos de fama

O REI DA COMÉDIA (The King of Comedy / 1983) - Desnecessário tecer elogios à carreira de Scorsese, simplesmente brilhante. Embora eu admito, algumas manias nele me incomodam - como o abuso da trilha sonora durante TODO o filme, seja músicas instrumentais ou cantadas - isso acontece em Cassino, Os Bons Companheiros e outros tantos. Usar o DiCaprio excessivamente em projetos na sequência (já foram 6 filmes da dupla ao todo) também nunca foi do meu agrado - já que não sou lá grande fã do ator. Coisa minha.

Jerry Lewis abraça Scorsese

Em O Rei da Comédia Scorsese usa Robert De Niro pela quinta vez - ao todo foram oito colaborações entre os dois até agora. De Niro é Rupert Pupkin, um comediante iniciante que pretende chegar ao sucesso de qualquer jeito. E por isso passa a seguir seu maior ídolo - Jerry Langford (Jerry Lewis), um apresentador de talk show que preza pela privacidade.

Fã e ídolo

Pupkin mantem na casa dele - que divide com a mãe - um set do programa de Jerry, com personalidades de papelão. Ali, ele finge interagir com elas e imagina ser um dos entrevistados. Para Pupkin seguir o ídolo pelas ruas, em todos os momentos, é algo normal. É aqui que De Niro mostra a sua faceta de grande ator que é, criando um personagem com trejeitos no andar, no falar e até no rir, além da peruca e um bigodinho, que fazem dele um perfeito canastrão. Embora carismático e educado, ele também é irritante. Na medida.

O cenário fake na casa de Pupkin

Jerry Lewis sugeriu a Scorsese uma mudança de roteiro e pediu que seu personagem tivesse seu nome - Jerry. Assim ficaria mais fácil para ele viver um astro em busca de reclusão. Ele acaba sequestrado por Pupkin e exige em troca o monólogo de abertura no programa de Jerry. E consegue. É o grande momento da vida de Pupkin.

Jerry sequestrado

A história - comédia de humor negro sobre um fã que gruda no ídolo e o sequestra para conseguir o quer - não pegou bem na época, o filme foi um fracasso de bilheteria e hoje é visto mais como um capítulo a ser esquecido por Lewis, De Niro e Scorsese do que algo a ser lembrado.

"Melhor ser rei por uma noite do que perdedor pela vida inteira"

Isso não é à toa. O filme começa de uma forma simpática, com a aproximação dos dois, você se pega até torcendo pelo sucesso de Pupkin. O tom sombrio começa a tomar conta na medida em que Pupkin não percebe que está passando dos limites na sua busca insana. Aí O Rei da Comédia se torna inquietante, com personagens chatos e um roteiro simplista demais. Faltou algo ali, O Rei da Comédia definitivamente, não funcionou.

Dupla de peso
Veja abaixo o trailer de O Rei da Comédia


domingo, 9 de abril de 2017

CAÇA-FANTASMAS (2016)

Girl Power

CAÇA-FANTASMAS (Ghostbusters / 2016) - Tinha tudo para dar errado. O trailer do novo Caça-Fantasmas foi considerado um erro sem tamanho pelos fãs extremistas da história. Chegou a ter o dobro de dislikes em relação aos likes no youtube. A Sony, empresa por trás do ambicioso projeto, teve que se mexer e rapidamente reeditou trechos do filme e logo lançou um segundo trailer que deixou os fãs mais calmos.

Kristen Wiig

É bom que se diga logo que o novo Caça-Fantasmas não é exatamente um remake ou mesmo um reboot ou continuação. Está mais para uma homenagem, pura e simples. Abre o próprio espaço sem mexer no que já foi feito, não fere o trabalho original. O primeiro acerto é usar mulheres como as quatro protagonistas, um quadro comicamente ótimo com Kristen Wiig, Melissa McCarthy, Kate McKinnon e Leslie Jones.

Melissa McCarthy

A história é simples, não foge do lugar comum. E nem precisa. Tudo começa dentro de uma mansão mal assombrada que pouco contribui pra história, apenas serve de surgimento para o primeiro fantasma, que já aparece cuspindo uma gosma verde em uma das meninas, uma amostra que a veia-geleca-pastelão, tão usada nos originais, está de volta.

Kate McKinnon

Elas se juntam num restaurante japonês abandonado e a partir dali acabam recebendo chamado para caçar fantasmas pela cidade de Nova York. O prefeito (Andy Garcia) reconhece o valor das meninas mas pede que elas continuem no ostracismo para evitar criar medo da população.

