STEVE JOBS (2015) - A primeira cinebiografia do CEO da Apple de 2013 não deixou lá marcas muito boas... ou mesmo relevantes. Ashton Kutcher deu o seu talento - que não é lá muita coisa, convenhamos - e interpretou um Steve Jobs idêntico na aparência... e só. O filme não inovou, não ousou e se deixou levar por uma construção pautada nos fatos óbvios da vida de Jobs - o começo difícil, a batalha pelo reconhecimento, as brigas entre os colegas de trabalho, a doença e a morte. Nessa ordem.
O roteiro por sinal é muito simples, enxuto e talvez por isso mesmo funcione tão bem. Ele aborda três lançamentos marcantes da vida profissional de Jobs - o Macintosh em 1984, o Next em 1988 e o iMac em 1998. Todo o desenvolvimento da trama acontece pouco antes de cada um desses lançamentos, nos bastidores, no camarim, sempre em um ambiente pré-palco.
Três lançamentos de Jobs - a espinha dorsal do filme
Neste ambiente, nós viajamos pelos relacionamentos conturbados com seu melhor amigo e parceiro Steve Wozniak (vivido burocraticamente por Seth Rogen), com a sua ex-esposa e sua enteada - a quem ele não reconhece como filha e até a maltrata. Aliás, a jovem Lisa na terceira fase - em 98 - é interpretada por Perla Haney-Jardine, filha de Uma Thurman em Kill Bill - volume 2. E mais, sabia que ela é brasileira???
A brasileira filha de Steve Jobs
Mas é a personagem de Kate Winslet a mais próxima de Jobs. Ela é uma espécie de secretária, que está ao lado dele o tempo todo, segurando a onda e suportando os mandos e desmandos de Jobs. Se não fosse por ela, Jobs seria uma pessoa ainda mais desconectada do mundo, como se vivesse num balão descontrolado voando por aí. É interessante observar nos três "capítulos" do filme como Winslet se transforma, tanto na forma de falar, de agir, até mesmo de se vestir, deixando claro que o amadurecimento dela significa seu afastamento de Jobs.
Winslet é a ligação de Jobs com o mundo
Fassbender é um ator de raro talento, encarna um vilão como ninguém. E para incorporar Steve Jobs tem que ter um pouco de vilão. Ele consegue transparecer algo que poucas vezes vimos - um Steve Jobs humano, que falha e está longe de ser perfeito. Tudo isso ao mesmo tempo que compreendemos como ele chegou ao status de gênio no ramo da computação. Fassbender balanceia muito bem as fraquezas (escondidas lá dentro, que quase ninguém vê) com o discurso forte que fizeram de Jobs uma figura notável.
Finalmente na interpretação alguém à altura de Jobs
Steve Jobs é um filme que aborda os erros de Jobs, ao contrário do filme de 2013 que se focou na genialidade do mito. No filme de Boyle, ele falha como amigo, falha como pai, falha como marido, falha como chefe. É enfim, um ser humano como outro qualquer.
Veja abaixo o trailer de Steve Jobs.
A GAROTA DINAMARQUESA (The Danish Girl / 2015) - "Este inglezinho aí é um zé ninguém, vai assistir o Oscar de camarote e nada mais", pensava eu quando me deparei com a lista de indicados à premiação no início de 2015. Assisti ao tal "A Teoria de Tudo" e achei melhor ficar quieto. Eddie Redmayne foi impressionante no papel de Stephen Hawking e mereceu cada grama do pesado Oscar de melhor ator. Calou minha boca.
Eddie Redmayne e seu Oscar por A Teoria de Tudo
E eis que me deparo de novo com Redmayne sendo indicado ao Oscar de melhor ator, desta vez por A Garota Dinamarquesa, na qual ele interpreta a tal mulher do título. Mais uma vez me banho de preconceitos - "duas vezes seguidas não dá, né? ainda mais esse cara! ele é muito jovem, vai ter tantas e tantas chances" e blá-blá-blá. Assisto o tal A Garota Dinamarquesa e mais uma vez calo a boca. É melhor não desconfiar mais do talento de Eddie Redmayne.
