domingo, 21 de dezembro de 2014

NO (2012)

Chile, país sitiado

NO (2012) - Filmes políticos são difíceis de serem feitos. Sempre envolvem a opinião particular dos realizadores e mexem com a memória das pessoas. Ainda mais quando se trata de algo tão recente. Chile 1988. O país passa por um período político conturbado. Pinochet governa a ditadura no país, com centenas de vítimas que pagam o preço de serem contrários ao regime. Mas no final da década de 80, a abertura política aos poucos foi se configurando. Para conter o ânimo dos contrários, Pinochet, que ainda contava com apoio de boa parte da população, decidiu fazer um plebiscito para saber se o regime ditatorial continuaria ou não - era votar SIM ou NÃO. Ele tinha certeza de que venceria.

A população dizendo não à Pinochet

E não apenas pela coragem do diretor Pablo Larraín, mas o mérito de uma execução que coloca NO entre os filmes com o trabalho de reconstrução de época mais bem feito do cinema recente. Para reviver o Chile de 1988, Larraín deixou de lado a película e usou uma U-matic 4:3, a mesma usada naquela época, sem falar no ótimo trabalho do figurino. Tudo pelo realismo. Qualquer desavisado acharia que No e Desaparecido - Um Grande Mistério de Costa-Gavras de 1982 são obras contemporâneas.

René e seu filho, ameaçados

O mexicano Gael García Bernal vive René, um publicitário que acaba envolvido no desenvolvimento da campanha do Não, obviamente contrária à ditadura de Pinochet. Dessa forma, ele passa a desenvolver a campanha e aos poucos passa a sofrer perseguições e ameaças. Mas quanto mais encontra dificuldades no desenvolvimento da campanha mais ele se inflama para fazer uma campanha vitoriosa.

Campanha do "No", o apelo pela publicidade

A campanha do Sim está segura da vitória, mas os partidários se incomodam quando em uma pesquisa popular o Não ameaça. A campanha bolada por René recebe críticas de todos os lados, ela é alegre, colorida, bem humorada, "parece um comercial de Coca Cola", diz um dos seus críticos. No youtube não é difícil encontrar propagandas da época, todas usadas no longa de Larraín. O tiro de René foi certeiro. Cansada da ditadura de Pinochet e buscando algo parecido com o que propunha a campanha do Não, com o slogan "Chile, a alegria já vem", a vitória foi confirmada e a população mostrou que estava farta de Pinochet. Ele ainda deu um jeito de ficar como Chefe das Forças Armadas até 1998.

"Chile, la alegria ya viene"

René vai se desmontando conforme o longa passa. A pressão sobre ele só aumenta, as ameaças de grupos políticos ligados ao governo são constantes, inclusive contra seu filho. A medida que a história avança, René vai ficando mais e mais sozinho, ilhado no seu perigoso cargo de principal mente pensante por trás da campanha publicitará a enfrentar a ditadura sanguinária de Pinochet. Ele costuma andar pelas ruas de Santiago de skate, o que mostra audácia, um adulto com ideias de jovem revolucionário, o que mantém firme e convicto na sua decisão de abrir mão de tudo e de todos por uma ideologia.

Skate pelas ruas de Santiago, retrato perfeito da personagem de Gael

Como filme, No funciona muito bem ainda mais com Gael, mais uma vez inspirado. Como registro histórico é obrigatório, tanto para fãs de cinema como para fãs de história política. O longa de Larrain é um filme só acertos. Veja abaixo o trailer de No.

    

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

SALÓ OU 120 DIAS DE SODOMA (1975)

Como cachorro, o ser humano descartável, aos olhos de 4 fascistas

SALÓ OU 120 DIAS DE SODOMA (Salo o le 120 Giornate di Sodoma) - 1944, a Itália é um país dominado por nazifascistas. E na cidade de Saló, jovens são sequestrados e mandandos para um castelo afastado. Lá conhecem 4 ricos e entediados nazifascistas, os mandantes dos sequestros. Eles não tem nomes, apenas são chamados por apelidos - o bispo, o duque, o magistrado e o presidente. Cercados por homens armados, os jovens ouvem como será sua nova vida dali para frente: "vocês estão aqui para satisfazer os nossos prazeres, ninguém lá fora sabe que vocês estão aqui, para o mundo externo é como se vocês já estivessem mortos".

