MARIDOS E ESPOSAS (Husbands and Wives / 1992) - Era um período turbulento na vida de Woody Allen e Mia Farrow. No ano de lançamento de Maridos e Esposas o casal anunciava a separação após um escândalo envolvendo Allen e Soon-Yi, a filha adotiva do casal, 35 anos mais jovem do que o diretor. Woody não conseguiu se manter afastado dos holofotes. Os tablóides publicavam notas diárias sobre o caso. Sabendo disso, a experiência de assistir Maridos e Esposas não é a mesma coisa.
Judy e Gabe passam a analisar os problemas da relação
O roteiro de Allen (indicado ao Oscar), brinca com indas e vindas nos relacionamentos entre pessoas nos seus quarenta e tantos. Jack (Sidney Pollack) e Sally (Judy Davis, que concorreu ao Oscar de atriz coadjuvante), anunciam pros amigos de longa data Gabe (Allen) e Judy (Farrow), que vão se separar, mesmo com dois filhos e mais de vinte anos juntos.
Papo de amigas
O primeiro instinto é tentar convencer o casal a desfazer o divórcio. Tudo inútil. Eles já pensaram tão firmemente sobre o assunto que Jack já até arrumou uma namorada, uma jovem viciada em malhação e astrologia. Sally, vendo que o ex-marido rapidamente encontrou uma parceira completamente diferente dela, passa a duvidar que a separação foi a melhor escolha. E se pergunta: "será que Jack me traia?"
A nova namorada de Jack
O segundo passo é olhar para o próprio casamento. E aí Gabe e Judy começam a passar pro problemas. Ela cai nos encantos do jovem e charmoso Michael (Liam Neeson), mas escapa deles apesar de gostar do flerte. Como saída ela apresenta o rapaz a Sally e eles se engraçam.
Michael passa a se engraçar com Judy
Já Gabe, professor experiente de filosofia, se apaixona por uma aluna, a jovem Rain (Juliette Lewis). que não nega a corresponder o sentimento. A menina admite ter uma queda por homens mais velhos e inteligentes, inclusive conta a ele os detalhes de um dos seus companheiros do passado, também mais velho.
Rain e Gabe se aproximam
O cenário está armado. E claro, em um filme de Woody não espere por conclusões simples de um história. O que não falta por aqui são reviravoltas, conduzindo a história e o destino de todos esses personagens para onde não se imagina. Maridos e Esposas tem algumas cenas de diálogos afiados e cheios de trocadilhos entre Allen e Farrow que fica difícil imaginar que aquelas cenas não tenham sido gravadas com base no que eles enfrentavam na vida pessoal.
Discutindo na frente das câmeras e fora também
Maridos e Esposas não é o melhor drama de Allen, longe disso. Mas monta uma séries de situações com assuntos que são comuns a todos nós, independente das diferenças. Todo mundo tem problemas nos relacionamentos, é normal. E Woody coloca todos em mesmo grau de relevância nesse sentindo. Todos somos reles mortais, afinal.
Uma família que parece tirada de um filme do Wes Anderson
CAPITÃO FANTÁSTICO (Captain Fantastic / 2016) - Nome de filme de super herói, mas nada poderia ser mais distante. A história não é baseada num livro, apenas numa ideia que o roteirista e diretor Matt Ross teve assim que se tornou pai. Ele pensou como seria se os pais pudessem criar os filhos num ambiente perfeito dentro da própria realidade, fazendo com que as principais influências deles fossem as dos próprios pais. Daí surgiu a ideia para Capitão Fantástico.
O treinamento
Ben (Viggo Mortensen, que concorreu ao Oscar por este trabalho) vive no meio da floresta com todos os seis filhos, que variam de idade entre 6 e 18 anos. Lá, eles caçam a própria comida, tomam banho na cachoeira, escalam montanhas e enfrentam a verdadeira vida selvagem. Nas datas comemorativas ganham facas de caça e a usam com toda a destreza. Ali há pouco espaço para brincadeiras, durante a infância todos eles treinam como um verdadeiro exército.
As crianças
As crianças são muito bem desenvolvidas, tanto física como intelectualmente. Dentro do ônibus e das suas pequenas casas na floresta elas tem centenas de livros de pensadores, matemáticos, filósofos. E é por eles que as crianças aprendem tudo o que sabem. Por isso mesmo as menores são capazes de citar trechos longos de obras importantes e até mesmo discutir sobre qualquer assunto. Embora falte a elas - e o filme escancara isso muito bem - o contato com outras pessoas.
