quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O LABIRINTO DE KUBRICK (2012)

Um convite para o hotel mais assombrado da história do cinema

O LABIRINTO DE KUBRICK (Room 237 / 2012) - O cinema não seria o mesmo se não fosse por Stanley Kubrick. Difícil de se achar um cineasta que tenha se proposto a questionar, incomodar, cutucar o público como ele fez. E mesmo com uma filmografia tão curta. Kubrick dirigiu "apenas" 13 longas em 48 anos de carreira. Sempre bons filmes, alguns clássicos. Entre eles, o meu preferido, O Iluminado, história de terror baseada no livro de mesmo nome de Stephen King. Muitas teorias surgiram sobre o filme, provando que era amaldiçoado, que tinha mensagens subliminares, etc. Tudo teoria.

Quem procura acha. Significado? Aí fica pra cada um...

Teorias que Rodney Ascher levou para as telas no documentário O Labirinto de Kubrick. São 5 amantes do filme que propõe suas teorias sobre as mensagens escondidas no filme. Entre os principais acertos no documentário de Ascher está no fato de não mostrar nenhum dos cinco, eles entram apenas em off, cobertos com imagens da obra de Kubrick e de outros filmes para apoiar as suas opiniões.
Vamos à algumas teorias apresentadas em O Labirinto de Kubrick, primeiro com relação ao propósito do filme, que em alguns momentos se difere do livro. Uma das teorias defende que O Iluminado de Kubrick tem a ver com o massacre dos peles vermelhas pelo homem branco nos EUA. Não são poucas as referências indígenas do filme, inclusive tendo o Overlook Hotel sendo construído sobre um cemitério indígena.

Indícios se espalham por todo o filme

Outra teoria firma que na verdade o filme versa sobre o holocausto. O número 42 é visto muito em cena, inclusive na blusa de Danny em algumas cenas (1942 é o ano da Solução final, a decisão nazista de exterminar o povo judeu), Wendy balança o taco de beisebol 42 vezes na cena da escada, e a máquina de escrever de Jack tem uma águia e é da marca alemã Adler. Parece viagem, até pode ser mesmo...

Muita coisa gira em torno do número 42 em O Iluminado. Loucura ou Indício?



O minotauro é uma figura importante na história, que possuiria Jack durante o filme e Grady quando ele matava a esposa e as filhas. Indícios disso aparecem no labirinto de planta (a casa da criatura), os passeios de Danny pelos próprios corredores do hotel (que por serem tão cheios de curvas não passam de labirintos também), à imagem do Minotauro no salão de jogos logo acima da cabeça das meninas gêmeas e à famosa "janela impossível", na sala do chefe de Jack logo no começo do filme. "Janela impossível" porque a tal sala está no meio do hotel, impossível ter uma visão de fora dali, segundo a planta do Overlook.

A "janela impossível" no começo do longa

O Labirinto de Kubrick aponta ainda alguns "erros" de continuidade do filme como querendo mostrar alguma coisa, já que Kubrick era tão metódico que não cometeria esses pequenos erros. São cadeiras que estão em cena e depois do corte desaparecem, o desenho do tapete que aparece invertido em cenas subsequentes, a planta do hotel que em alguns momentos não bate nas cenas seguintes e assim por diante. Vai muito do que cada um quer acreditar.

O tapete invertido em cenas sequenciais

Nenhuma dos apontamentos acima feitos pelos entrevistados é definitivo, claro ou convincente, não passam de opinião. É um caso muito claro de procurar pelo em ovo. O Labirinto de Kubrick tem como papel homenagear O Iluminado e diverte na medida em que é interessante se buscar significados ocultos em um filme clássico como esse. Nada mais. A impressão é de que estão forçando a barra, o tempo todo.
Veja abaixo o trailer de O Labirinto de Kubrick.


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

INTERIORES (1978)

Três irmãs e um problema
INTERIORES (Interiors / 1978) - Nunca foi segredo para nenhum fã de Woody Allen que as suas principais fontes de inspiração no cinema são Os Irmãos Marx e Ingmar Bergman. Em começo de carreira Woody foi imensamente influenciado pelas comédias pastelões à lá Irmãos Marx, como Um Assaltante Bem Trapalhão, Bananas, A Última Noite de Boris Grushenko. Assim que Allen ganhou o mundo com Noivo Neurótico, Noiva Nervosa ao empunhar as estatuetas de melhor filme, melhor roteiro e melhor direção (Diane Keaton também levou a de melhor atriz), ele decidiu lançar na sequência o seu primeiro drama. Foi beber na fonte de Bergman e aí surgiu Interiores.