Os 4 facistas - o bispo, o duque, o magistrado e o presidente

O longa do italiano Pier Paolo Pasolini é inspirado no livro de mesmo nome do Marquês de Sade e estará, sem dúvida, entre os filmes mais chocantes que você já assistiu e provavelmente irá assistir em toda a sua vida. São pouco menos de 2 horas, mas acredite, com cenas que você levará para sempre. Se você ainda tinha qualquer fé na humanidade, este filme te faz perder a total certeza de que o homem ainda é passivo de concerto. Você fica angustiado, triste, envergonhado e ao final enojado. Não é exagero.

Nudez, nada sensual, pontua o filme de fora a fora

Para suavizar, os créditos iniciais são exibidos em tela branca com uma fonte erudita e uma valsa que beira o cômico ao fundo, levemente lembra as aberturas dos filmes de Woody Allen, embora o diretor americano use jazz. Depois de chegarem ao castelo a história se divide em três capítulos, o ciclo das manias, o ciclo da merda e o ciclo do sangue.

Torturas das mais escabrosas - quando é pesado, acredite, fica pior

Em cada um dos ciclos, uma senhora prostituta, tão libertina quanto os 4, conta as suas escabrosas experiências com riquezas de detalhes num enorme salão. Cada velho tem uma equipe de jovens e guardar amados consigo. Os jovens inertes ficam passíveis, o tempo todo. A senhora demonstra um prazer enorme ao fazer aquilo. Ao fundo uma moça toca um piano o que dá uma leveza à cena, em contraste com as histórias sempre pesadas. Mesmo assim estranhamente tudo se encaixa, desde as histórias fortes, a senhora de vestido longo de festa, as caras de contentamento e prazer dos 4 velhos, os jovens inertes e sem reação, e as paredes envelhecidas de um castelo que já viveu dias melhores.

Cada velho tem um "time" com jovens que usa para seu bel prazer, além de guardas armados para inibir os revoltos

O ciclo das manias trata sobre manias sexuais depravadas e a cada momento um dos 4 libertinos se levanta de súbito e arrasta um dos jovens para uma sala ao lado para se satisfazer. O ciclo seguinte, o da merda, faz relação entre sexo e escatologia de todos os tipos. O ponto máximo, você já deve imaginar, é um jantar de gala tendo como prato principal... você sabe. Aqui, a repugnância chega ao máximo.

Repugnante

O ciclo do sangue é o momento onde os jovens que não se encaixaram no plano de satisfazer os libertinos a qualquer custo são punidos com torturas físicas das mais intensas, com cenas fortíssimas que beiram o realismo. Acompanhamos tudo de longe, como voyeur, assim como cada libertino o faz por vez, vendo tudo por binóculos. Em nenhum momento ouvimos os gritos de dor dos torturados. Somos grosseiramente convidados a assistir passivamente aquele festival de horrores.

E ao final os que não se encaixaram no regime são descartados das formas mais desumanas

Uma valsa bonita e inocente, com a mesma trilha dos créditos iniciais, é tocada para encerrar o filme, enquanto dois jovens soldados dançam pela sala.

A valsa inocente e incoerente

Com Saló, Pasolini pretendia iniciar a sua trilogia da morte (já havia lançado a trilogia da vida com os filmes Decamerão, Os Contos de Canderbury e As Mil e Uma Noites), mas o diretor foi encontrado morto com o rosto desfigurado em condições até hoje inexplicáveis pouco depois de terminadas as gravações, Saló ainda não havia nem sido lançado.

Pasolini no set de Saló

Ao mesmo tempo que foi proibido, e ainda o é, em diversos países, Saló alcançou status de filme de arte, um estudo sobre a condição humana, e por Pasolini ter vivido muitos anos na Itália fascista, o filme ganhou um ar de crítica da sociedade, do quão ruim o ser humano pode ser, prova de que a maldade está em cada um de nós. Ninguém é totalmente bom ou completamente mal, esses dois sentimentos ficam adormecidos dentro de nós, se polarizando, de lado a lado.
Assista abaixo o trailer de Saló ou 120 Dias de Sodoma:

sexta-feira, 23 de maio de 2014

A DATILÓGRAFA (2012)

Rápida no gatilho, ou melhor no teclado de uma máquina de escrever

A DATILÓGRAFA (Populaire / 2012) - O cinema francês nunca para, está sempre tentando se reinventar. E alguém nega que tem conseguido? Sucessos como O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, de 2001 e O Artista, de 2011, mostram que os franceses tem um prazer em contar histórias de um jeito diferente. Em ambos os filmes é fácil de se notar a opção de seus diretores em homenagear um cinema de uma outra época, quando tudo era mais ingênuo, digamos. O resultado? Filmes gostosos de assistir, leves embora não levianos.