A transformação de um ator
A história se passa no final dos anos 20 e começo dos anos 30 em Copenhaguen. Eniar (Redmayne) e Gerda (a ótima Alicia Vikander), são casados há 6 anos, tentam engravidar com frequência - sem sucesso -, enquanto encaram o desafio da vida da arte. Ambos são pintores - ele de paisagens e ela de retratos. O talento dele se destaca, ela ainda dá os primeiros passos no que pode ser um carreira de sucesso.
O casal de pintores
Eniar odeia a vida social. Gerda, então, propõe uma brincadeira - pede que ele se vista de mulher para ir a uma festa. Eniar assume então o nome de Lili. À princípio tudo é divertido. Gerda observa de longe enquanto Eniar encara com perfeição os trejeitos de uma mulher delicada e nada caricatural. Tudo é tão bem feito que os homens da festa começam a flertar com Eniar, ops desculpe, com Lili. Um desses - mais assadinho - desfere um beijo em Lili, que não nega e retribui. Gerda de longe, vê tudo.
Lili sendo seduzida por um homem
Tudo fica confuso na cabeça de Eniar e ele passa a se encontrar com o homem em segredo, assumindo a identidade de Lili. Ele se afasta cada vez mais da esposa e acaba revelando pra ela que já esteve com outros homens, anos atrás. O que mais lhe marcou foi Hans, um amigo de infância.
O amigo que ajuda a mudar a vida de Eniar/Lili
Eniar não sabe mais ser Eniar, mas ao mesmo tempo tem vergonha de assumir ser Lili integralmente, então procura ajuda médica. Gerda acompanha tudo de perto, agora ela já é mais amiga do que esposa. O veredito dos médicos é quase sempre o mesmo - esquizofrenia.
A leveza na interpretação
Hans sugere que Eniar procure um doutor na Alemanha com uma ideia inovadora e pouca experimentada - a operação de mudança de sexo. Lili é mais forte que Eniar, que aos poucos deixa de existir. Ela decide tentar a qualquer custo a tal operação. Seria uma das primeiras vezes na história que a tal operação seria feita.
Logo após uma das cirurgias, Lili recebe Gerda
O filme é baseado em uma história real e foi contado pela própria Lili em sua autobiografia lançada na década de 30. Tom Hooper, que levou o Oscar de melhor diretor por O Discurso do Rei, dirige A Garota Dinamarquesa de uma forma burocrática, eu diria. É um filme linear, sem riscos e portanto - de uma certa maneira - fácil de ser assistido. Eu esperava algo mais desafiador, até mesmo corajoso - como fora a atitude de Lili naqueles tempos -, como os problemas que ela enfrentava nas ruas (e não apenas uma ceninha isolada), como Lili era vista pela sociedade na década de 30, o que falavam dela (é um paralelo importante que poderia ser traçado, até mesmo para compararmos com que se vê hoje), e os dramas enfrentados dentro de casa... e tantas outras coisas. Ao invés de levantar essas questões, Hooper prefere entregar uma obra previsível e totalmente apoiada - para não dizer "somente apoiada" - nas atuações, o ponte forte da trama. Faltou ousadia.
Faltou ao filme a ousadia que sobrou em Lili
Alicia surpreende muito e concorre ao Oscar de melhor atriz coadjuvante no papel da esposa que perde o marido e se transforma no grande apoio moral que Lili precisa para seguir vivendo. Ela é o grande par que Redmayne buscava desde A Teoria de Tudo (desculpe Felicity Jones, você não passa de um rostinho bonito). Alicia é escada e faz frente, construindo um personagem forte, destemido, uma mulher à frente da sua época.
Alicia Vikander e uma interpretação notável
Redmayne surpreende não apenas pela caracterização, mas por trabalhar em Lili como uma mulher realmente e não como se fosse um homem interpretando um mulher. Isso faz toda diferença. Ele respeita a história da personagem e confere a cada gestual um trejeito delicado e fino, que só uma mulher seria tão habilmente capaz de construir. Redmayne, que era visto como uma promessa - até mesmo depois de levar o Oscar por A Teoria de Tudo - já se tornou uma realidade. Um grande ator, que precisa ser respeitado. Aprendi essa lição.
