quinta-feira, 30 de maio de 2024

A BOLHA ASSASSINA (1958/1988)



A BOLHA ASSASSINA (1958 / 1988) – Dois filmes, uma mesma história. O primeiro filme da infame Bolha Assassina é pura inocência a cada cena. O remake é uma obra sangrenta e recheada de criaturas disformes e assustadoras. A história por si só se tornou rapidamente um clássico do cinema de ficção científica.
Naquela década de 50 o filme retrata homens respeitosos, mulheres delicadas – e algumas submissas – pais com controle sobre o destino dos filhos e policiais respeitados apenas pela postura e não pelas armas que carregam. A Bolha Assassina começa com a queda de algo do céu. Só quem vê é um casal de namorados que rapidamente se dirige para lá. Quem dirige é Steve, interpretado por Steve McQueen em uma de suas primeiras aparições nas telonas. Ele já tinha 27 anos, mas interpreta aqui um jovem estudante com quase 10 anos menos. 
Um velho fazendeiro chega primeira ao local e ao cutucar o objeto, ele rapidamente toma conta da sua mão. Gruda e não solta. O velho reclama de muitas dores e o jovem casal o leva pro médico da cidade. La, ele tenta de tudo, de tiros de espingarda até ácido, mas em pouco tempo a massa toma conta do seu braço todo e termina por consumir o velho. Os jovens correm pra delegacia e quando retornam, a bolha está maior e já consumiu por inteiro o médico e a enfermeira. E mais, ela fugiu pela janela e está se arrastando pela cidade. 
O filme não desvia desse plot principal, o roteiro é simplista nesse sentido. E que bom! A bolha acaba crescendo tanto que ataca uma sala de cinema inteira, fazendo com que as pessoas saiam correndo desesperadamente. A cena mais icônica do filme. 
E não vou contar como, mas eles encontram uma saída para aquela situação e a cidade toda, que foi acordada durante a madrugada, consegue derrotar a bolha. Mas ela não é morta... acaba jogada no polo norte e logo depois aparece o “the end”. E na sequência um grande ponto de interrogação toma conta da tela indicando uma sequência da história, que nunca aconteceu.
Veja abaixo o trailer de A Bolha Assassina de 1958.




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A BOLHA ASSASSINA (1988) - O remake veio 30 anos depois. Aqui a história ganha mais sangue e a bolha deixa de ser "apenas" uma bolha para se tornar uma massa, que mais parece um grande chiclete amassado, que lança tentáculos e garras ágeis, que grudam e alcançam longas distâncias. Isso faz com que a bolha empale pessoas, grude pessoas no teto e se torne uma perseguidora implacável, até mesmo pelos subterrâneos da cidade. 
O remake não tem estrelas, Chuck Russell, o diretor, é a maior delas, e acabou dirigindo depois O Máskara, e Queima de Arquivo
Em A Bolha Assassina, Russell e sua equipe de roteiristas e de efeitos especiais montaram um filme nojento, asqueroso, gore... e muito bom! O trecho final dá uma explicada no surgimento da bolha – seria uma experiência feita por uma equipe de cientistas que deu errado e fugiu do controle (bem pouco original, né?)
Particularmente, eu acho o remake da década de 80 muito melhor. Isso, claro, pela efeitos e pelo roteiro que não se limitou a homenagear/copiar o filme de trinta anos antes. Foi além e agradou. O primeiro é uma boa ideia, o segundo é o aprimoramento dela.
Veja abaixo o trailer de A Bolha Assassina de 1988.


segunda-feira, 27 de maio de 2024

TENET (2020)

 


TENET (2020) – Seria loucura dizer que Tenet não é um filme impressionante. Seria maluquice afirmar que Tenet não é espetacular. Eu estaria doido se escrevesse aqui que Tenet é um filme comum. Nada disso. Mas... Tenet tem alguns sérios problemas.

A história gira em torno de um agente secreto interpretado por John David Washington de Infiltrado na Klan, que tenta se firmar como um grande nome de filmes de ação, assim como o é seu pai, Denzel WashingtonTenet brinca com viagem no tempo mas de um jeito único... as pessoas do tempo presente vivem normalmente e os objetos e pessoas vindas do futuro se movimentam no tempo contrário, de trás pra frente. Isso faz com que o tempo seja como um palíndromo, que vai pra frente e pra trás na mesma velocidade e, quando se cruzam, vão ao mesmo tempo.

