segunda-feira, 29 de abril de 2024

A TORTURA DO MEDO (1960)



A TORTURA DO MEDO (Peeping Tom / 1960) – Um filme muito à frente do seu tempo. Em todos os sentidos. Mark Lewis é um fotógrafo que trabalha em um estúdio de cinema como assistente de câmera. Ele ainda levanta uma graninha fotografando mulheres seminuas para uma revista. Mas ele carrega um trauma do passado que o atormenta e o transforma em um assassino em série impiedoso. 
No meio de tantos rolos de filme que ele tem em casa, um deles mostra um filme feito pelo pai quando Mark ainda era uma criança. Ele queria estudar a reação dos seres humanos ao medo e usa o filho como cobaia. Ao crescer, Mark pegou o gosto de filmar o medo das pessoas e só consegue isso ao ameaçá-las e matá-las com um faca escondida no tripé da câmera. Sensacional, aliás.
Mesmo sem mostrar uma gota de sangue, A Tortura do Medo é considerado o primeiro slasher já feito e chocou tanto que acabou sendo retirado de cartaz com apenas 5 dias. O longa é um dos preferidos de Scorsese e é considerado a resposta britânica a Psicose, que fez muito barulho quando lançado. Hitchcock é homenageado em A Tortura do Medo na pele de um exigente diretor de cinema que pega no pé da sua atriz que não consegue atuar.
A Tortura do Medo é dirigido por Michael Powell que foi muito criticado à época pela violência - principalmente psicológica - e pelas cenas de nudez frontal. E a sua carreira dali pra frente foi comprometida, ele se tornou um diretor ignorado pelos produtores e não deslanchou. O próprio filme demorou para se tornar cult, só com os anos veio o reconhecimento da qualidade da obra.   
Veja abaixo o trailer de A Tortura do Medo.





quinta-feira, 25 de abril de 2024

MARTE UM (2022)

 


MARTE UM (2022) – O genuíno cinema brasileiro é de maravilhar qualquer amante de uma boa história. E não só isso. Quando não tenta imitar o cinema estrangeiro e usa suas próprias referências e estilos próprios, fica tudo melhor ainda. Essas histórias brasileiras com personagens tão facilmente reconhecidos em qualquer cidade do país, só deixam a trama ainda mais saborosa. E nesse ponto Gabriel Martins acertou na mosca.

Marte Um se passa em Minas Gerais, na periferia, acompanhando a rotina de 4 pessoas de uma mesma família e suas rotinas tão próprias e os conflitos entre elas. Tércia é a mãe, casada com Wellington. O casal tem dois filhos – Eunice é a mais velha e Deivinho, o caçula. O ator que faz o menino sonhador é estreante nas telonas. Ele joga bola num time de várzea e o pai sonha que do talento dele saia o dinheiro que vai sustentar a família no futuro. Mas Deivinho tem outros sonhos, quer virar astrofísico e fazer parte da tripulação que vai à Marte em 2030 numa missão de colonização do planeta.

Wellington é porteiro num prédio de classe média alta e é apaixonado por futebol. Tércia trabalha limpando casas e tem a vida mudada quando participa de uma pegadinha na TV, onde o ator estoura uma dinamite perto dela. A mulher fica traumatizada e acredita atrair azar à partir daquele dia. Eunice, a filha mais velha, se apaixona por outra menina e, no impulso, começa a procurar apartamento para morar. Tudo é rápido e pega os conservadores pais inesperadamente.

Aqui não tem espaço para melodrama barato, Marte Um foi feito de tal forma que mais parece um documentário sobre as dores de qualquer família brasileira. Cada personagem tem peso igual na trama, deixando o resultado final muito bem balanceado. Talento puro de Gabriel Martins, que equilibrou muito bem e claramente teve um cuidado especial na preparação dos atores. Todos estão muito bem, principalmente nos momentos onde a carga emocional aumenta.

Marte Um entrega situações críveis, o que deixa o filme ainda mais interessante. O drama brasileiro abre mão de recursos fáceis, como trilha sonora principalmente. Não precisa, nem faz falta. E cá entre nós, o sotaque mineiro é o mais bonito que tem. Na última cena o pai fala o seguinte para um dos filhos: “uai, a gente dá um jeito,  sô”. Puro carisma.

Veja abaixo o trailer de Marte Um.       




segunda-feira, 22 de abril de 2024

M3GAN (2022)


M3GAN (2022) – Uma história nada original e que surfa na onda dos potenciais perigos que a inteligência artificial pode trazer ao ser humano. O ótimo Ex_Machina fez um questionamento parecido e com muita competência e inventividade. M3gan é uma mistura dele com Chucky, mas passa longe de qualquer comparação. Não é criativo e inovador como o clássico brinquedo assassino de Tom Holland e nem inovador quanto Ex_Machina.

Cady (Violet McGraw) tem 9 anos e é a única sobrevivente de um acidente de carro, que tira a vida dos pais. A criança vai morar com a tia, solteira que passa muito do seu tempo na empresa onde trabalha. Gemma (Allison Williams) desenvolve brinquedos de alta tecnologia e alto custo.

A relação das duas é ruim, distante. Por isso Gemma termina de desenvolver um projeto seu chamado M3gan, uma boneca comandada por inteligência artificial, que se conecta “emocionalmente” com a primeira pessoa que vê, assim que “nasce”. Cady foi essa primeira pessoa. E é óbvio que essa relação de amizade entre a menina e a boneca de inteligência artificial não acaba bem. Com o tempo, a superproteção de M3gan passa a machucar fisicamente qualquer pessoa que ameaça Cady. Cenário montado e daí pra frente é só pra baixo...

Uma das coisas que mais me tirou da experiência de M3gan foi justamente o roteiro, extremamente fraco e previsível. Não apresenta nada de novo, nada. É muito fácil dizer o que vai acontecer na cena seguinte e apontar os personagens conforme aparecem: “esse vai morrer, esse é o vilão, esse escapa”. E assim por diante.

Outro problema está justamente na falta de preparo dos atores. Allison Williams está muito mal aqui, não tem expressão facial nenhuma, nenhuma emoção. Sem falar na menininha, Cady, que ódio dela... Se a indicação do cineasta Gerard Jonhstone era essa, parabéns para a pequena Violet, ela conseguiu. E outros personagens caricatos, como a dupla de chefe e assistente da fábrica de brinquedos, tudo muito fraco e estereotipado. É realmente muito ruim.

Mas há que se torcer o braço para alguns pontos de M3gan, e o principal é o design da boneca, muito bem feito. A sua quase total falta de expressão e os grandes olhos ajudam na formação de uma figura indiferente à tudo e à todos. Ela têm direito a uma dancinha que por conta das redes sociais virou cult, antes mesmo do filme ser lançado.

Veja abaixo o trailer de M3gan.