Mães e filhas caminham em raro momento de tranquilidade

É um filme pesado, não dá para assistir impassível, com indiferença. O filme começa com um take de uma janela, um  mar nervoso quebrando ao fundo sob um céu cinza. Mãos tocam a janela, rostos olham perdidos o horizonte e a história se revela.

Diane Keaton vive uma das filhas

Um homem já na faixa dos 70 anos anuncia na mesa de jantar, diante da esposa e de duas das suas três filhas, que está cansado de viver em família e que decide se mudar e reiniciar a sua vida. A mãe, que já tinha problemas de saúde, passa a sofrer de depressão. Tudo piora quando o pai apresenta às filhas a sua namorada.

Durante o jantar a notícia que desencadeia a trama.

As filhas tem espaço na trama mostrando aos poucos as suas próprias vidas íntimas, ao mesmo tempo que tentam ajudar a sua mãe que, sem solução, busca maneiras de terminar com a sua vida. A família se despedaça, as irmãs se mostram muito distantes e constantemente trocam diálogos existencialistas sobre a vida que levam. Nada é capaz de impedir a iminente tragédia.

A mãe busca uma saída para o seu problema

Woody brinca o tempo todo com as sombras e os tons acinzentados e amarronzados das roupas dos personagens, nada poderia ser mais Bergman. Até o frame mais conhecido de Interiores remete diretamente à outra imagem igualmente clássica do filme Quando Duas Mulheres Pecam, do sueco.

Semelhanças de Quando Duas Mulheres Pecam de Bergman de 1966...

... e Interiores de 1978

Uma homenagem de Woody a um dos seus maiores ídolos. Um filme forte, pesado, nada fácil. Mas que faz pensar. Além de confirmar o talento criativo e a ótima forma, tanto na comédia quanto no drama de um dos maiores cineastas vivos.

O encontro de ex-marido e mulher em forte cena de Interiores

Veja abaixo o trailer de Interiores.



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

GLAUBER, O FILME LABIRINTO DO BRASIL (2003)

Glauber Rocha é todo ouvidos

GLAUBER, O FILME LABIRINTO DO BRASIL (2003) - Sílvio Tendler é um documentarista de mão cheia. Além da série de TV Anos Rebeldes, ele dirigiu no começo dos anos 80 Jango e Os Anos JK, duas obras definitivas sobre os temas e que ajudaram a definir os moldes do gênero no Brasil. Depois de se "aventurar" no mundo de duas figuras tão importantes do cenário político nacional, Tendler se voltou à uma importante figura do nosso cinema - Glauber Rocha.

Silvio Tendler e o cartaz do seu documentário

Uma das figuras brasileiras mais premiadas no cenário do cinema mundial e um dos precursores do chamado Cinema Novo, Glauber acabou colhendo ainda em vida um pouco de tudo aquilo que plantou. Polêmico, não acreditava em corporações, em grandes contratos e jamais abria exceções às suas próprias regras. Atirava contra tudo e contra todos, usando uma metralhadora de palavras fortes e gestual contundente.

Palavras fortes e gestual contundente

O documentário de Silvio Tendler foi lançado em 2003, revelando imagens até então proibidas do funeral de Glauber - a família queria que Tendler não usasse essas imagens que mostravam o cineasta exposto no caixão em detalhes.



Repetindo o próprio Glauber que em 1977 lançou um documentário sobre o funeral do pintor Di Cavalcanti, apenas duas horas após descobrir a sua morte. A família odiou, acusou Glauber de transformar aquele momento de tristeza em um carnaval. Até hoje esse filme ainda gera polêmica e nunca foi lançado comercialmente. De qualquer forma, clique abaixo e assista o filme de Glauber no funeral de Di Cavalcanti.