O diretor e sua paixão

Em A Datilógrafa, do diretor estreante Régis Roinsard, a linguagem é parecida. Os créditos iniciais, coloridos, feitos em desenho, como uma pop art dos anos 50 remete imediatamente à Billy Wilder, diretor de sucessos como Quanto Mais Quente Melhor, de 1959, Crepúsculo dos Deuses, de 1950, O Pecado Mora ao Lado, de 1955, Se Meu Apartamento Falasse, de 1960, e tantos outros.

Decididamente um filme que não parece ser dessa década

Assim que terminam os créditos já somos levados pelos passos de um sapato feminino usando uma saia rodada, é mais um indício, estamos nos anos 50. Mais precisamente 1958. É neste ano em uma pequena cidade francesa que se passa a história de Rose e Louis. Ele procura uma secretária, o emprego mais cobiçado das moças da época e ela se candidata junto com outras dezenas.

Desde pequena a paixão pela máquina de escrever

Rose é péssima secretária, realmente muito ruim, mas tem o dom de datilografar muito rápido e chama a atenção de Louis, principalmente por conta de um torneio estadual de rapidez diante de uma máquina de escrever. Pensando no titulo do torneio, Louis contrata Rose.

Rose e Louis

Ambicioso, Louis treina Rose e o resultado aparece - ela vence o torneio estadual e o nacional, disputado em Paris. E se classifica para a finalíssima mundial contra datilógrafas dos EUA, da Alemanha, da Coréia do Norte e mais outros lugares.

Rose disputando o título mundial

De uma forma encantadora pelo conteúdo, pelo colorido da paleta do filme, pelos cenários, pela trilha sonora escolhida a dedo, A Datilógrafa conta uma história de amor com um tom de comédia do passado, leve e escapista. Vale para aqueles sábados a tarde de chuva fina e cobertor no sofá da sala.  
Veja abaixo o trailer de A Datilógrafa.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

R.I.P.D. - AGENTES DO ALÉM (2013)

Dupla de policias mortos-vivos

R.I.P.D. - AGENTES DO ALÉM (R.I.P.D. / 2013) - Em 2003 Peter Lankov lançou pela Dark Horse uma graphic novel, que ficou famosa pelo conteúdo cômico e absurdo, ao mesmo tempo que trazia um forte clima de suspense e ação policial. Se chama R.I.P.D. - Rest In Peace Departament. A história trata de uma corporação formada apenas por policias mortos trabalhando numa delegacia de polícia do além, prestando serviço no mundo dos vivos. Dez anos depois o diretor Robert Schwentke se viu com o dever de transpor aquelas páginas para a telona, para isso convocou Ryan Reynolds e Jeff Bridges para viver a dupla de policiais do além, além de Kevin Bacon, mais uma vez vivendo um vilão.

Personagens da Graphic Novel...
... personagens do filme.


Trabalhando para a R.I.P.D., a dupla tem que descer à Terra e capturar os undeads, uma raça de mortos que ainda vagam entre nós e se recusam a descer para o inferno para cumprir a pena pelos crimes que cometeram em vida. A coisa passa a se complicar quando os undeads criam um plano para abrir um portal e reverter a ordem natural da vida, dessa forma os mortos retornariam do inferno para o mundo dos vivos.

"Undead"

Logo que é morto por seu parceiro, Nick (Ryan Reynolds) vê tudo paralisado como se o mundo tivesse parado naquele segundo. Ainda na surpresa do acontecido ele acaba sendo puxado para o céu, passa por algumas camadas, como o inferno, o limbo, o purgatório e chega numa sala pequena e toda branca onde se vê diante de uma mulher que lhe explica a sua situação - "você está morto e agora trabalha para a R.I.P.D.", e ainda lhe apresenta seu novo parceiro, o cowboy de poucos modos Roy (Jeff Bridges).

Na "Delegacia de Polícia" a primeira impressão entre os parceiros não é das melhores

A princípio a parceira não é das mais fáceis, eles não se entendem. Mesmo estando mortos eles conseguem conversar e interagir com qualquer pessoa viva, só que para isso eles assumem uma identidade totalmente diferente das que tinham em vida.