AMOR À QUEIMA ROUPA (True Romance / 1993) - Tudo começou pelas mãos de Roger Avary, diretor, produtor e cineasta canadense. Ele escreveu um roteiro maluco de 50 páginas sobre um casal errante fugindo da lei. Quentin Tarantino, amigo próximo, deu uma incrementada. Quentin, que trabalhava numa locadora de filmes, devolveu um calhamaço escrito à mão com mais de 500 páginas, que Avary chamou de "a Bíblia da cultura pop". O roteiro, muito grande para virar um filme, foi dividido em dois - Assassinos por Natureza e Amor à Queima Roupa.
Referências a cultura pop não podem faltar num roteiro de Tarantino
A história tem em Clarence (Christian Slater) e Alabama (Patricia Arquette) o grande motor. Os dois se conhecem e se apaixonam profundamente em uma noite. Clarence quer limpar o passado da nova namorada, que não passava de uma prostituta, e vai acertar as contas com o cafetão Drexl (Gary Oldman). Numa briga violenta Drexl acaba morto e Clarence foge levando uma mala, que acredita ter as roupas de Alabama, mas a mala está cheia de cocaína.
A violência crescente em cada cena
Clarence - o personagem mais autobiográfico já criado por Tarantino, segundo o próprio diretor - segue com Alabama ao encontro de Clifford (Dennis Hopper), seu pai. Depois que o casal segue o caminho, Clifford é torturado e morto por Vincenzo (Christopher Walken), o gângster siciliano, que está atrás da cocaína roubada que é de sua propriedade.
Walken mafioso
O casal segue para Hollywood e pretende vender a droga para um grande produtor de cinema. A polícia descobre a história e instala um microfone na roupa de um dos amigos do produtor, para que todos sejam presos em flagrante quando a negociação pela droga for realizada. Algo dá errado, começa um tiroteio feroz e todos morrem, exceto Alabama e Clarence, que sai muito ferido.
Alabama em problemas
Sem alternativas, o casal apaixonado segue para o México e numa cena que se passa alguns anos à frente, um menino - interpretado pelo filho da atriz Patricia Arquette - brinca com Clarence na praia e Alabama assiste sorrindo. Estão felizes.Vivendo um verdadeiro romance.
Nada impede o sucesso do casal
Um filme com a cara do Tarantino, entupido de referências da cultura pop - de Superman, Elvis, cinema de kung fu dos anos 70 com Sonny Chiba (que viveria Hattori Hanzo em Kill Bill vol. 2), HQ e televisões ligadas em filmes antigos, além de muitos e muitos diálogos sobre cinema.
Um roteiro rocambolesco, cheio de pequenos criminosos do dia a dia, cada um mais perigoso do que o outro. Ninguém é totalmente santo aqui. Isso é muito Tarantino. Alguns até contam este Amor À Queima Roupa como fazendo parte dos filmes do universo Tarantino, apesar de ele não ter assumido a direção. Pode até ser, foi mesmo um grande laboratório para o futuro cineasta que tinha acabado de lançar Cães de Aluguel que contou com uma ajuda no roteiro de Roger Avary, seu amigo mais próximo naqueles primeiros passos na carreira.
Veja abaixo o trecho final de Amor À Queima Roupa.
ACOSSADO (À bout de souffle / 1960) - Todo mundo que gosta de cinema já ouviu falar em Nouvelle Vague. O movimento que dominou o cinema francês a partir da década de 60, influenciou - entre tanta gente - a rica safra da Hollywood dos anos 70 - George Lucas, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Brian De Palma, entre outros. O movimento assumiu o lado contestador e revolucionário da década, quebrando paradigmas e ditando tendências.
Godard e Truffaut, símbolos da Nouvelle Vague
Truffaut e Godard foram os cineastas mais influentes da Nouvelle Vague, que visava basicamente dar aos filmes um caráter documental, deixando-os mais autorais, e com roteiros que abraçavam os personagens do dia a dia. A produção é simples, no formato "roteiro no rascunho e câmera na mão", nada muito além disso. O filme era praticamente todo feito durante a gravação, quase não passava por finalização ou edição posteriores.
