O filme independente alcançou um sucesso jamais inesperado por ele ou mesmo pela Miramax, pequena distribuidora que se arriscou a distribuir o filme. Sexo, Mentiras e Videotape concorreu ao Oscar de melhor roteiro e o filme foi premiado ainda com a palma de ouro em Cannes. Nada mal hein?
Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça
A história é centralizada em quatro pessoas. Ann (Andie McDowell) vive um casamento distante com John, eles não mantém uma relação íntima há bastante tempo, como ela confirma para seu terapeuta. Por vezes - ela admite - John a procura por sexo, mas ela se nega.
Uma relação fria
John então vai à procura de Cynthia (Laura San Giacomo), irmã de Ann, que embarca nessa relação promíscua. Tudo ali é apenas carnal. Eles se ligam o tempo todo, apenas marcando sexo. John larga seu trabalho, inventa uma desculpa mas não perde uma oportunidade de sair para se encontrar com Cynthia.
Cynthia e o caso com o marido da irmã
A chegada do reservado Graham (James Spader) mexe com todos. Impotente assumido, ele se satisfaz gravando mulheres falando sobre as suas experiências sexuais, e guarda as fitas que levam os nomes de cada uma delas.
"Que tal se eu te gravar?"
Admito que me surpreendeu a forma como esse filme se tornou tão vitorioso nos festivais pelo mundo ou mesmo que ele tenha se tornado um dos independentes mais rentáveis do período, o que abriu caminho para muitos outros. Particularmente, achei Sexo, Mentiras e Videotape um pouco sonolento pela forma como Soderbergh conduziu a história e o roteiro previsível demais.
Relatos gravados
De bom destaco a atuação de Spader, sombria e misteriosa na medida. E depois mudando de tom quando a cena pedia isso, vale o destaque. No mais, nada demais, pelo menos não para tanto barulho.
LA LA LAND - CANTANDO ESTAÇÕES (La La Land / 2016) - Está aí um daqueles filmes que jamais será lembrado pelo título em português. Não que "Cantando Estações" seja horroroso, mas é que La La Land é tão mais forte e marcante. O título em português vem justamente do fato de o roteiro, criado por Damien Chazelle - novato de pouco mais de 30 anos - é contado através das estações do ano. Em cada uma delas uma paleta de cor, um ritmo de roteiro e uma motivação diferente entre os personagens principais. Cheio dos cuidados, La La Land é isso - um filme feito no capricho, em cada take.
Chazelle, à esquerda, de camiseta cinza
Isso reflete na tela. As cores saltam, vibram, a iluminação preenche os vazios e os fundos de cena são simplesmente maravilhosos. É tudo muito bem pensado, arquitetado até, com um cuidado poucas vezes visto recentemente. E todos esses elogios não são desnecessários, são puro mérito.
Tudo muito colorido e bem pensado
A história de La La Land é das mais simples. Garçonete (Emma Stone) e pianista (Ryan Gosling) tentam o sucesso em Hollywood. O sonho dos dois só os une mais, ficam mais fortes juntos. No meio de danças, sapateados, coreografias e muita música, La La Land conta a história de uma dupla se sonhadores.
O mais impressionante em La La Land - independente do enorme sucesso e das críticas positivas - é a beleza que se vê desde o primeiro minuto até o último. As músicas e as coreografias são muito bem feitas e digo sem medo, são felizmente curtas - digo isso porque faço parte do time que se irrita com musicais quando as cantorias interrompem a história. Aqui não acontece isso.
O desejo de ser nas telonas
Não vou contar como a história se desenvolve. E nem preciso. Primeiro porque não vale a pena - esse é o tipo de filme que tem que "pagar pra ver". E segundo que esse é daqueles que vale pela jornada e não apenas pela conclusão. Mas adianto que os minutos finais são de dar um nó na garganta.
Em poucos meses, Gosling aprendeu a tocar piano para o papel
Damien Chazelle, um "moleque" de apenas 32 anos, pode se sagrar o diretor mais jovem a levar uma estatueta pra casa, tudo graças ao seu amor pelo jazz e pelo cinema. No ótimo Whiplash ele já falava sobre esse amor pelo jazz e pela música e geral. Em La La Land ele foca acima de tudo no cinema. É acima de tudo, uma grande homenagem à sétima arte tendo referências à todo momento dos anos de ouro de Hollywood. Vale cada frame.
Veja abaixo o trailer de La La Land: Cantando Estações.