Ler livros é uma das poucas opções de lazer por ali
A escolha de viver ali, afastado de um grande centro urbano, foi dos pais, eles queriam criar os filhos com nenhuma relação com outros humanos. Mas Ben decide voltar com as crianças para a cidade para se despedir da mãe, que acaba de cometer suicídio. E eles encontram no avô materno Jack (Frank Langella) a resistência que evitaram durante todos os anos vivendo reclusos. Ele quer enterrar a própria filha, enquanto Ben quer cremá-la, pedido que a esposa havia lhe feito.
A entrada triunfal durante o funeral da mãe
Os pequenos sofrem porque vêm o pai perdendo a batalha para o avô - rico, bem sucedido e com uma casa cheia de luxo - o que explica em parte o porque da filha ter largado a vida de dinheiro farto por outra simples e pura no meio da floresta.
Avós maternos
Matt escolhe focar excessivamente na relação do pai com o avô deixando as crianças no meio, como um cabo de guerra. Teria sido mais interessante dividir o protagonismo a partir desse ponto, com as crianças. Como elas enfrentaram essa chegada à sociedade, como elas vêm o mundo com toda a tecnologia, e a relação com possíveis amigos e namorados ou namoradas. O filme aborda isso de uma forma muito leve, passa por cima e atropela.
Foca pouco em algumas questões importantes
A boa discussão que o Matt intencionava levantar no começo do projeto se perde ao longo do filme, principalmente por dois personagens irredutíveis e egoístas, que no fundo só prejudicam as crianças. Um pai que pensa em criar os filhos para ele e não para o mundo e um avô que quer abraçá-los julgando que o que o pai decide está errado. Um pior que o outro.
Mais um personagem excêntrico na galeria de Johnny Depp
MORTDECAI - A ARTE DA TRAPAÇA (Mortdecai / 2015) - Sabe aquele tio que faz sempre aquela pegadinha de tocar no seu ombro e se esconder ou ainda que manda sempre aquele "é pavê ou pra comer?" A gente sempre ri por educação sem conseguir esconder o incômodo ao pensar bem no fundo "meu Deus, esse cara não muda?" Pois é, Johnny Depp está se tornando esse tiozão. Ele está arrastando Jack Sparrow pro resto da vida.
Mudam as roupas, mas não os trejeitos
Mortdecai (Depp) é um colecionador de arte destacado para descobrir o paradeiro de uma pintura de Goya que foi roubada após um assassinato suspeito. Ele é todo excêntrico e ostenta um bigode diferentão, algo que os seus antepassados já ostentavam. Cheio de caras, bocas, gestos Mortdecai não vai à lugar nenhum sem Jock, o seu braço direito sempre pronto para salvar a pele do chefe, mesmo que para isso tenha que levar um tiro.
O braço direito
O Inspetor Mortland (Ewan McGregor) acompanha à distância o caso do roubo da pintura, ao mesmo tempo em que nutre um sentimento profundo por Johanna (Gwyneth Paltrow), a esposa de Mortdecai. Ele tenta à todo custo conquistá-la e ela retribui com charminho.
Ela joga o charme e ele tenta roubar a esposa do outro
A pintura viajou pra todo canto e caiu nas mãos de outro colecionador de artes, Krampf (Jeff Goldblum), tão excêntrico quanto Mortdecai. A pintura - que teria na parte de trás o código de uma conta bancária nazista recheada de dinheiro - é disputado em um duelo de espadas entre Mortdecai e um ladrão de obras de arte.
Outro ricaço colecionador de artes
O filme é chato. Simples assim. Cheio de atores estrelados e com um visual apurado e colorido, mas sem recheio. Falta estofo para Mortdecai assim como outros filmes dirigidos por David Koepp como A Janela Secreta e Perigo por Encomenda. Todos atuam aqui meio que no automático, e Depp (meu Deus...), está péssimo, exagerado e irritante com os trejeitos nada originais.
Veja abaixo o trailer de Mortdecai - A Arte da Trapaça.