 

Dá pra perceber que Glauber não é um cineasta comum, definitivamente. O cineasta-poesia, cineasta-épico, dono de um jeito único, uma forma só dele, e estandarte do cinema da "câmera na mão e uma ideia na cabeça". No documentário de Tendler - O Filme Labirinto do Brasil - pessoas famosas e não, contam suas experiência ao lado de Glauber, amigos, intelectuais e tantos outros. O filme não tem o off condutor, são apenas relatos, o seu funeral e trechos dos seus filmes, além de programas de TV com Glauber soltando as suas frases bombásticas. Ele sempre tinha muito o que falar.



Glauber Rocha merece essa e muitas outras homenagens. Sem dúvida um gênio, sem dúvida um chato. Seus filmes flutuam entre o sublime e o grotesco, são secos, crus, alegóricos, carnavalescos, mas acima de tudo levam o carimbo de Glauber. Com a sua mania de matar seus ídolos, o nosso país vira as costas para suas grandes figuras. Goste dos seus filmes ou não, concorde com suas opiniões ou não, a questão é que em seu próprio país o cineasta Glauber Rocha foi (e é) pouquíssimo visto enquanto lá fora foi premiado e até reverenciado.



"Dediquei 20 anos de minha vida ao cinema brasileiro, sou um dos principais artífices da Embrafilme, realizei alguns filmes brasileiros de repercussão internacional e me encontro no Brasil marginalizado e sem ver nenhuma perspectiva de saída para o cinema". Glauber, sempre polêmico.
Veja abaixo o trailer de Glauber, o Filme Labirinto do Brasil.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A VIDA SECRETA DE WALTER MITTY (2013)

Correndo atrás do que se acredita - bela mensagem em um fraco filme

A VIDA SECRETA DE WALTER MITTY (2013) - Não gosto do Ben Stiller, nunca gostei e provavelmente nunca vá gostar. Isso faz com que eu tenha os dois pés atrás quando vou assistir a qualquer filme dele. Sempre achei que Stiller está sempre mais preocupado com a sua imagem, quer aparecer mais do que os outros, ou mais que todos, nem sempre com sucesso - em Trovão Tropical ele é claramente engolido por Jack Black e Robert Dowley Jr., apesar de fazer as vezes de principal, o mesmo acontece em Vizinhos Imediatos de Terceiro Grau onde só dá Vince Vaughn na tela.

Ben Stiller em sua grande especialidade - valorizar a si próprio

Alguém colocou na cabeça dele que ele sabe dirigir. Além de Trovão, Zoolander - que afirmo sem medo ser o pior filme que já assisti em toda a minha vida - e O Pentelho, ele embarcou no remake de 1947 de A Vida Secreta de Walter Mitty, onde para comprovar a minha teoria sobre ego, ele dirigiu e atuou no papel título. Um desastre, é claro.

Basta fechar os olhos que Walter Mitty está lá!

Walter Mitty, vivido por Stiller, é um homem comum, que trabalha na revista Life com revelação das fotos enviadas pelos repórteres. Ele vive a última edição da revista, que está para se transformar em digital e abandonar a edição impressa. Fica a cargo de Mitty a revelação do fotograma 25 que é a foto mais importante da história da revista e deve ser a capa da última edição, indicação do fotógrafo vivido por Sean Penn, que está incomunicável, viajando pelo mundo. O negativo 25 não é encontrado e Mitty tem que correr atrás desse tal fotograma desaparecido.

Sean Penn, que aparece pouco, mas movimenta o filme

Mitty é um homem, digamos, que não consegue prender a atenção em uma mesma coisa por muito tempo, esse é a tal vida secreta que o título promete. Ele se vê, invariavelmente, se metendo em confusões mentais e viajando para locais irreais em situações fantásticas, comprovando um escapismo que busca um homem que leva uma vida ordinária.

Mitty e seu amor "improvável" 

De uma "abelha trabalhadora" com uma vida sem graça, Walter Mitty se transforma em menos de um mês (que é o tempo que ele tem antes da impressão da última revista) em um cara aventureiro, que viaja o mundo atrás do tal fotograma 25. Menos crível impossível.