LION: UMA JORNADA PARA CASA (Lion / 2016) - Escolher o britânico Dev Patel para interpretar o personagem título de Lion: Uma Jornada Para Casa não foi uma tarefa das mais fáceis. Primeiro porque segundo os produtores, o ator, que ficou conhecido mundialmente por estrelar o Quem Quer Ser Um Milionário? e por pouco não foi o protagonista de As Aventuras de Pi, era a óbvia escolha para viver alguém com aparência de indiano. Mas na hora que fez o teste, Patel convenceu a todo mundo - era a escolha perfeita.
Uma escolha óbvia... mas perfeita
Lion: Uma Jornada para Casa começa no interior da Índia com dois irmãos - um de onze e outro de cinco - praticando pequenos furtos para conseguir o alimento do dia a dia. Assim ajudam a mãe que trabalha carregando pedras. Para complementar a pouca renda da casa, o mais velho trabalha a noite. E numa dessas noites ele leva o irmãozinho Saroo junto. O pequeno acaba adormecendo na estação. Acorda sozinho, no meio da madrugada, num lugar desconhecido.
Dando vida à Saroo
O pequeno Saroo corre pela estação chamando pela mãe e pelo irmão, sem sucesso. Dentro de um trem, ele acaba indo parar em outro local, quilômetros distante de casa. Lá, ele fala com as pessoas as ninguém entende - ele fala em um dialeto diferente. Acaba encontrando abrigo com outras crianças abandonadas que dormem por ali. Ele já não está mais numa pequena cidade rural, é uma cidade grande que aparece na sua frente. Vai parar num orfanato e acaba sendo adotado.
O pequeno Saroo
O seu destino é a Austrália, onde viverá com seus pais adotivos - Nicole Kidman é a mãe. Logo, eles adotam outra criança pobre indiana e juntos os quatro formam uma família feliz, vivendo em barcos, praias, todo o luxo que os dois meninos nunca tiveram na infância na terra natal.
Amor de mãe
Ao fazer 25 anos, Saroo (Dev Patel, magnífico e intenso) decide buscar a família biológica - ele não consegue viver com a impressão de que tenha trocado a mãe e o irmão por uma vida de luxo na Austrália. Esses pensamentos passam a torturar o jovem. Mas ele nem sabe por onde começar - a Índia é o sétimo país em extensão do mundo, e ele era muito pequeno quando tudo aconteceu. Uma amiga sugere usar o Google Earth - programa novo na época. Ele encontra uma pista e lá vai ele atrás da família biológica.
Pesquisa on-line
Lion é uma encantadora história real que gasta boa parte do início da quase hora inicial desenvolvendo o pequeno Saroo. De cara somos pegos pelo olhar daquele menininho e somos arrastados pela sua busca atrás dos familiares naquela cidade entupida de pessoas.
Pé na estrada
O olhar dele é passado para Patel na interpretação de Saroo, vinte anos depois. Um ator que cresce a olhos vistos e tem um futuro brilhante não apenas fazendo papéis de indianos mas sim para qualquer tipo de personagem. O cara é bom. Lion merece todos os holofotes que recebe. Não apela, mesmo tendo uma história que emociona até os corações mais duros - alguém buscando sua família que não vê há mais de vinte anos.
Linda fotografia
Mas... (sempre tem um mas), no final as fotos das pessoas reais por trás dos personagens são mostradas. O que é sempre muito legal. Mas aqui tudo isso é feito de uma maneira meio estranha... A trilha sonora que é bem instrumental e tocante durante boa parte do filme, no final, bem na hora das fotos reais, se torna um pop rasgado que destoa muito de tudo ali! É tão separado do filme e de tudo o que a gente acabou de ver que quebra o clima do filme bruscamente. Mas (lá vem outro mas) nada disso estraga a experiência de Lion.
Veja abaixo o trailer de Lion: Uma Jornada para Casa.
A QUALQUER CUSTO (Hell or High Water / 2016) - Texas... Um dos estados norte americanos mais retratados no cinema é usado aqui - apenas no roteiro porque nenhuma cena foi filmada lá - como pano de fundo para uma história de faroeste... modernizada. David Mackenzie é o diretor que encontra aqui o melhor roteiro que já caiu na sua mão e entrega o melhor filme que a sua curta carreira já produziu.
David Mackenzie dirige Chris Pine
Em A Qualquer Custo, os irmãos Toby e Tanner vivem de aterrorizar os pequenos bancos das minúsculas cidades do interior do Texas. Eles cometem seus crimes nas primeiras horas da manhã e assim conseguem assaltar dois ou três bancos em único dia. Quando chegam em casa - um rancho afastado - enterram o carro para não levantar suspeita.
