LÚCIO FLÁVIO - O PASSAGEIRO DA AGONIA (1977) - Era tudo, de certa forma, recente. O bandido Lúcio Flávio foi morto em janeiro de 1975 e o escritor José Louzeiro transformou a vida dele em livro naquele mesmo ano, tendo como base reportagens e entrevistas dadas por ele aos jornais. Hector Babenco viu ali um grande potencial e transformou o livro em filme, lançado dois anos depois, em 1977.
O longa, que é o segundo dirigido por Babenco, tem Reginaldo Faria na pele do criminoso de olhos claros e QI elevado, como diziam, os jornais da época. Lúcio começou na vida do crime roubando carros, depois passou para lojas de jóia e por fim, bancos. Cometeu crimes em Brasília, Minas Gerais, São Paulo e principalmente, no Rio de Janeiro. Foi preso diversas vezes e escapou da prisão em 34 oportunidades. E isso tudo graças à corrupção instaurada na polícia carioca da época. Lúcio e os policiais corruptos trabalhavam lado a lado. Sua frase mais famosa dita em uma das suas entrevistas: "Policial é policial e bandido é bandido. São como azeite e não se misturam".
E foi justamente numa dessas entrevistas que Lúcio falou demais. E começou a delatar policiais de alta patente que estavam mantendo ele vivo, patrocinando seus crimes e claro, levando um por fora. Acabou morto por um colega de cela, no meio da noite. Até hoje, a principal suspeita é de queima de arquivo. Lúcio Flávio, que tinha 31 anos, sabia demais.
Lúcio Flávio - O Passageiro da Agonia cria um ambiente angustiante, já que o cerco parece se fechar à cada minuto sobre Lúcio. Ele, vivido por um Reginaldo Faria inspiradíssimo, parece estar sempre fugindo, com a polícia (pelo menos a parte não corrupta, vivida aqui por Milton Gonçalves) em seu encalço. O policial corrupto que ajudava Lúcio e ganhava algum por fora é vivido por Paulo César Pereio. O longa tem ainda participações de Stepan Nercessian e Grande Otelo.
Babenco, que é argentino, veio para o Brasil ainda nos anos 60 e por aqui ficou, dizendo que o ambiente aqui era mais fácil e propício para contar as histórias que queria. Ele sempre gostou de contar histórias retratando a força excessiva da polícia contra minorias, principalmente tendo o presídio como cenário (algo que acontece em obras como Carandiru, O Beijo da Mulher Aranha, Pixote - A Lei do Mais Fraco, e nesse Lúcio Flávio - O Passageiro da Agonia).
Um filme muito bom que ganhou uma nova roupagem recentemente, com remasterização de som e novo tratamento de imagem, que deixa a cinebiografia de Hector Babenco ainda mais completa e rica.
Veja abaixo uma das cenas de Lúcio Flávio - O Passageiro da Agonia.
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