A SUBSTÂNCIA (The Substance / 2024) – Sempre dá para ir além. Principalmente quando o cineasta acredita na própria ideia e não existe um grande estúdio ou executivos engravatados para atrapalhar. Certeza que se A Substância tivesse essas duas influências, o resultado não seria tão bom quanto ficou. Fruto da imaginação profunda da festejada cineasta francesa Coralie Fargeat e do seu senso crítico apurado que pretende chocar. Mas não de graça. E sim, para que seja difícil - pra não fizer impossível - apagar essa experiência da memória de quem viu.
Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma estrela do cinema e da televisão que há décadas apresenta um programa de ginástica na televisão, bem ao estilo Jane Fonda. Elisabeth é bonita e está em forma, sem dúvida, mas acaba ouvindo por acidente que um executivo da televisão, interpretado por Dennis Quaid, quer substituí-la de qualquer jeito, por um mulher mais jovem e atraente. Um processo que certamente a própria Demi Moore, que sempre foi um ícone da beleza, principalmente nos anos 90, viveu e vive hoje na casa dos 60 anos.
E ela acaba descobrindo uma experiência nova e altamente secreta em que injeta um líquido em si mesma e dela “nasce” uma outra versão dela mesma, mais jovem, mais bonita, sem estrias nem celulite. Não é uma outra mulher... é ela mesma, só que numa outra versão. Essa outra versão se chama Sue e é vivida pela atriz Margaret Qualley (Era Uma Vez Em... Hollywood e Pobres Criaturas). Elisabeth topa e inicia o experimento. Uma das regras é que elas não podem estar “acordadas” ao mesmo tempo. Enquanto uma "vive", a outra fica descordada no banheiro.
Os problemas começam quando cada versão de Elisabeth se torna cada vez mais egoísta e chega à conclusão de que a outra versão dela mesma atrapalha. E daí pra frente... meus amigos, nada nos prepara para o que está prestes a acontecer. E é só isso que posso dizer.
A Substância é um filme longo, chega perto das 2h30, mas passa voando. E isso porque o ótimo roteiro de Fargeat não prevê núcleos de alivio ou personagens com histórias paralelas. Não! Aqui é o tempo todo focado na história de Elisabeth e nas consequências da experiência. Cada cena faz a trama avançar e o filme nunca estaciona.
Certamente é o tipo de filme da esfera do ame ou odeie. No cinema teve gente que saiu no meio, outras perderam o final. Algumas chiaram nos créditos enquanto outras aplaudiam. Chuto que era exatamente o que Fargeat queria. E conseguiu.
A Substância não é para todos, mas não foge jamais da sua mensagem. Apresenta um mundo distópico, com personagens capazes de tudo para conseguir o que quer. E com forte influência de Kubrick, principalmente de O Iluminado. Impossível não reconhecer esse clássico de Kubrick em uma cena ou outra, seja pelo enquadramento, pela posição da câmera ou pela direção de arte cuidadosa, com destaque para o tapete colorido e as paredes bem vermelhas. Se fosse definir, eu diria que A Substância navega facilmente entre os universos de Kubrick, David Lynch e Cronenberg. Fargeat, que já tinha chamado a atenção com seu filme de estreia, Vingança em 2017, põe agora o pé na porta do cinema... espero, que de forma definitiva.
Veja abaixo o trailer de A Substância.
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