segunda-feira, 4 de novembro de 2024

SÃO PAULO SOCIEDADE ANÔNIMA (1965)


SÃO PAULO SOCIEDADE ANÔNIMA (1965)
– Como fez bem para o então cineasta em formação Luiz Person ter ido à Roma. Na capital italiana, nos idos de 1963, ele experimentaria muito do que a pujante classe cinematográfica do país europeu tinha a oferecer. Ele beberia muito n
o neorrealismo italiano (Roberto Rossellini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti).

Foi em Roma que Person escreveu o roteiro daquele que seria seu primeiro longa metragem – São Paulo Sociedade Anônima. Rodado em 1965, tendo a cidade de São Paulo como um grande personagem, Person chamou os novatos Walmor Chagas e Eva Wilma para os papéis principais. Carlos (Chaga) é um homem na casa dos 20, que busca se estabelecer e ter sucesso – pessoal e profissionalmente – na metrópole. 

Ele começa no controle de qualidade da Volkswagen. Depois muda de emprego e chega à quase sócio de uma empresa de autopeças. Tudo no setor automobilístico, área em que São Paulo explodiu, principalmente entre os anos 50 e 60. E Person escreveu monólogos e pensamentos em off de Carlos que funcionam como pequenas poesias, que mostram ao mesmo tempo a esperança de que qualquer um poderia conseguir um emprego ali, mas também a melancolia e a solidão retratados nos grandes paredões das fábricas, que parecem esmagar e espremer os moradores. A máquina da metrópole mastiga e engole os mais fracos. Tem que ser forte para encarar a metrópole todo dia. E Carlos aos poucos, mostra que não é um deles.

Carlos é flagrado pela lente de Person em grandes e reflexivos monólogos enquanto caminha pelas ruas do centro da cidade. E desde aqueles anos se vê uma São Paulo com grande potencial de evolução. Uma cidade acima de tudo, belíssima, que a lente de Person, de alguma forma, parece a deixar ainda mais bela. O longa, com tudo isso, adquire um charme único. 

As mulheres que passam pela vida do Carlos fazem apenas isso... passam. Com exceção de Hilda, que lhe deixou uma grande memória e Luciana (Wilma), com quem ele acaba se casando no segundo ato.  São poucos os momentos em que Carlos se mostra contente, de expressão aberta. Quase sempre está sisudo e parece guardar algo dentro de si que a experiência na cidade só faz piorar.

O longa tem uma montagem delicada e precisa de Person, que usou técnicas inovadoras para o cinema brasileiro da época. Ele é montado fora de ordem, com cenas que se contrapõe mesmo tendo acontecidos em períodos diferentes. E qual não foi minha surpresa ao me dar conta de que entre a primeira e a última cena do longa não se passaram nem 24 horas?

Genial, maravilhoso e premiado mundo afora, o filme é um retrato da capital paulista que precisa ser visto e apreciado. Veja abaixo algumas cenas do filme São Paulo Sociedade Anônima



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