É difícil explicar no texto e acredite... também é difícil de entender vendo o filme de Nolan. Aqui você não pode piscar, senão perde uma explicação e isso estraga completamente a experiência. E Nolan parece aqui não fazer nenhuma questão de que o público entenda o filme. Ele lança a história do jeito que quer e quem conseguir que acompanhe. Um problema isso, hein Nolan?

O longa demora para engatar, o roteiro tem barrigas enormes e desnecessárias, personagens inúteis (como o de Michael Caine), uma simples revisão já ajudaria muito a cortar essas grandes rebarbas. E do meio pro final, ele encavala uma sequência desenfreada de cenas de ação, é quando o filme engata pra valer, mas depois de remar tanto no começo fica difícil se reconectar mais pra frente.

As cenas de ação são realmente impressionantes. Esse jogo criado pelo Nolan de em uma mesma cena ter dois tempos diferentes acontecendo, é impressionante. E bonito visualmente. O roteiro também prevê umas cenas que são retomadas em tempos diferentes do longa, o que dá para vê-la de formas diferentes. Nolan se mostra aqui cheio com a criatividade pra lá de afiada.

Mas esse Nolan não está aqui no seu melhor, como em Amnésia, Interestelar, A Origem e DunkirkTenet fica ali no meio da lista, mais pra baixo. O filme é, sem dúvida, para se ver muitas vezes. Não que seja maravilhoso, essencial, incrível... nada disso. É para poder entender a história rocambolesca e intrincada que Nolan cria.

Veja abaixo o trailer de Tenet.


quinta-feira, 23 de maio de 2024

ANIVERSÁRIO MACABRO (1972)





ANIVERSÁRIO MACABRO (The Last House on the Left / 1972)Wes Craven é nome certo em qualquer lista dos maiores diretores de filmes de terror do cinema. Ele criou, a partir dos anos setenta, personagens imortais em filmes clássicos como Quadrilha de Sádicos – que aliás tem um título em português simplesmente maravilhoso – A Hora do Pesadelo e, anos depois, Pânico
E tudo isso começou em 1972 com Aniversário Macabro. O letreiro no começo do longa indica se tratar de um filme inspirado em fatos reais. A história na verdade é baseada em A Fonte da Donzela, longa de Bergman lançado 12 anos antes.
Mari está se arrumando para sair de casa, vai encontrar uma amiga. Seus pais fazem aquelas recomendações básicas de segurança e dão pra ela uma correntinha... é seu presente de aniversário. Ela encontra a amiga Phyllis e juntas vão para uma floresta pertinho de casa, onde conversam, bebem e dão boas risadas. Os problemas começam quando elas vão pra cidade, ali perto. Acabam raptadas por um grupo e são levadas para uma casa.
Phyllis é violentada. Mari, em choque, fica na dela, assustada demais para tomar alguma atitude. No dia seguinte, elas são levadas pro meio da floresta onde a tortura continua. São despidas, esfaqueadas... Phyllis é amarrada em uma árvore e morta. Mari, por pouco, não consegue fugir, mas também é violentada e leva um tiro antes de cair no lago. 
Tudo é muito cru, chocante, com cenas difíceis de serem realizadas... e até assistidas. Sandra Peabody, que interpreta Mari, largou as gravações um dia em estado de choque. Um dos atores que interpreta um bandido disse, anos depois, que se arrepende de ter feito o longa, devido à violência extrema.
Mas não acaba por aí. O bando se lava no rio, troca de roupa e procura uma casa para passar a noite. Acabam se hospedando, por pura coincidência, na casa dos pais de Mari que estão desesperados atrás da filha. Depois de encontrarem o corpo dela no lago e perceberem que um dos bandidos usa a corrente de Mari, os pais partem pra luta em busca de vingança pelo assassinato da filha.
Aniversário Macabro é o primeiro da carreira de Craven, tem baixíssimo orçamento, o que o torna ainda melhor. Foi filmado em apenas 21 dias e é tão chocante que existem relatos de pessoas que vomitaram e até desmaiaram durante as sessões nos cinemas. Por muito tempo, Aniversário Macabro não pôde ser exibido em vários países. Na Austrália por exemplo, o filme só pode ser exibido em 2004. Uma curiosidade – Wes Craven morreu exatamente no dia do lançamento do filme, 43 anos depois em 2015.
Veja abaixo o trailer de Aniversário Macabro.







segunda-feira, 20 de maio de 2024

NÃO! NÃO OLHE! (2022)

 


NÃO! NÃO OLHE! (Nope / 2022) – Jordan Peele tem uma carreira curta, mas marcante. E com uma assinatura toda própria. O terror é um tema recorrente (Corra!, Nós) e não poderia ser diferente com este Não! Não Olhe! Peele também gosta de brincar com gêneros. Aqui, ele mistura ficção científica com faroeste, e claro, terror. Uma verdadeira salada à lá Peele.