Trucagens simples e ideias inovadoras são marca do movimento
Acossado é um dos filmes mais importantes do período, o roteiro é de Truffaut e a direção de Godard. Jean-Paul Belmondo, um dos atores símbolos da Nouvelle Vague, vive o jovem inconsequente Michel Poiccard, que foge de Paris para Marselha em um carro roubado e descobre um revólver no porta-luva. Quando um policial o para na estrada, Michel se assusta e mata o policial. Um eletrizante começo com jump cuts nunca antes visto nas telonas.
Um tiro e uma reviravolta na vida de Michel
Voltando pra Paris ele se encontra com a namorada americana Patricia Franchini, vivida por Jean Seberg, e vão para o hotel onde ela está hospedada. Nesse momento, o filme quebra o ritmo frenético bruscamente. Os dois amantes agora estão no quarto do hotel - numa cena que dura 25 minutos - e discutem sobre os mais diversos temas: planos futuros, gravidez, vida, música, sexo e tudo mais.
A longa cena no quarto do hotel
Quase meia hora depois, o filme retoma o ritmo de fuga. A foto de Michel está nas capas dos jornais e é reconhecido nas ruas. Godard interpreta o homem que reconhece o jovem e avisa a polícia.
Godard faz um aponta como o homem que reconhece Michel
Patricia acaba abordada por policiais e sofre ameaças em troca de fornecer informações do paradeiro de Michel. Ela despista os oficiais e se encontra com Michel, avisa que a perseguição é implacável. Juntos chegam ao estúdio de um amigo de Michel onde planejam se esconder por uns dias. Patricia liga pra polícia e decide entregar o namorado. Ele está cansado da fuga e decide não oferecer resistência.
Patricia corre atrás de Michel
A polícia chega já de arma em punho e ao pegar outro revólver por engano do chão - que havia sido entregue por um amigo - Michel é alvejado e cai no meio da rua, em plena luz do dia.
A cena final com Michel correndo pelas ruas de Paris
O roteiro de Acossado é simples, um busca de gato e rato pelas ruas de Paris. Mas o que fez de Acossado um clássico e um marco da Nouvelle Vague foram as suas inovações - entre elas jump cuts e takes curtos que adiantam a ação. Câmera na mão e um roteiro enxuto são as premissas básicas do Godard e isso causou alguns problemas, principalmente com Seberg. A atriz principal por pouco não abandonou o filme várias vezes e o motivo foi a total falta de noção de que eles estavam filmando - Godard geralmente escrevia as cenas na manhã e filmava à tarde.
OS OITO ODIADOS (The Hateful Eight / 2015) - Finalmente chegou aos cinemas o novo filme de Quentin Tarantino, para quem é fã - e eu sou muito - é uma longa espera desde 2012 quando saiu seu último filme nas telonas. Desta vez, Tarantino volta a repetir uma temática em filmes consecutivos, como aconteceu no começo da carreira com o trio - Cães de Aluguel, Pulp Fiction e Jackie Brown - onde o diretor mostrou a máfia dos pequenos (e grandes) gângsters do dia a dia. Depois de uma passagem por vários temas, como kung fu (Kill Bill), carros (À Prova de Morte) e guerra (Bastardos Inglórios), Tarantino voltou sua mira para o faroeste - o gênero norte americano por excelência - e entregou Django Livre e agora Os Oito Odiados.
O oitavo longa, segundo Quentin com 10 ele encerra a carreira
A história é intrincada, mas simples até. John Ruth (Kurt Russell) está levando sua prisioneira Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) parta ser enforcada na cidade de Red Rock, e ele ganhará 10 mil dólares de recompensa por isso. No caminho - muito a contra gosto - ele aceita dar carona em sua charrete para o Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), outro caçador de recompensas, e para o Xerife Chris Mannix (Walton Goggins).
Hurt e Warren no embate na neve
No caminho a nevasca aumenta e eles param numa cabana no meio do nada. Lá dentro estão o mexicano Bob (Demián Bichir), o carrasco inglês Oswaldo Mobray (Tim Roth), o General Sanford Smithers (Bruce Dern) e o caladão Joe Gage (Michael Madsen).
