quinta-feira, 31 de outubro de 2024

ANIQUILAÇÃO (2018)



ANIQUILAÇÃO (Annihilation / 2018) – Um filme que representa um vazio gigantesco, com mudanças absurdas e profundas no modo de pensar e ver o mundo. Aquele final que provoca e inquieta, que mais pergunta do que responde. O filme escrito e dirigido por Alex Garland (de Ex-Machina), baseado no livro de Jeff VanderMeer, tem tudo isso e mais, contando com um elenco talentoso e afinado.

Lena (Natalie Portman) vive há 1 ano, de luto. O marido Kane (Oscar Isaac) foi em uma missão militar e não deu notícias. Até que de repente aparece em casa. Mas volta estranho, calado, distante, diferente. Apresenta uma hemorragia interna grave e é internado às pressas. Aniquilação passa então a viajar entre presente e passado para facilitar as motivações e os desafios de Lena, que acaba se voluntariando na missão militar que o marido tentou cumprir e não conseguir. 

Trata-se de uma missão secreta sobre um objeto que entra na órbita da Terra e cai como uma bola de fogo, num farol, na costa oceânica. Forma-se ali um paredão, uma espécie de domo, que aos poucos vai avançando e crescendo. O que há lá dentro? Ninguém sabe. Só se sabe que quem entra não sai. Ou pelo menos, não sai da mesma forma, como Kane.

Lena e outras 4 mulheres encaram a missão. Ela quer saber o que há lá dentro que mudou tanto o marido. O que elas descobrem é que dentro do domo, chamado de O Brilho, nada cresce e evolui como conhecemos. As formas de vida se misturam e influenciam diretamente no desenvolvimento das espécies, mesmo as mais diferentes possíveis. Como plantas que crescem em formatos de seres humanos, um crocodilo que se desenvolve com dentes de tubarão, um cervos que tem chifres de galhos e flores, por aí vai. Esse sentimento de perder o chão do real, confrontar algo fora do comum, assusta. Tira o chão. Cada passo que elas dão dentro do domo surpreende. Qual resposta há por trás de tudo aquilo?

O balé proposto por Garland passa por imagens grotescas, fortes e com toques de terror que pegam de surpresa e assustam. Elementos que fazem de Aniquilação um ótimo suspense, com fortes toques de terror, e que apresenta um desfecho que pede um raciocínio mais profundo do espectador. Por aqui não há nada de resposta fácil e mastigada. 

Veja abaixo o trailer de Aniquilação.



segunda-feira, 28 de outubro de 2024

A SUBSTÂNCIA (2024)


A SUBSTÂNCIA (The Substance / 2024) – Sempre dá para ir além. Principalmente quando o cineasta acredita na própria ideia e não existe um grande estúdio ou executivos engravatados para atrapalhar. Certeza que se A Substância tivesse essas duas influências, o resultado não seria tão bom quanto ficou. Fruto da imaginação profunda da festejada cineasta francesa Coralie Fargeat e do seu senso crítico apurado que pretende chocar. Mas não de graça. E sim, para que seja difícil - pra não fizer impossível - apagar essa experiência da memória de quem viu.

Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma estrela do cinema e da televisão que há décadas apresenta um programa de ginástica na televisão, bem ao estilo Jane Fonda. Elisabeth é bonita e está em forma, sem dúvida, mas acaba ouvindo por acidente que um executivo da televisão, interpretado por Dennis Quaid, quer substituí-la de qualquer jeito, por um mulher mais jovem e atraente. Um processo que certamente a própria Demi Moore, que sempre foi um ícone da beleza, principalmente nos anos 90, viveu e vive hoje na casa dos 60 anos.

E ela acaba descobrindo uma experiência nova e altamente secreta em que injeta um líquido em si mesma e dela “nasce” uma outra versão dela mesma, mais jovem, mais bonita, sem estrias nem celulite. Não é uma outra mulher... é ela mesma, só que numa outra versão. Essa outra versão se chama Sue e é vivida pela atriz Margaret Qualley (Era Uma Vez Em... Hollywood e Pobres Criaturas). Elisabeth topa e inicia o experimento. Uma das regras é que elas não podem estar “acordadas” ao mesmo tempo. Enquanto uma "vive", a outra fica descordada no banheiro. 

Os problemas começam quando cada versão de Elisabeth se torna cada vez mais egoísta e chega à conclusão de que a outra versão dela mesma atrapalha. E daí pra frente... meus amigos, nada nos prepara para o que está prestes a acontecer. E é só isso que posso dizer.  

A Substância é um filme longo, chega perto das 2h30, mas passa voando. E isso porque o ótimo roteiro de Fargeat não prevê núcleos de alivio ou personagens com histórias paralelas. Não! Aqui é o tempo todo focado na história de Elisabeth e nas consequências da experiência. Cada cena faz a trama avançar e o filme nunca estaciona.

Certamente é o tipo de filme da esfera do ame ou odeie. No cinema teve gente que saiu no meio, outras perderam o final. Algumas chiaram nos créditos enquanto outras aplaudiam. Chuto que era exatamente o que Fargeat queria. E conseguiu.

A Substância não é para todos, mas não foge jamais da sua mensagem. Apresenta um mundo distópico, com personagens capazes de tudo para conseguir o que quer. E com forte influência de Kubrick, principalmente de O Iluminado. Impossível não reconhecer esse clássico de Kubrick em uma cena ou outra, seja pelo enquadramento, pela posição da câmera ou pela direção de arte cuidadosa, com destaque para o tapete colorido e as paredes bem vermelhas. Se fosse definir, eu diria que A Substância navega facilmente entre os universos de Kubrick, David Lynch e Cronenberg. Fargeat, que já tinha chamado a atenção com seu filme de estreia, Vingança em 2017, põe agora o pé na porta do cinema... espero, que de forma definitiva.

Veja abaixo o trailer de A Substância.