O prefeito conversa com as meninas no gabinete
Um excluído da sociedade ajuda a criar um portal para permitir a entrada de outros fantasmas. A cena final é uma batalha épica de grandes proporções e claro, tem o Stay Puft.

Stay Puft remodelado

O longa do diretor Paul Feig vai muito bem. Entrega tudo o que promete - diversão e nostalgia, inclusive com participações pequenas de cada um dos personagens originais - embora em papéis pequenos - como Bill Murray, Dan Akroyd, Ernie Hudson, Harold Ramis como uma estátua e claro Sigourney Weaver.

"Não cruzem os raios"

O filme gira o "girl power" total, o tempo todo. As mulheres do quarteto título não precisam se provar como cientistas e importantes para a sociedade, nada disso. Elas são pessoas inteligentes, com grandes cenas de ação, e forte poder cômico. Até Chris Hemsworth, o secretário das meninas, banca o "loiro burro" e vai muito bem.

O secretário das Caça-Fantasmas

Engraçado, divertido e muito eficiente como homenagem. Vale muito a pena para quem nunca viu o original, vale muito a pena para quem gosta muito do original, vale muito a pena para assistir um bom filme desligando o cérebro. Mantém a aura dos Caça-Fantasmas, atualiza as tecnologias e as novas armas empolgam, e avança com a continuação prometida na cena pós crédito. Merece mais.
Veja abaixo o trailer de Caça-Fantasmas.


terça-feira, 4 de abril de 2017

PSICOPATA AMERICANO (2000)

Deboche sanguinolento

PSICOPATA AMERICANO (American Psycho / 2000) - O livro por si só já causou uma polêmica danada. Lançado em 1991, ele deixou muito leitor confuso e chocado. Assim como o filme que causa a mesma sensação em quem assiste. O longa é o de maior sucesso da carreira da diretora canadense Mary Harron, também pudera - um texto forte e uma atuação impressionante de um Christian Bale que se via ali no primeiro papel de destaque na carreira.

Um personagem riquíssimo para um jovem ator

Bale vive Patrick, um jovem símbolo do egocentrismo e do orgulho cego movido principalmente pela saúde financeira. O cara é muito rico e muito vazio, preocupado unicamente com a própria imagem - como na cena em que transa com uma prostituta, mas se interessa apenas em olhar para o próprio corpo refletido no espelho.

De olho no espelho

Os amigos não são diferentes. Nenhum chegou aos 30 anos, mas já ocupam grandes cargos em boas empresas. São o exemplo típico do estereótipo de "filhinhos de papai", já que comandam as empresas erguidas com o esforço dos pais. Patrick no escritório não atende ao telefone, chega a hora que quer e vive de comer em restaurantes chiques para ver e ser visto.

Patrick e seus amigos igualmente fúteis

Patrick leva o amigo Paul Allen (Jared Leto) - um dos quais ele sente mais inveja - para casa, forra o chão e começa a falar sobre bobagens, para descontrair Paul que bebe um drinque sentado no sofá. Impiedosamente, Patrick crava um machado em Paul faz sua primeira vítima.

Com um machado a primeira vítima

Dias depois em uma noitada com prostitutas ele chega ao limite. Ao se tornar violento, uma das meninas busca a fuga e encontra uma série de corpos espalhados pela casa - uma cabeça dentro da geladeira, outros tantos na banheira e dentro do guarda roupa. Ela tenta fugir, Patrick vai atrás com a motosserra, ela desce pela escada, Patrick joga a motosserra lá de cima e fatia a prostituta que estava a poucos metros da saída. Ele ri com desdém na cena mais icônica do filme.

A motoserra na clássica cena

No trecho final ele comete uma série de crimes pelas ruas, enquanto é perseguido pela polícia até ser encurralado dentro do escritório. Patrick, enlouquecido, decide ligar para o advogado e conta todos os assassinatos que cometeu - conta cerca de 40.

Vítimas pelas ruas

No dia seguinte ele encontra com o advogado, mas algo surpreendente acontece. A sanidade de Patrick é testada a tal ponto que o filme acaba e deixa a dúvida - será que ele matou mesmo todas aquelas pessoas ou seria tudo fruto da sua imaginação?

A tese - o que é falso e o que é real?

Com boas participações de atores novatos na época - como Reese Whiterspoon, além de Leto e Bale - uma direção segura e acima de tudo um texto poderoso, Psicopata Americano é uma crítica nada velada a uma geração vazia e inconsequente. O texto ainda hoje é alvo de várias discussões na internet sobre o verdadeiro final.

O grande amigo de Patrick

Veja abaixo o trailer de Psicopata Americano.