Cena clássica de um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro
TERRA EM TRANSE (1967) - Walter Salles, Arnaldo Jabor, Luis Carlos Barreto, Anselmo Duarte, Fernando Meirelles... Sim, o Brasil já produziu e produz grandes cineastas. E dessa lista Glauber Rocha talvez seja o maior deles. O baiano sempre pregou o pensamento crítico, orgulhou-se do cinema novo e execrou qualquer aproximação de cineastas brasileiros com o pensamento imperialista norte americano. Era um cara à frente do seu tempo, corajoso e sem qualquer receio de colecionar inimigos. "A nossa cultura é a macumba e não a ópera", ele dizia.
Glauber em ação
Glauber lançou no final da década de 60 um dos filmes mais polêmicos, controversos e explosivos do cinema brasileiro. Terra em Transe expõe alegorias de personagens importantes da política brasileira, relevantes e fundamentais para o golpe militar e a ditadura que nasceu no ano de 1964.
Na fictícia cidade de Eldorado um empresário (Gracindo) financia festas e campanhas políticas como a de um candidato (Lewgoy) em busca de poder. Um jornalista (Jardel Filho) foge da cidade e vai para a pequena Alecrim, depois que outro candidato inescrupuloso (Autran) se elege senador. Quando os dois candidatos passam a concorrer à presidência, interesses políticos e conchavos de todas as parte leva o jornalista a uma profunda reflexão e à frases e sequências que permanecem relevantes e atuais até hoje.
"O povo é imbecil, analfabeto, despolitizado!"
A parte final é a que mais choca. Aqui não apenas o discurso, mas a atuação, se torna ainda mais direta. Os atores olham direto para câmera, falam com quem assiste. O povo representado por um rapaz de fala simples diz: "o país está mergulhando numa grande crise, não sei o que fazer, o melhor é acreditar no presidente". Eis que o jornalista tapa a boca do rapaz e diz: "estão vendo o que é o povo? Um imbecil, um analfabeto, um despolitizado!" Independente da sua inclinação política - nada poderia ser mais atual.
Empresários que fomentam a política suja
Terra em Transe recebeu o Prêmio da Crítica no Festival de Cannes de 1967. Glauber, a partir dali, cravaria seu nome entre os mais respeitados cineastas do mundo. Não é exagero não. No youtube é fácil de encontrar grandes diretores falando bem sobre Glauber, como Martin Scorsese, por exemplo. Uma figura única que faz falta no cenário cultural brasileiro, sorte que os filmes dele - repito, provocativos, controversos e explosivos - estão aí para dar orgulho e tapar a boca de tantos que só sabem falar mal do produto nacional.
O homem que ao ver a sujeira política, muda de lado
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