sexta-feira, 8 de novembro de 2024

AINDA ESTOU AQUI (2024)



AINDA ESTOU AQUI (2024) - Poucas vezes desde a retomada do cinema nacional, à partir da metade da década de 90 mais ou menos, se viu uma campanha tão absurda por um filme nacional nos festivais de cinema mundo afora. Também poucas vezes se viu uma união de nomes tão significativos e importantes da nossa cultura juntos em uma história que tem muitos elementos que o credenciam entre os mais importantes lançamentos do nosso cinema. Ainda Estou Aqui é tudo o que se diz, e até mais, independente de como seja a sua carreira no ciclo de premiações.

O longa dirigido por Walter Salles é dividido em 3 atos. O primeiro, e mais longo, se passa em 1970 no Rio de Janeiro. Eunice (Fernanda Torres) e Rubens Paiva (Selton Mello) vivem num casarão confortável de frente pra praia com os 5 filhos – 4 meninas e 1 menino. Nesse trecho, somos apresentados à todos esses personagens e como são unidos e vivem felizes... sejam disputando partidas na mesa de pebolim, indo na sorveteria, escutando disco e dançando na sala ou brincando com o cãozinho da família.

O tom começa a mudar drasticamente com as notícias dos sequestros de embaixadores estrangeiros no país. Naquele período, dois haviam sido sequestrados e o exército, aos poucos, vai tomando conta das ruas. Iniciava-se ali o período mais pesado e repressor da ditadura militar de Médici. E Rubens se torna um alvo e acaba levado para prestar um depoimento. A história real é baseada no livro Ainda Estou Aqui do filho, Marcelo Rubens Paiva.

Com om decorrer do longa, Eunice cresce de uma forma absurda, já que precisa tomar conta da situação. E Fernanda Torres está incrível, por entregar uma interpretação de uma mulher forte e segura, mas ao mesmo tempo sóbria. Ela não quer – e nem se dá ao luxo de – demonstrar fraqueza diante dos desafios que se apresentam na busca pelo marido e na criação dos filhos. Aqui não há espaço e nem necessidade de melodrama barato. Walter Salles – que já havia trabalhado com Fernanda em O Primeiro Dia e no ótimo Terra Estrangeira – escolhe não fazer uso desse recurso barato. E nem precisa. Já que a própria situação em si tem a força emotiva que o filme precisa.

Ainda Estou Aqui é pontuado não apenas por momentos de silêncio doído, como também por uma trilha brasileira sensacional... Caetano, Gil, Gal, Tom Zé, entre outros. O longa é cheio de momentos de emoção – muita gente soluçava de chorar na sala de cinema – e tudo ganha ainda mais importância no trecho final, próximo dos créditos com as fotos da família reunida, retratando o que longa havia acabado de mostrar. Difícil não se emocionar e não se pegar pensando naquela história mesmo ao final. 

Um filme cheio de elementos que precisam ser digeridos, afinal o melhor jeito de evitar que a ditadura militar volte é justamente falando sobre ela. E é difícil imaginar como uma personagem, uma mulher e uma mãe tão forte como Eunice Paiva demorou tanto para ter a sua história retratada no cinema. Finalmente aconteceu e com o devido reconhecimento que merece.

Veja abaixo o trailer de Ainda Estou Aqui.


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