É assim que Reynolds e Bridges são vistos pelos vivos

Kevin Bacon mais uma vez vive o cara a não ser confiado

Apesar de ser um divertido passatempo o filme não funciona em sua principal aposta - a química da dupla Bridges-Reynolds, como funcionou tão bem na trilogia MIB com Will Smith e Tommy Lee Jones. Em R.I.P.D. Bridges parece incomodado, não está à vontade apesar de lhe cair como uma luva o xerifão mal humorado. Enquanto Ryan Reynolds também não se encaixa bem no papel, ele não é naturalmente engraçado como pede a personagem. Por algum motivo a dupla não funciona e o filme não decola.

A quíímica não rolou

A ponta para uma sequência fica clara ao final, mas como não fez muito barulho não parece haver sequência. Nunca se sabe. De qualquer forma R.I.P.D. - Agentes do Além tem um argumento ótimo, é realmente uma ideia muito boa, quem sabe com uma sequência eles concertem alguns equívocos aqui e ali, de repente com a inserção de um terceiro grande nome e façam um filme que funcione por completo. Estamos no aguardo.
Veja abaixo o trailer de R.I.P.D. - Agentes do Além.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

BLUE JASMINE (2013)

Cate Blanchett ganha todos os prêmios com sua Jasmine

BLUE JASMINE (2013) - Quem já assistiu documentários como "Wild Man Blues" de Barbara Kopple de 1997, "Woody Allen: Um Documentário" de Robert B. Weide de 2012 ou qualquer outro filme biográfico sobre Woody Allen já sabe disso. Quem já leu qualquer livro como "Conversas com Woody Allen" ou qualquer outro biográfico também já sabe disso. Woody nunca escondeu - na essência ele é um escritor. Não só por conta dos seus cinco livros publicados (O Nada e Mais Alguma Coisa, Adultérios, Cuca Fundida, Sem Plumas e Que Loucura!), ele próprio gosta de se definir assim. Talvez por isso ele tenha feito uma descarada homenagem a Tennessee Williams, um dos seus escritores ídolos em Blue Jasmine.

Woody dirigindo Blanchett e Baldwin

Os textos de Williams se tornaram peças de teatro e depois filmes inesquecíveis, entre eles Um Bonde Chamado Desejo (que virou filme em 1951 com o título de Uma Rua Chamado Pecado estrelado por Marlon Brando e Vivien Leigh), onde o roteiro de Blue Jasmine é baseado.

Poster dos filmes

Blanche Dubois, papel de Leigh no filme de 1951, ficou famosa pela sua dramaticidade e seus delírios dos tempos em que era rica. Virou alcoólatra e ficou louca. Assim como Jasmine.

Jasmine e Blanche - homenagem
Cate Blanchett, que merece todos os inúmeros prêmios que recebeu pela interpretação de Jasmine, faz uma mulher da alta sociedade casada com Hal (Alec Baldwin), um investidor de sucesso que não para de fazer dinheiro.

Mimada pelo marido 

Quando se descobre que a forma que Hal enriquece é ilícita, Jasmine cai no desespero, é obrigada a se desvencilhar de uma hora para outra de todos os seus bens, Hal perde tudo, é preso e se enforca na cadeia. A vida desmorona ao redor de Jasmine que acaba por sofrer um colapso nervoso, bebe cada vez mais e caminha falando sozinha pelas ruas.

Jasmine perde tudo, inclusive a si própria

Acaba buscando ajuda da irmã Ginger e vai passar alguns tempos com ela. Com seus delírios de ex-rica, Jasmine abala a vida de Ginger que mora com o namorado Augie e dois filhos. Augie perde todo o dinheiro que tinha apostado nos investimentos de Hal e por isso abandona Ginger. Essa começa a namorar o truculento Chili, que tampouco se dá com Jasmine.

Jasmine ao lado da irmã e de Chili, à direita

Jasmine é como um Rei Midas ao avesso, tudo o que ela encosta dá errado e acaba sentada num banco de praça falando sozinha, lembrando dos tempos que tinha tudo e vivia de esbanjar.

Ao lado da irmã Ginger
Um roteiro inteligente e uma montagem simples, porém eficiente, fazem de Blue Jasmine um dos grandes momentos do cinema recente de Woody Allen. A eficiência da montagem está na leveza com que a história flutua entre o presente e o passado de Jasmine. Cenas curtas dela rica no passado e pobre no presente permeiam todo o filme, pequenos ganchos aqui e ali deixam a história fluida, prendem a atenção enquanto desvendam para onde Jasmine vai, mostrando ao mesmo tempo como chegou àquela condição.

