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Anjos sobre Berlim |
ASAS DO DESEJO (Wings of Desire / 1987) - Uma boa ideia vale um filme. E a de
Asas do Desejo é ótima - a humanidade é vigiada o tempo todo por anjos invisíveis, que nos ajudam, nos confortam, nos guiam. O filme alemão, quase todo em PB, tem muito mais do que aquela pegada de filme de arte, vai além disso. Muito graças à
Wim Wenders, um dos diretores mais importantes do chamado Novo Cinema Alemão, surgido nas décadas de 60 e 70 com forte influência da Nouvelle Vague francesa.
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A visão dos anjos |
Em
Asas do Desejo os anjos, que pairam sobre uma Berlim dividida pelo muro, escutam os pensamentos e os sussurros das pessoas. Boa parte da hora e meia inicial do filme é tomada por longas tomadas de pessoas caladas, onde ouvimos apenas os seus pensamentos. Anjos estão ali, por toda a parte. Eles são apenas vistos pelas crianças.
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Anjos dando conforto e paz às pessoas |
Um deles se apaixona por uma trapezista de circo. Mas mais do que isso, ele começa a ficar obcecado pelos sentimentos humanos, pelo toque, o quente e o frio, pelo gosto, o paladar, por olhar e ser notado, fazer diferença na vida de uma pessoa. Essa angústia começa a sufocá-lo, até o momento em que ele fala sobre isso com um outro amigo anjo. A saída - ele decide se "matar" para se tornar humano.
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A trapezista, alvo da paixão do anjo |
De repente de um PB passamos a um filme cheio de cor e com tomadas diferentes - afinal agora o anjo é humano. Aprendemos com ele cada uma das suas conquistas - o toque, as cores em uma pichação na parede, o abraço, os aplausos em um show de música - no caso de Nick Cave and the Bad Seeds - onde ele acaba reencontrando a trapezista.
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O anjo ganha vida, se torna humano e o filme ganha cor |
Você deve ter pensado "conheço essa história". Sim, verdade.
Asas do Desejo inspirou o filme
Cidade dos Anjos com
Nicolas Cage e
Meg Ryan, que saiu 11 anos depois. Mas no filme norte americano o romantismo toma o lugar da poesia. O problema na versão norte americana é que eles tocaram muito pouco - ou nada - no que mais importa no roteiro e o que faz do filme de
Wim Wenders tão especial - um não-humano e sua luta por renascer num ambiente que ele não é natural.
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Wenders de óculos no set |
Asas do Desejo tem vários momentos de pura contemplação, seja da cidade de Berlim vista de cima ou de baixo - ainda com o muro que seria derrubado pouco tempo depois - ou até mesmo da existência humana. Os diálogos são pura filosofia (
Wenders se formou na matéria na faculdade), tornando a experiência de assistir ao filme pesada em alguns momentos.
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Anjo conhecendo as ruas |
Principalmente porque filmes europeus, tem uma linguagem diferente da de Hollywood. Não são melhores ou piores, são apenas diferentes. Então aqui, algumas cenas se arrastam mais do que deveriam, o corte demora à chegar, e os monólogos são longos. Mas nada disso é ruim, é só uma característica.
Asas do Desejo é fascinante, uma experiência única e que nos faz abrir os olhos para outros cinemas por aí. Um filme mágico.
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