Alta tensão dentro da cabana
Eles vão passar de dois a três dias ali até a nevasca terminar e ser possível que cada siga seu caminho, mas ao John Ruth contar abertamente sobre o preço que a vida daquela garota vale tudo muda de figura. Ninguém é o que se pensa, os caráteres vão se moldando no decorrer da trama e o filme ganha a sua forma como um embate psicológico de 8 pessoas desconfiadas, sanguinárias e armadas até os dentes.
John Gage descansa... ninguém é o que parece ser
E vou parar por aqui - sem spoilers - porque as surpresas acontecem muito, com viradas importantes e impressionantes que dão ritmo e não cansam - mesmo com as quase duas horas e cinquenta minutos de projeção. Mas é bom que se saiba que o ritmo aqui é lento, como um velho faroeste mesmo, tudo a seu tempo com tomadas longas e diálogos também.
Warren com cara de poucos amigos... "Are you talking to me?"
Leigh é o grande destaque. Ela está ótima, intimidada e intimidadora e chama atenção como a calada Daisy.
Uma mulher "surrada"
Os Oito Odiados representa acima de tudo mais um filme de homenagens que Tarantino faz ao cinema. Primeiro - e o mais óbvio - a homenagem ao faroeste de Sérgio Leone (endossada pela trilha de Ennio Morricone), com seus planos longos lindíssimos e paisagens que parecem não ter fim.
Tarantino dirige Morricone na composição da trilha sonora
Segundo - a homenagem ao seu próprio cinema. Tarantino abusa aqui das referências ao rodar o filme todo praticamente dentro da cabana (como fizera em Cães de Aluguel) e a usar o tema vingança (como fizera em Kill Bill e Bastardos Inglórios).
Bastidores dentro da cabana
O filme, editado em capítulos - que já virou uma praxe nos filmes do diretor - tem roteiro afiado, um texto de primeira, os diálogos são precisos e os personagens são incrivelmente bem construídos, inclusive na indumentária. Cada cor de peça de roupa, tipo de chapéu, jeito de andar e etc indica um traço da personalidade de quem o usa. São cuidados pequenos - até um pouco óbvios - mas que fazem uma diferença enorme no final.
Mobray e Mannix se enfrentam
A imprevisibilidade é o grande barato do roteiro de Os Oito Odiados (que faria bem mais sentido se fosse "Os Oito Odiosos"), que deixa um pedaço do filme diferente para que cada personagem cresça e mostre um pouco de si.
Mobray se diz carrasco... será?
Ao final, o filme se mostra um desbunde de tudo - beleza, qualidade técnica e roteiro - embora a sensação para mim, principalmente na útima cena, é que tenha faltado um "tchan" - talvez acostumado por tantas reviravoltas esperava mais uma no final, mas em Os Oito Odiados "a viagem é mais importante que o destino", como diz um velho ditado chinês à lá Pai Mei.
A difícil cena do General Smithers
Os Oito Odiados entrega um Tarantino mais maduro, deixando um pouco de lado os GCs estourando na tela, as cenas cômicas inesperadas e os planos inovadores (embora no quesito "sangue" ele continua o mesmo cara de sempre).
Mannix dá uma parada para um cafezinho
Até mesmo a trilha sonora, que era como se fosse outro personagem para ele - como aconteceu em Cães de Alguel (impossível esquecer Mr. Blonde cortando a orelha do policial ao som de "Stuck in the Middle with You"), Pulp Fiction (Mia dançando ao som de "Girl, You´ll be a Woman Soon" antes de cair em overdose) e Kill Bill (a luta de Beatrix com O-ren na neve com "Please Don´t Let me be Misunderstood") por exemplo, aqui não cabem. Ennio Morricone e suas lindas canções são usadas em pontos específicos para compor uma cena, mas não para roubar a cena, entende?
Channing Tatum tem participação especial e decisiva na história
De qualquer forma é sim um grande filme, à lá anos 70, com muito diálogo, muito trabalho de texto e construção de personagem e aquele "quê a mais" (será de Quentin?) para dar uma pitada e transformar um filme bom em ótimo e claro, para ser revisto outras tantas e tantas vezes.