MORANGOS SILVESTRES (Smultronstället / Wild Strawberries - 1957) - Ousado, inovador, surpreendente. Faltam elogios para Morangos Silvestres, filme essencial na carreira de um não menos essencial Ingmar Bergman. O diretor sueco, que dirigiu até os 89 anos de vida, criou obras duras, complexas, mas acima de tudo belas peças do mais refinado cinema. Bergman tem um pé na filosofia e em questões existencialistas, temas que dominaram os mais de cinquenta filmes, entre cinema e televisão.
Bergman, de boina, em ação
Morangos Silvestres é um estudo otimista sobre a relação do ser humano com o seu próprio passado e a morte. Isak é um professor aposentado, viúvo que vive com a cuidadora e que mantém uma relação distante com o único filho. Não tem netos.
Um homem em profunda avaliação da própria vida
Ele sonha com a morte com frequência nos últimos tempos. Um destes sonhos é mostrado em detalhes - Isak anda por uma cidade abandonada e completamente silenciosa. As janelas estão lacradas e as portas fechadas. Uma figura aparece de costas para ele. Isak se aproxima e a figura não se mexe. Quando ele a toca, a figura estranha cai no chão escorrendo sangue. Depois aparece uma carruagem e uns cavalos, eles trazem um caixão. O caixão cai e dentro aparece o próprio Isak olhando para si. Isak acorda refletindo sobre tudo aquilo.
Fragmentos de um pesadelo
O professor vai receber uma homenagem pelos 50 anos de profissão em uma cidade próxima. E decide então fazer a viagem de carro. A nora Marianne vai junto. No caminho eles param em uma casa de campo onde Isak passou a infância. Enquanto caminha pelo terreno, passado e presente se fundem, as lembranças ganham vida, caminham junto dele, ao lado dele. Isak passa a ser espectador de acontecimentos que marcaram a sua vida. No terreno plantava-se morangos silvestres, daí o nome do longa.
Na visita, o passado toma vida
Presente e passado vão se revezando no comando da história, mas nunca de forma didática, simples de engolir. Bergman nos cutuca, nos instiga, nos convida a pensar, a compreender os dilemas da história. Isak ainda está cheio de vida embora esteja no final dela e ele decide então não sofrer por isso. Admite só conseguir descansar direito por entregar seus pensamentos sempre à lembranças do passado.
Veja abaixo o trailer de Morango Silvestres.
GUARDIÕES DA GALÁXIA - VOL. 2 (Guardians of the Galaxy - Vol. 2 / 2017) - Não é a primeira vez e nem será a última que este fenômeno acontece - os caras pegam uma fórmula que deu certo, e espremem, espremem até não poder mais. Essa união improvável de heróis das mais diversas espécies nasceu numa HQ nos anos 60. Os personagens foram repaginados em 2008 e viraram filme. Em 2014 saiu o primeiro, foi bem, fez grana. E agora três anos depois, assistimos o segundo, que exibe os mesmos méritos e claro, os mesmos defeitos.
Batalhas espaciais
A história se apóia na busca de Star-Lord (Chris Pratt) por seu passado. Até que ele encontra o pai, interpretado por Kurt Russell, um deus celestial que segue de planeta em planeta criando vida. O planeta onde ele mora é bonito, colorido, arborizado e todo perfeito. À princípio.
Os Guardiões e alguns intrusos
No mais os personagens principais se separam em arcos. Drax fica no planeta perfeito. Já Yondu, Rocket e Groot acabam nas mãos de prisioneiros do espaço, uma espécie de caçadores de recompensas ou piratas do espaço, algo do tipo.
Yondu e Rocket
Nebulosa e Gamorra, as irmãs que vivem brigando, formam outro arco do filme. Nebulosa é uma andróide, já que teve boa parte do corpo substituída por peças de robô, como represália do pai - o todo poderoso Thanos - por ter perdido as brigas com Gamorra. As personagens são interessantes e fazem dessa a porção mais interessante do filme.
As irmãs brigando mais uma vez
No mais - sem brincadeira - o filme é uma piada só. Literalmente. O cinema gargalhava, ria alto. Afinal, qual o propósito da Marvel com Guardiões da Galáxia? É fazer um filme de super herói ou uma comédia? Ou pior, uma paródia escrachada.
Baby Groot indeciso
Uma coisa é fazer um filme de super herói leve, bem humorado, com piadas pontuais e que fazem sentido. E cito aí Vingadores, Homem Formiga e Deadpool, que de longe é o mais "engraçadão" de todos. Mas... nesses casos cabe, entende?