Depois da morte do marido Jasmine tenta outros namorados, mas nada funciona

Blue Jasmine rendeu o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Atriz para Cate Blanchett, o filme teve ainda outras 33 indicações em outros prêmios, faturou 25 (23 deles para a interpretação de Cate Blanchett). Imperdível para fãs de Woody, de um bom roteiro e de ótimas interpretações.

Jasmine sem saída

Veja abaixo o trailer de Blue Jasmine.

   

segunda-feira, 21 de abril de 2014

DIANA (2013)

Diana bela, mas sem brilho

DIANA (2013) - O choque foi grande, principalmente na Grã Bretanha. O dia 31 de agosto de 1997 marcou a todos por lá pela tragédia que caiu sobre a real família britânica - a morte da Princesa Diana num acidente de carro em Paris. Os paparazzi que perseguiam Diana foram considerados os culpados. Ela estava ao lado de Dodi Fayed, apontado como namorado de Diana à época. A história contada no livro "Diana: Her Last Love" de 2001 trata a relação com Fayed de forma diferente. E é na história contada nesse livro que se baseia o longa Diana.

O livro que inspirou o filme

Segundo o livro o médico Hasnat foi o grande amor da vida de Diana

Jessica Chastain estava entre as favoritas para interpretar Diana, mas o papel ficou mesmo com Naomi Watts. A atriz, também britânica, deu uma forçada no sotaque, encarnou o olhar triste de Diana e usou figurinos idênticos, mas nada disso adiantou. É sem dúvida, um dos piores trabalhos de Naomi. Só pelo trailer já dá para perceber que ela não está nada confortável no papel que poderia lhe proporcionar uma maior notoriedade.

Naomi não esteve inspirada em Diana

O filme contempla os últimos dois anos da vida de Diana, justamente no período que ela começa a se envolver com o cirurgião Hasnat Khan. A relação não é das mais fáceis, vivem de encontros às escondidas e quando são descobertos pelos paparazzi tudo desmorona. Sem sossego, Diana traz Hasnat para o "inferno" da sua vida agitada. As brigas se tornam constantes. O fim do relacionamento é a única saída. Pouco depois, Diana se aproxima de Dodi Fayed. Ela é fotografa no iate de Fayed.

A do filme e a real, ambas perdidas

Oliver Hirschbiegel dirige o longa. Seus filmes mais famosos são A Experiência de 2001 e A Queda! As Últimas Horas de Hitler, de 2004. Em Diana, Oliver se propôs a mostrar uma princesa frágil, vulnerável e influenciável, em alguns momentos até sem sal. Isso contribuído é claro, pela fraca atuação de Naomi

A semelhança entre as "Dianas" fica só nas roupas
O clima documental é uma das apostas de Oliver, nos vemos inseridos na realidade do palácio exclusivo onde mora a princesa de Gales. Damos pela conta que Diana, apesar do conto de fadas que sempre viveu, é uma pessoa normal e muito insegura, dependente dos filhos William e Harry (que são vistos em uma cena rápida e de longe) e necessitando de um amor a quem confiar.

O amor impossível de Hasnat e Diana

Como resultado o filme Diana não decola, não funciona. Uma personagem tão rica como Diana merecia um recorte maior da sua vida, mesmo que fossem em pequenos flashbacks e não apenas os últimos dois anos. Para quem assiste filmes recentes sobre a intimidade da realiza britânica, como em A Rainha e A Dama de Ferro, se deparar com Diana não deixa de ser uma decepção.

Cenas da vida real representadas quase à total semelhança

Veja abaixo o trailer de Diana.

domingo, 13 de abril de 2014

HERÓIS DE RESSACA (2013)

20 anos depois, o propósito desse reencontro

HERÓIS DE RESSACA (The World´s End / 2013) - Edgar Wright e Simon Pegg estão de volta! Todo Mundo Quase Morto, o maior sucesso da dupla que escreve, dirige (Wright) e atua (Pegg), foi lançado em 2004. É sobre como dois amigos perdedores (Pegg ao lado do seu inseparável Nick Frost) lidam com suas vidas após um ataque zumbi que vem dizimando Londres. Se você ainda não viu nem precisa continuar lendo esse post...