Assaltantes em ação
Mas a polícia está no encalço. Marcus (Jeff Bridges em ótima atuação, embora repetindo elementos de outros personagens que fez na carreira) segue com o companheiro meia indígena meio mexicano para a região dos assaltos. E lá começam a interrogar as figuras locais atrás de pistas.
Texas Ranger no encalço
Tudo isso nos primeiros 20 minutos de filme em um ritmo rápido, com assalto e fuga. A partir daí o filme muda de ritmo bruscamente, de propósito. David Mackenzie dá espaço para que cada personagem se desenvolva. Tudo isso em meio a placas de "Vende-se", "Aluga-se" ou "Empréstimos Bancários", o que ajuda a entender o desespero de algumas pessoas para sustentar suas famílias. No caso dos irmãos, ou pelo menos de um deles, a saída é levantar dinheiro assaltando as instituições bancárias.
Vítimas do sistema política e econômico que amasseta os mais pobres
Aos poucos o ritmo volta para o do começo eletrizante até o trecho final, quando os irmãos decidem por um outro assalto, desta vez em um banco muito maior.
Irmãos ambiciosos
A Qualquer Custo é um acerto em muitos sentidos, vale por trazer a linguagem do faroeste e aquele clima todo único para um filme que se encaixa em outros rótulos - como um road movie, por exemplo. Jeff Bridges foi feito para viver um xerife, no caso aqui um Texas Ranger a caminho da aposentadoria, cuja voz calma cheia de sotaque e as explosões de raiva cabem muito bem.
UM LIMITE ENTRE NÓS (Fences / 2016) - Tony é a premiação mais importante do teatro - é o Oscar dos palcos. Um Limite Entre Nós é uma das peças mais famosas dos últimos anos no teatro norte americano. Na década de 80/90, James Earl Jones - o imortal dono da voz de Darth Vader - ganhou o Tony por sua interpretação de Troy. Nos últimos anos, os cinco principais atores da nova montagem levaram o Tony também. Toda a turma agora está de volta junta - sob a direção de Denzel Washington.
A peça - um sucesso nos palcos
A história se passa na década de 50 quando Troy (Washington impressionante) leva a vida dura dos subúrbios onde é lixeiro, enquanto tenta manter bom relacionamento com a esposa Rose (Viola Davis magnífica). O problema está na relação dele com o filho, que não recebe carinho algum do pai e chega em certo momento até a questioná-lo: "Porque você não gosta de mim?"
A difícil relação com o filho
Tudo complica ainda mais quanto o truculento Troy descobre que será pai de novo, de uma relação fora do casamento. O relacionamento com a esposa - que por machismo inerente à época já era naquele estilo "homem trabalha e mulher cuida da casa" - desmorona. Rose diz que abriu mão de tudo para manter aquela família unida e é aí que Troy percebe - a força da família nunca foi ele, e sim a esposa.
O esporte no sangue - assim como o pai
Um Limite Entre Nós é o título perfeito para um drama de época sobre uma família negra vivendo numa época difícil, de segregação. Um bom retrato de uma periferia tipicamente americana onde ainda se sonhava com algo melhor, um futuro no mínimo digno.
O irmão de Troy - o Bubba de Forrest Gump
A química do elenco é maravilhosa Também pudera, depois de encenar a peça tantas e tanta vezes - 114 para ser exato - não tem como o time não funcionar. Todos ali sabem de cor o texto que estão dizendo.
Denzel e Viola nos palcos
O problema de Um Limite Entre Nós está justamente no texto. Os diálogos - típicos de teatro - são muito longos e por isso as cenas são enormes. Dentro de uma mesma cena é possível acompanhar vários assuntos acontecendo ao mesmo tempo, não funciona muito bem para cinema não. Na minha opinião o texto poderia ser melhor adaptado - de qualquer forma, ironia ou não, o roteiro concorre ao Oscar deste ano. Acho difícil, mas pode ser que cale a minha boca. Quem sabe...
Veja abaixo o trailer de Um Limite Entre Nós.
Desmond Doss (interpretado pelo "cara de tonto" Andrew Garfield) e o irmão Hal tem problemas com as bebedeiras do pai (Hugo Weaving), um homem que encontra na bebida a saída para esquecer o passado trágico na Primeira Guerra. Ele visita com frequência o túmulo dos soldados mortos no combate. A relação dele com os filhos e a esposa é nula.