Embora sempre competente e abusando de cenas e momentos memoráveis, Peele não mantém a escrita neste Não! Não Olhe!. A história não é tão profunda e cheia de camadas como nos seus filmes anteriores. Falta algo aqui.

O filme se passa numa fazenda afastada e conta a história de uma família dedicada a criar cavalos usados em comerciais e filmes. O patriarca da família morre após ser atingido por uma “chuva de metais”. Ninguém entende nada. O filho OJ (o ótimo Daniel Kaluuya) assume os negócios e conta com a falastrona irmã Emerald (Keke Palmer).

O problema está em um fenômeno extraterrestre que acontece durante a noite. Um OVNI gigantesco abre um bocão e engole tudo o que vê pela frente, em especial cavalos, por quem o OVNI parece ter um carinho maior. Mas ele abduz também pessoas, enquanto Emerald e OJ tentam à todo custo se defender e defender os cavalos da fazenda. 

OJ descobre, ao reviver uma lembrança de um dos seus cavalos, que o melhor à fazer é nunca olhar diretamente para o perigo - no caso o OVNI - e assim ele se desinteressa pela presa. Daí o nome do filme... Não! Não Olhe!

Não! Não Olhe! tem em Kaluuya a sua melhor coisa. Nem mesmo as cenas marcantes, um carimbo de Peele, estão aqui. Na verdade o roteiro, também escrito por Peele, faz um paralelo sobre a violência sofrida pelos cavalos na fazenda com uma tragédia que aconteceu num programa de auditório nos anos 90. É sobre um chimpanzé, Gordy, que perdeu o controle no meio de uma gravação e saiu matando os atores com quem contracenava. Uma historia inspirada levemente na história real de Charla Nash, que teve o rosto desfigurado por um macaco em 1997. Enfim, Peele fez esse paralelo para abordar como os animais selvagens são tratados em ambientes que não são os seus de origem.

À meu ver, o tiro saiu pela culatra... a historia do chimpanzé Gordy, que obviamente tem bem menos espaço do que a história dos cavalos, é muito mais interessante. Fiquei muito mais interessado em um filme sobre a tragédia de Gordy do que sobre o OVNI, os cavalos e tudo mais.

Veja abaixo o trailer de Não! Não Olhe!



sexta-feira, 17 de maio de 2024

O PAGAMENTO FINAL (1993)



O PAGAMENTO FINAL (Carlito´s Way / 1993) - Brian De Palma não iria dirigir este filme. Chegou a recusar algumas vezes. Muito por conta das similaridades com um clássico do próprio De Palma de dez anos antes - Scarface. Histórias parecidas, sim. Mas não iguais. Sua amizade com Al Pacino foi decisiva e dizem que o astro influenciou na decisão do diretor.
Carlito Brigante (Pacino) é um porto riquenho que acaba de sair da prisão depois de 5 anos. Era pra cumprir 30, mas saiu mais cedo depois do trabalho do advogado e amigo de infância Kleinfeld (Sean Penn com um permanente pra lá de encaracolado). A princípio Carlito é o durão e Kleinfeld o bobão. 
Do lado de fora, Carlito segue para sua comunidade, dizendo estar completamente recuperado e não se envolver em nada que o leve de volta pra cadeia, mas a vida do crime o puxa diretamente de volta pra ela. Carlito acaba envolvido numa matança num bar local, onde ele é o único vivo. 
Ele se torna sócio (para não dizer dono) de um disco clube local que sempre atrai figuras perigosas... traficantes (como um jovem John Leguizamo), prostitutas de luxo e gângsteres. E aos poucos, Carlito começa a juntar uma boa grana para abandonar toda aquela vida e se mudar dali para um lugar mais calmo com a namorada Gail (Penelope Ann Miller), com que se reencontrou depois de 5 anos. 
O problema está no vício de Kleinfeld no pó. Ele ainda mantém boa relação com Carlito e pede a ele a sua ajuda, já que terá que resgatar um preso da cadeia - um membro importante da máfia italiana local - de barco. Na operação tudo dá errado graças a Kleinfeld, que no último instante decidir matar o mafioso e jogá-lo no rio. Pronto. Carlito está afundado até o pescoço e agora tem que se livrar da perseguição constante da máfia italiana que busca vingança.
A cena final era para ser filmada no World Trade Center, mas eles tiveram alguns probleminhas e resolveram de última hora fazer na Estação Central de Nova York, a mesma que serviu de cenário para outro clássico de De Palma - Os Intocáveis e aquela inesquecível cena da escadaria. A perseguição ocorre pelos corredores e escadas da estação. Dura cerca de 7 minutos, a maioria deles em plano sequência.
O Pagamento Final foi muito bem de bilheteria e rendeu duas indicações ao Globo de Ouro - ator para Sean Penn e atriz para Miller - mas, claro, fica abaixo na galeria de De Palma. Digo "claro", porque é muito difícil ser melhor do que Carrie, a Estranha, Os Intocáveis ou Scarface. Um diretor que sabe como fazer um filme com essa temática, e claro... ajuda muito ter um Al Pacino pra lá de inspirado... uma equação perfeita. 
Veja abaixo o trailer de O Pagamento Final.