Todo Mundo quase Morto de 2004, uma comédia obrigatória

Depois veio Chumbo Grosso, que repetiu o trio Wright-Pegg-Frost, mas sem tanto sucesso. E agora chega Heróis de Ressaca, que parece ser um título idiota mas tem tudo a ver com o propósito do filme e leva o carimbo de Wright e Pegg, uma comédia escrachada, absurda e cheia de referências.

Amigos antes...
... nem tão amigos assim hoje

O filme começa com um flashback de 5 amigos no início dos anos 1990 na pequena cidade de Newton Haven, nas proximidades de Londres, onde estudam. Lá eles criam um mapa, chamado de "Golden Mile" - trata-se de um plano para que em uma noite eles passem por cada um dos 12 pubs locais, é claro, bebendo em cada um desses 12 pubs. O flashback acaba mostrando o motivo de eles não conseguirem completar a Golden Mile - um passa mal de tanto beber depois do quarto pub, outro se perde da turma, e o resto dorme no jardim antes de chegar ao último pub, chamado The World´s End, o título original do longa.

A "Golden Mile" e os 12 pubs

Um corte seco nos leva aos dias de hoje quando o líder da turma, Gary King (Pegg), tenta juntar o grupo para tentar refazer a Golden Mile. Mas uma coisa é fazer a trilha quando se é jovem, nos seus 20 e poucos, outra é fazer depois dos 40. King não cresceu nada, usa as mesmas roupas, dirige o mesmo carro, é imaturo e tem as mesmas manias de antes, enquanto os outros levam as suas vidas, casados com filhos, encaminhados na carreira. Chegam contrariados à Newton Haven, mas dispostos à ajudar King na missão, que parece ser seu único objetivo concreto na vida.

PRÓXIMOS PARÁGRAFOS TEM SPOILERS

Depois do quarto ou quinto pub, onde todos já se entregaram à bebida, geralmente pint ou vodka, obviamente eles ficam ligeiramente bêbados. O filme também se entrega à esta bebedeira e a história dá uma reviravolta inesperada. King está no banheiro e puxa papo com um garoto, de uns 15 anos. O garoto não responde, não tem expressão alguma e King, irritado, puxa uma briga com o jovem. Em certo momento ele arranca a cabeça do menino com um golpe e começa a vazar uma tinta azul do pescoço solto.

Sangue azul?

Pelo barulho os quatro amigos de King entram no banheiro e veem o garoto sem cabeça se contorcer no chão. Logo, entram outros quatro garotos e começa uma briga generalizada entre os oito. Não demoram para perceber que os garotos são na verdade droides ou robôs, bonecos ou o que quer que seja, a certeza é que não são humanos. Saem de lá rapidamente.

Newton Haven dominada por eles

A cidade de Newton Haven se mostra dominada por estes robôs que "substituem" os originais e assumem seus corpos deixando clones em seus lugares. O corpo humano então é descartado e serve de adubo, para o serviço das máquinas, comandada por uma força alienígena. Por mais que o lógico seria recolher as coisas e cair fora dali, eles decidem primeiro completar a Golden Mile. Eles destroem robô a robô, no meio de um pint e outro.

FIM DOS SPOILERS

O notável em cada filme roteirizado, dirigido e atuado por Wright e Pegg é a total falta de certeza dos próximos passos na história, ficamos à deriva e, literalmente, qualquer coisa pode acontecer! Além de boas piadas, muito bem encaixadas, o bem elaborado roteiro de Heróis de Ressaca nos leva à uma crítica no modo como a humanidade se entrega à sua própria digitalização. Hoje tudo depende de celulares, tablets, interfaces, a nossa dependência das máquinas é grande e presente. Não dá para se imaginar que esse seja o desfecho de um filme de comédia, não é mesmo? Mas é por aí que o filme caminha. E muito bem, por sinal.

Atores engraçados, roteiro bem elaborado e um diretor talentoso

É o humor britânico e nonsense, bebido na fonte de Monty Python, que merece respeito e merece ser assistido, ainda mais se você for fã de Todo Mundo Quase Morto. O humor é o mesmo, tem o mesmo ritmo e a dupla Pegg/Frost segue muito afiada. Indispensável.

Tudo é revelado... até o fim do mundo com esses caras fica engraçado!

Destaque para o hilariante uso de Alabama Song (Whiskey Bar) dos Doors, assim como também foi muito bem sucedido o uso de Don´t Stop me Now do Queen em Todo Mundo Quase Morto.
Veja abaixo o trailer de Heróis de Ressaca.