O pai de Desmond tendo que livrar-se dos fantasmas do passado
O jovem Desmond, contrariando os pedidos da família, se alista no exército, mas para ser médico - por princípios cristãos ele não quer colocar a mão em um rifle. Durante o treinamento no quartel general, ele passa maus bocados nas mãos do sargento (Vince Vaughn) e dos demais soldados. Desmond apanha à noite, é levado à corte por contrariar as normas do Exército, mas por fim consegue seguir com os soldados para a batalha em solo japonês.
O sargento que era para ser durão
Durante a batalha em Okinawa - repito, com as melhores cenas de guerra jamais vistas - Desmond se esgueira o tempo todo dos ataques dos inimigos, mas prestando socorro aos soldados feridos. A batalha segue no dia seguinte, os soldados descansam, menos um - Desmond continua sozinho a resgatar os soldados durante a madrugada. Resgata até soldados japoneses.
Doss e sua missão
Parece mentira mas a história é real. Ao final do filme surgem fotos e trechos de entrevistas comprovando o feito de Desomd Doss - o único soldado a ser condecorado com a medalha de honra ao mérito numa guerra sem ter disparado um único tiro. Ao final, em uma sequência que só poderia surgir num filme de Mel Gibson, Doss é comparado à uma figura santa, imaculada.
O quase santo Doss
Mel Gibson acerta em cheio ao fazer um retrato da guerra do ponto de vista dos que morrem - a batalha foca pouco nos heróis que conquistam trincheiras e avançam pelo terreno inimigo. O olhar é pros que morrem, muitos jovens que acabaram de entrar no terreno, mal enxergam o inimigo e são alvejados por um tiro certeiro. Choca como as vidas são descartáveis e quantas se perdem com poucos passos no terreno de combate.
O set visto de cima
Defeitos? Sim, dois eu diria - Andrew Garfield e Vince Vaughn. O primeiro começa e termina o filme com a mesma cara de juvenil idiota, olhos esbugalhados e expressão de "não sei o que estou fazendo aqui". Já Vaughn... não sei, simplesmente não funciona no papel de um sargentão linha dura. Dá vontade de rir toda vez que ele levanta a voz. Mas por pior que os dois estejam eles não estragam o ótimo Até o Último Homem.
"Por favor Senhor, me ajude a resgatar mais um..."
MANCHESTER À BEIRA MAR (Manchester By the Sea / 2016) - Matt Damon era o dono da ideia e do projeto por um bom tempo. Ele criou os personagens, desenvolveu um pré-roteiro, mas abandonou tudo por conflitos na agenda. Coube ao amigo Kenneth Lonergan tocar o barco. Lonergan gostou tanto do pré-roteiro que desenvolveu ainda mais o trabalho e aceitou assumir a direção do longa, depois de 11 anos sem assinar um filme.
Em Manchester à Beira Mar, Lee (Affleck) é o zelador em um condomínio de apartamentos em Boston. Ganha um salário mínimo para desentupir privadas, limpar calhas, tirar o gelo da entrada e etc. Tudo isso aguentando ainda o mal humor dos moradores. Lee tem fala mansa, voz baixa daquelas que falham quando saem da boca, e um olhar sereno, mas que se inflama por pouco. Depois de beber, ele costumeiramente arruma brigas no bar local apenas por olharem para ele. Um cara odioso... à princípio.
O telefone toca e tudo muda
Ele recebe uma ligação informando que o irmão, que tinha uma doença rara no coração, acaba de falecer. Lee larga tudo e encara 1 hora e meia de estrada até chegar à Manchester, a cidade da infância, onde morava com toda a família. Lá, ele reconhece o corpo do irmão no hospital e começa os procedimentos do funeral.
SPOILERS
O choque com a perda do irmão só faz com que Lee se feche ainda mais. Sua mente viaja e é através de flashbacks que as peças do quebra cabeça começam a se encaixar. Descobrimos que, pouco tempo antes, Lee era um cara normal, amoroso que vivia com a esposa Randi (Michelle Williams) e os três filhos pequenos. Mas uma noite de bebedeira com os amigos em casa resulta em um erro bobo, que mudaria sua vida. Ele acende a lareira, não coloca a proteção, uma das madeiras rola e incendeia a casa toda. A esposa é salva, as crianças não. Começamos a entender melhor porque aquele cara odioso é tão fechado.
Lee e o sobrinho Patrick
Pelo testamento, o irmão coloca seu filho adolescente Patrick sob a guarda de Lee, já que a mãe deste casou de novo e sumiu do mapa. E agora os dois "cabeça-dura" tem que aprender a levar a vida juntos nesses primeiros momentos quando tudo se perde.