Kurt Russel como Ego
Mas aqui em Guardiões da Galáxia - vol. 2 a comédia é forçada, exagerada e diria até fora de tom. Os caras não podem quebrar o clímax de uma cena com humorzinho de colégio. Como um herói que se transforma em pacman no meio da batalha mais importante do filme. E nem venha me dizer que "cabe no personagem" ou sei lá mais o quê. Isso é ruim, não tem propósito, e tira o espectador da ação, brochante mesmo.
O ÓDIO (Le Haine / 1995) - Paris, a cidade luz. Berço de nomes imortais das mais diversas artes. Local romântico com restaurantes às margens do Sena. Galerias, bibliotecas, catedrais, cafés charmosos, além é claro da Torre Eiffel. Tudo o que qualquer turista sempre espera encontrar quando vai pra Paris é o que menos se encontra aqui em O Ódio, o longa metragem que lançou o nome do diretor Mathieu Kassovitz no mundo do cinema.
Reunião de elenco e o diretor, de blusa preta
Kassovitz também é ator. De nome talvez não seja tão fácil de reconhecê-lo, mas o diretor de O Ódio interpretou Nino, o estranho namorado da não menos estranha Amelie Poulain. Lembra dele?
Kassovitz em primeiro plano
Em O Ódio a cidade luz nunca foi tão cinza, ela é toda retratada em PB. E não é à toa. O filme acompanha a trajetória de três amigos do subúrbio francês - Vincent, Hubert e Said. Eles vivem num mundo cercado de drogas, violência e falta total de perspectiva. As rodas de jovens passam o dia sentados, conversando e arrumando confusão. Principalmente com a polícia.
Esqueça aquela Paris romântica
A polícia por sinal sempre trata os moradores dessas regiões de forma truculenta, principalmente os jovens, que não precisam de grandes motivos para iniciar uma confusão. E foi numa dessas confusões que eles feriram seriamente Abdel, outo jovem local, que acaba em coma no hospital.
O trio pelas ruas da cidade cinza
Vincent está decidido a matar um policial caso Abel morra no hospital. E para isso ele mostra aos amigos uma arma de um policial que ele achou por acaso. Daí pra frente ele carrega essa arma para todo lugar, embora isso desperte o desprezo, principalmente de Hubert, que profere a famosa frase que dá título ao filme "ódio gera ódio". Eles seguem para Paris para cobrar uma dívida e acabam se metendo em mais confusão com outras gangues e uma turma de skinheads. Chegam ao subúrbio na manhã e uma surpresa põe um fim abrupto à aventura e ao filme.
Cassel, em um dos seus primeiros filmes
Por O Ódio, Kassovitz levou a Palma de Ouro e reconhecimento mundial. Chegou a ser comparado com Spike Lee que havia lançado um filme de temática muito parecida - Faça a Coisa Certa - seis anos antes.
Periferia francesa, outro personagem do filme
O filme é enxuto - tem pouco menos de uma hora e meia - e tão cru que nem deixa espaço pra pensar. É aí que o discurso direto sem qualquer rodeio ganha ainda mais força. A interpretação explosiva, principalmente de Vincent Cassel, que fazia ali a sua estréia no grande cinema, dão um ar ainda maior de realidade ao filme que cobre de cinza a cidade luz.
Um publicitário (Cary Grant) Roger Thornhill chega para um almoço em um hotel no alto das montanhas e acaba levado por dois capangas que o confundem com um espião. O chamam de George Kaplan. Sequestrado, Thornhill é conduzido a uma mansão, onde passa a ser interrogado. Irritado, ele nada entende e só pede explicações.
Roger se escondendo
Decidem embriagá-lo e dar um carro nas suas mãos para que ele sofra um acidente no caminho de volta. Thornhill consegue controlar o carro e escapa ileso. Mas tem um objetivo - descobrir porque o estão confundindo com Kaplan e outra para quê?
Ele não é George Kaplan!
Uma trama de troca de identidades, com aquele charme todo especial da década de cinquenta e um final que se passa no Monte Rushmore que era novinho, tinha pouco mais de trinta anos de existência.
Um dos primeiros filmes a usar o Monte Rushmore como cenário