Chile, país sitiado |
NO (2012) - Filmes políticos são difíceis de serem feitos. Sempre envolvem a opinião particular dos realizadores e mexem com a memória das pessoas. Ainda mais quando se trata de algo tão recente. Chile 1988. O país passa por um período político conturbado. Pinochet governa a ditadura no país, com centenas de vítimas que pagam o preço de serem contrários ao regime. Mas no final da década de 80, a abertura política aos poucos foi se configurando. Para conter o ânimo dos contrários, Pinochet, que ainda contava com apoio de boa parte da população, decidiu fazer um plebiscito para saber se o regime ditatorial continuaria ou não - era votar SIM ou NÃO. Ele tinha certeza de que venceria.
A população dizendo não à Pinochet |
E não apenas pela coragem do diretor Pablo Larraín, mas o mérito de uma execução que coloca NO entre os filmes com o trabalho de reconstrução de época mais bem feito do cinema recente. Para reviver o Chile de 1988, Larraín deixou de lado a película e usou uma U-matic 4:3, a mesma usada naquela época, sem falar no ótimo trabalho do figurino. Tudo pelo realismo. Qualquer desavisado acharia que No e Desaparecido - Um Grande Mistério de Costa-Gavras de 1982 são obras contemporâneas.
René e seu filho, ameaçados |
O mexicano Gael García Bernal vive René, um publicitário que acaba envolvido no desenvolvimento da campanha do Não, obviamente contrária à ditadura de Pinochet. Dessa forma, ele passa a desenvolver a campanha e aos poucos passa a sofrer perseguições e ameaças. Mas quanto mais encontra dificuldades no desenvolvimento da campanha mais ele se inflama para fazer uma campanha vitoriosa.
Campanha do "No", o apelo pela publicidade |
A campanha do Sim está segura da vitória, mas os partidários se incomodam quando em uma pesquisa popular o Não ameaça. A campanha bolada por René recebe críticas de todos os lados, ela é alegre, colorida, bem humorada, "parece um comercial de Coca Cola", diz um dos seus críticos. No youtube não é difícil encontrar propagandas da época, todas usadas no longa de Larraín. O tiro de René foi certeiro. Cansada da ditadura de Pinochet e buscando algo parecido com o que propunha a campanha do Não, com o slogan "Chile, a alegria já vem", a vitória foi confirmada e a população mostrou que estava farta de Pinochet. Ele ainda deu um jeito de ficar como Chefe das Forças Armadas até 1998.
"Chile, la alegria ya viene" |
René vai se desmontando conforme o longa passa. A pressão sobre ele só aumenta, as ameaças de grupos políticos ligados ao governo são constantes, inclusive contra seu filho. A medida que a história avança, René vai ficando mais e mais sozinho, ilhado no seu perigoso cargo de principal mente pensante por trás da campanha publicitará a enfrentar a ditadura sanguinária de Pinochet. Ele costuma andar pelas ruas de Santiago de skate, o que mostra audácia, um adulto com ideias de jovem revolucionário, o que mantém firme e convicto na sua decisão de abrir mão de tudo e de todos por uma ideologia.
Skate pelas ruas de Santiago, retrato perfeito da personagem de Gael |
Como filme, No funciona muito bem ainda mais com Gael, mais uma vez inspirado. Como registro histórico é obrigatório, tanto para fãs de cinema como para fãs de história política. O longa de Larrain é um filme só acertos. Veja abaixo o trailer de No.