FIM DOS SPOILERS
Lonergan acerta na mão em respeitar o público, principalmente ao não ser tão didático em alguns momentos - a própria história trata de explicar o que é flashback e o que não é. Aqui não se usa claquetes, mudanças de trilha ou iluminação para mostrar que algo é passado e presente.
Michelle Williams em atuação aclamada
Mais do que isso - a história não apenas mostra as dores dos personagens, ela te convida a entrar e enfrentar aquelas dores juntos com eles. Na verdade não é bem um convite - está mais para uma intimação. O filme te puxa junto.
Abraço de irmão
Manchester à Beira Mar é um filme de descobertas através de um processo de amadurecimento. Casey Affleck faz do calado e explosivo Lee o alicerce que precisava para se firmar de vez na carreira - ele já levou o Globo de Ouro por esta interpretação e pode levar o Oscar também. E merece, é um trabalho notável.
Veja abaixo o trailer de Manchester à Beira Mar.
A CHEGADA (Arrival / 2016) - De 2013 pra cá, Dennis Villeneuve tem trabalho bastante. Já dirigiu cinco filmes nesse período, entre eles o novo Blade Runner 2049, além do médico Sicario e do bom Os Suspeitos. Todos com elencos estrelados. E agora entrega A Chegada, o maior sucesso da sua carreira, tendo levado oito indicações na premiação máxima do cinema. E mesmo que não leve nenhuma estatueta - o que eu particularmente acho difícil - pode ser apontado, sem sombra de dúvidas, como um dos grandes filmes de ficção científica dos últimos anos, juntamente com Interestelar.
Villeneuve dirige Adams
A Chegada começa com imagens de Louise (Amy Adams) e sua filha pequena. Em rápidos momentos vemos a aproximação de mãe e filha por várias etapas das vida. Aqui, as imagens retratadas e o tom contemplativo e poético que Villeneuve emprega lembram muito A Árvore da Vida de Terrence Malick.
Da noite pro dia numa jornada que poderá o mudar o destino do planeta
Louise é professora de linguística, especialista em desvendar idiomas e subitamente se vê dentro de um helicóptero sendo levada para um campo aberto por uma equipe de militares liderada por Webber (Forest Whitaker). Junto com ela o matemático Ian (Jeremy Renner).
SPOILERS
Doze naves alienígenas estão "estacionadas" em diferentes lugares do planeta. E mais - um contato já foi estabelecido com os visitantes - a cada duas horas uma "porta" se abre nas naves, permitindo que uma equipe entre lá e tenha contato com os ETS. O principal objetivo é descobrir o motivo da visita deles. Ele estariam para nos dominar ou apenas a passeio?
As naves - conchas com quase 5 quilômetros de altura
Louise cria um método complexo e a cada visita à nave se aproxima mais dos visitantes a ponto de criar uma linguagem comum entre as duas raças. A comunicação passa a ser possível. E aí começam também os problemas. A China, outro país que recebe a visita de uma das naves, declara guerra aos ETS e recebe apoio de Rússia e Paquistão. Começa a luta de Louise e Ian para evitar que tudo se transforme numa batalha entre espécies.
Matemática puira
Há cerca de 30 minutos do fim, o roteiro - adaptado de um conto escrito em 1998 chamado "Story of Your Life" - dá uma guinada e encaixa as pontas soltas de uma forma... inimaginável até. A Chegada se torna uma viagem pela vida através do tempo, onde presente e passado se misturam e se anulam, e o futuro se torna uma resposta ao passado.
Dentro da nave - a busca pelo desconhecido
A história dela com os alienígenas, na verdade é o presente e as imagens dela com a filha - que imaginássemos serem flashbacks - são o futuro. Essa solução é apresentada de forma tão leve que ganha peso, força e nos convida à reflexão, até o fim dos créditos.
Símbolos à desvendar
No final, a visita dos ETS se torna apenas um pretexto para algo muito maior - o significado da vida e de como nos preocupamos com coisas muito maiores quando na verdade damos de ombros para coisas importantíssimas e simples que acontecem com cada um de nós todos os dias.
FIM DOS SPOILERS
Um dos grandes exemplos de filme "mind-blowing", aqueles que são um verdadeiro tapa na cara devido a uma virada maravilhosa e inesperada na história. Respeito ao roteiro, à direção e aos atores, principalmente Amy Adams, que carrega boa parte das cenas sozinhas, contemplando o silêncio, enquanto busca respostas para o que tem e para o que virá.