segunda-feira, 13 de maio de 2024

POBRES CRIATURAS (2023)

 


POBRES CRIATURAS (Poor Things / 2023) – Amo os filmes de Yorgos Lanthimos. Esse diretor grego conta histórias nada comuns usando personagens e situações que desafiam, chocam e ficam com a gente, mesmo depois do fim do filme. Em Dente Canino e O Sacrifício do Cervo Sagrado, Lanthimos se mostrou um cineasta com gosto peculiar pelo bizarro. Em O Lagosta ele optou por uma distopia maravilhosa e em A Favorita, ele aceitou o desafio de pegar um projeto em andamento e por isso mal conseguiu dar a sua cara. E isso é justamente o que não acontece em Pobres Criaturas.

Aqui ele cria o mundo que imaginou. Me arrisco dizer que Lanthimos nunca tenha se sentido tão à vontade durante uma produção. O filme tem uma assinatura, uma cara, uma digital muito própria, assim como Burton e Nolan imprimem em suas obras. O que me fez ser ainda mais fã do cineasta.

Emma Stone produz o longa e interpreta Bella, uma espécie de Frankenstein feminina. O seu “pai” é um cientista maluco vivido por WillemDafoe que regata seu corpo do rio Tâmisa em Londres, e faz uma operação maluca, colocando nela o cérebro do feto que ela carregava na barriga. Bella sobrevive, mas com sérios problemas cognitivos de fala e coordenação motora.

Ela começa a se desenvolver bem lentamente e aprende a usar o sexo como forma de se divertir e usar os parceiros. Vale ressaltar que Stone nunca esteve tão desinibida num filme antes. Mas nada aqui é sensual... é tudo cru, mecânico, puramente carnal, porque Bella nem sabe fazer de outra forma. Tudo é visto do ponto de vista dela. É ela quem começa e termina seus breves relacionamentos, o que deixa seus parceiros enfurecidos.

Como o mulherengo Duncan, vivido por Mark Ruffalo, que fica perdidamente apaixonado por ela, justamente pelo fato de ela ser completamente diferente de qualquer outra mulher. Ela faz o que quer, vai para onde quer e do jeito que quer, quando quer. Ela roda várias partes do mundo ao lado de Duncan.

Aliás, o mundo criado por Lanthimos é fenomenal. Tudo é colorido, com formas e tamanhos curiosos, bem diferentes dos comuns. O colorido do mediterrâneo português, a brancura da neve francesa em contraste com o colorido forte e gasto do cabaré, o cinza londrino... tudo é pensado à dedo e muito bem executado pela equipe comandada por LanthimosPobres Criaturas é sem dúvida, o filme mais bem acabado e caprichado do cineasta.

Ainda acho inferior a outros filmes de Lanthimos, mas Pobres Criaturas ocupa um lugar de destaque na filmografia dele. E merece. Com Pobres Criaturas, ele carimba o passaporte para ocupar um posto entre os grandes do cinema atual. Merecido. Só torço para ele jamais perder sua essência e o gosto pelo bizarro.

Veja abaixo o trailer de Pobres Criaturas.