Do nada, de uma hora pra outra, o pacato vira aventureiro

Talvez eu devesse entrar na história, comprar a ideia, mas é impossível, para mim a história não colou. Aliás nada colou a começar como Ben Stiller tentando viver um aventureiro. Não recomendo A Vida Secreta de Walter Mitty, acredito quer os sonhos megalômanos do diretor Stiller atrapalharam um filme que se ficasse no simples poderia ser uma fábula até simpática. Não precisa ter ido ao Himalaya, Afeganistão, Islândia para contar a história de um cara sonhador que precisa mudar de vida. Sério, não precisava. Inúmeros outros filmes são menores e mantém os pés no chão e vão bem. Ben Stiller preferiu fazer de sua nova aventura na direção algo muito mais presunçoso e grandioso do que precisava.

Ben Stiller, massageando o próprio ego assumindo a direção

Veja abaixo o trailer de A Vida Secreta de Walter Mitty.


domingo, 5 de janeiro de 2014

THE BEATLES - YELLOW SUBMARINE (1968)



THE BEATLES - YELLOW SUBMARINE (1968) - Em certo ponto da sua carreira musical, os Beatles assinaram um contrato muito claro. Eles assumiam ali inúmeros compromissos de fotos, clipes, aparições em programas de TV, teatros, shows e também filmes. Ao todo o contrato previa 5 filmes, com obrigatoriedade que John, Paul, George e Ringo aparecessem em cada um deles. Na época eles já haviam lançado A Hard Days Night e Help!, o primeiro filme PB e o outro já à cores. Ambos foram um sucesso. Em 1967 lançaram Magical Mystery Tour. Ainda faltavam mais dois para cumprir.


A banda em desenho
Os quatro já estavam de saco cheio de toda a cobrança que sofriam e decidiram pelo mais fácil - uma animação. Baseada na música de mesmo nome lançaram, ainda durante o verão do amor, um filme totalmente lisérgico - Yellow Submarine. Lisérgico porque é tudo muito colorido e é todo preenchido por personagens da imaginação dos desenhistas, figuras assustadoras e ao mesmo tempo encantadoras.

Blue Meanies chegando a Pepperland

Música também é o propósito do filme. São apresentadas "Hey Bulldog", "It´s All Too Much", "All Together Now", "Eleanor Rigby" e tantas outras, mas diferente de um musical comum, aqui as músicas fazem parte da trama, somam à cena. Em momento algum a história estaciona para que as músicas sejam apresentadas. O filme todo é preenchido por música, não poderia ser diferente.

Música permeia o filme, do começo ao fim

A história começa mostrando Pepperland, uma terra colorida e feliz. De repente, sem aviso, aparecem os vilões - chamados de "blue meanies" - e começam a atacar a terra, tirando sua vida e sua cor. Eles desaparecem com os instrumentos musicais e as pessoas se tornam cinzas e ficam paralisadas.

Pepperland fica cinza

Old Fred, um velho capitão, consegue escapar de Pepperland e vai atrás dos únicos que podem ajudar. Chega à Liverpool e "captura" os Beatles, um por um. Cada beatle tem um jeito específico de ser, de andar e se portar. Os animadores tomaram muito cuidado em fazer com que as personalidades de cada músico fosse preservada nos personagens do desenho. Até os dubladores (é, infelizmente as vozes não são dos músicos) usaram as vozes de forma singular para cada um deles, preservando o seu sotaque, a sua maneira de falar.

Blue Meanies, os caras do mau

Passando por diversas aventuras em Sea of Monsters, Sea of Holes, Sea of Time, Sea of Nothing (todas que acabaram virando músicas instrumentais no álbum da trilha sonora) eles chegam à Pepperland e sem grandes problemas recuperam os instrumentos, libertam as pessoas e transformam os blue meanies em boas "pessoas".

Os Beatles salvam Pepperland

No final a grande surpresa! Cumprindo a "obrigação" de aparecer em todos os seus filmes, eles surgem! Veja abaixo:


Yellow Submarine é apontada até hoje como a animação que definiu os rumos do gênero dali para frente, confirmando o efeito Midas que a banda sempre exerceu - tudo o que levava o nome Beatles se transformava em ouro.

Colagens entre as inovações de Yellow Submarine

Nem os próprio Beatles acreditavam que o filme ficaria tão bem, cheio de pop art, simbolismos, metáforas políticas e críticas sociais, o que ajudaram a elevar o filme a um patamar acima. Mesmo que não se enxergue esse viés político e social, Yellow Submarine cumpre bem o seu papel, diverte, anima, prende na cadeira crianças de todas as idades.  
Veja abaixo o trailer de Yellow Submarine: