sábado, 30 de março de 2013



VIZINHOS IMEDIATOS DE 3º GRAU (The Watch / 2012) - O Saturday Night Live é um programa estabelecido na TV norte-americana. São quase 40 anos de tradição o programa apresenta uma série de comediantes e roteiristas que sempre partem de lá para algo maior. Entre outros saíram de lá Will Ferrel, Mike Myers, Jim Belushi, Adam Sandler, só para dar uma ideia. Assim como os novos nomes da comédia como Jimmy Fallow, Andy Samberg e Will Forte. Nisso que se tranformou o SNL, um grande celeiro.


Akiva Schaffer é muito amigo de Samberg. Juntos e ao lado de Jorma Taccone, formam o The Lonely Island, uma band de rap-comedy, com clips que são sucesso no youtube, como I´m on a Boat, Dick in the Box, Saxman, Jizz in my Pants, Boombox e tantos outros. Digite The Lonely Island no youtube e assista qualquer um deles.


Andy Samberg, Akiva Schiffer e Jorma Taccone formam The Lionely Island

Além de falso rapper, Schaffer foi roteirista dos esquetes de SNL de 2005 a 2011 e já dirigiu dois longas metragens - Hot Rod, Loucos Sobre Rodas e Vizinhos Imediatos de 3º Grau. Em ambos claramente se nota que apesar de ainda não ser conhecido como grande cineasta de comédia, ele tem tato pra coisa.


Os amigos descobrem a arma alienígena

Em Vizinhos Imediatos de 3º Grau, Schaffer comanda uma equipe de respeito: Ben Stiller (que não me agrada, mas não compromete o filme), Richard Ayoade (da série de TV IT Crowd), Jonah Hill (ótimo!) e Vince Vaughn (excelente como sempre). Inconformados com a polícia que não resolve nada, os quatro amigos formam uma espécie de ronda para tentar descobrir por conta própria o que causou a morte de um funcionário de um supermercado da região. Eles acabam por descobrir que ETs já invadiram a Terra e aos poucos, disfarçados de humanos, eles buscam dizimar a população daqui.


O "interrogatório", com atores afinados na improvisação

É tudo muito divertido, mas nem tudo é engraçado. A princípio quando eles descobrem um corpo de um ET morto no meio de um arbusto, o grupo fica com medo. Mas depois de algumas bebidas o medo some e eles tiram fotos ao lado do corpo, beijam o ET inerte na boca, brincam com ele como se fosse uma boneca inflável. É muito engraçado!


O "morto muito louco" virou ET!

Alguns filmes "bobocas" (no melhor sentido da palavra, se é que existe) deveraim nunca se levarem a sério. Tudo ficaria melhor assim. Nos momentos que assume esse seu lado absurdo Vizinhos Imediatos de 3º Grau vai muito bem. É um bom passatempo, nada mais.     
    

quinta-feira, 28 de março de 2013

Cronenberg e a criatura, que permite acessar eXistenZ
eXistenZ (1999) - Vou tentar reproduzir a minha experiência na primeira vez que assisti a eXistenZ. Estava no colégio no final de 2000 e numa madrugada daquelas no SBT peguei o filme do meio e fiquei completamente hipnotizado, sem entender nada da história e ao mesmo tempo sem coragem para desligar a TV ou mudar de canal. "Directed by David Cronenberg" aparecia nos créditos finais e não significava nada para mim, não época não conhecia o diretor. De eXistenZ passsei a outros filmes da sua carreira, foi este filme que me abriu para um mundo bizarro do cinema. Por isso considero até hoje o estranhíssimo eXistenZ o melhor filme da carreira de David Cronenberg.


Pequenas diferenças nos personagens dentro e fora de eXistenZ. Essa é Allegra fora...

...e essa é Allegra dentro do jogo, vivendo em eXistenZ

Allegra (Jennifer Jason Leigh, que dispensou De Olhos Bem Fechados de Kubrick para fazer eXistenZ) é uma famosa criadora de simuladores de realidade virtual que cria o "jogo" que leva o nome do filme. Trata-se de uma meleca bege que funciona como joystick e se pluga fisicamente (como uma entrada USB) à um buraco nas costas do jogador. Ao se plugar o jogador entra na realidade paralela que é exatamente igual a essa, só que com algumas excentricidades (palavra que combina muito bem com o cinema de Cronenberg). 

Na coluna de cada jogador uma entrada para eXistenZ
Ted (Jude Law) "entra" em eXistenZ junto com Allegra e passa a "viver" o jogo. eXistenZ não se joga, se vive. Tanto acontece que eles se questionam o tempo todo se estão vivendo a realidade ou o jogo. Essa confusão entre as realidades, a virtual e a paralela, é um elemento presente e constante no filme. E quando se pensa que acabou ainda há mais por acontecer.


O joystick
eXistenZ é instigante, provocativo. Os personagens do "jogo", assim como os dos jogos de video game, precisam ouvir as respostas certas para seguir em frente, caso contrário eles não executam o que foram programadas a fazer. As pessoas que se plugam em eXistenZ tem as suas vontades e necessidades bagunçadas e misturadas com as do personagem que vivem, muitas vezes eles simplesmente fazem algo sem ter vontade de fazer aquilo. É realmente tudo muito estranho.

Allegra e Ted plugados em eXistenZ

E Cronenberg, como um maestro, rege toda essa orquestra grotesca muito habilmente e escolhe a dedo os seus personagens. Todos os coadjuvantes são esquisitões, tem aquele rosto estranho, escolhas à la Fellini
Mais uma curiosidade. O título eXistenZ tem as letras X e Z como maiúsculas. E não é sem motivo. O filme é produzido por búlgaros e essas duas letras na língua deles formam a palavra "god". Assim é Cronenberg. Nada em seus filmes é por acaso. Nada!        

OS EXCÊNTRICOS TENENBAUMS (The Royal Tenenbaums / 2001) - Desajustados, diferentes, anormais... enfim excêntricos. Qualquer adjetivo aos membros da família Tenebaum cai como uma luva no diretor Wes Anderson. Ele é um próprio Tenebaum. Parece um personagem também.


Cenários cheios de detalhes e abuso de cores - duas marcas de Anderson 
Aliás, muitos dos personagens de Os Excêntricos Tenenbaums são baseados em pessoas do dia a dia do diretor, como a própria mãe, que serviu de inspiração para mãe, vivida por Anjelica Houston, baseada na mãe do próprio Anderson.

Wes Anderson no set de "Os Excêntricos Tenenbaums"

Nova York é a cidade onde se passa o filme, mas Anderson escolheu por não mostrar isso no filme. Queria fugir da NY mostrada na maioria dos filmes. Wes Anderson queria tratar a cidade como um cenário de fábula, fugindo de lugares comuns e pontos turísticos. Tanto que em uma determinada cena quando conversam no parque (que obviamente não é o Central Park) dois personagens se postam de forma a cobrir a estátua da Liberdade, que seria visto no fundo.

Confronto entre o filho mais velho e o 0[a8

Wes escrevou o personagem do patriarca da família Tenenbaum pensando em Gene Hackman. E no começo ao receber o roteiro, Hackman se negou a fazer o filme. O ator tinha uma mágoa imensa da sua postura com a própria família. Para o ator, Royal Tenembaum, o pai da família, era uma espécie de alter ego do próprio Hackman. Não foi fácil convencê-lo, mas no final aceitou.

Royal (Hackman), o único que ri entre os desajustados Tenebaums
No filme, Royal (Hackman) está se separando da sua esposa (Anjelica Houston), que inicia um affair com Henry (Danny Glover). O casal Tenenbaum tem três filhos, vividos por Ben Stiller, Luke Wilson e Gwyneth Paltrow. Todos, à excessão de Hackman que é um charlatão de primeira linha, se mostram austeros, secos, e até depressivos eu diria, por todo o filme. O que contrasta com a viva paleta de cores utilizada por Anderson. É muita cor, uma marca registrada de Anderson.


Planos bem montados, cenários coloridos e personagens austeros
 O roteiro foi indicado ao Oscar em 2002 e é o melhor da dupla Owen Wilson/Wes Anderson. Antes disso a dupla tinha escrito o roteiro de outros três filmes dirigidos por Anderson - Três é DemaisPura Adrenalina e o curta Bottle Rocket.

Os três filhos Tenenbaums

Como filme Os Excêntricos Tenenbaums é muito eficiente, diverte não apenas pela história mas também pela reunião de atores consagrados (ou quase no caso de alguns) em uma história pequena de um diretor excêntrico e que dava os primeiros passos em Hollywood. Mas pessoalmente acredito que Viajem à Darjeeling, A Vida Marinha com Steve Zissou e principalmente Moonrise Kingdom, são muito melhores.  

quinta-feira, 7 de março de 2013




ESTE É O MEU GAROTO (That´s my Boy / 2012) - É preciso gostar do Adam Sandler para ver um filme como Este É o Meu Garoto e não se irritar. Suas atuações são sempre pontuadas pelo exagero, pelo caricato. Este é o seu tipo de humor. Isso talvez possa incomodar um pouco, como em Little Nick - Um Diabo Diferente (2000) cuja boca torta e voz forçada só fazem irritar. O Paizão, Como Se Fosse a Primeira Vez, Golpe Baixo e Tratamento de Choque são seus melhores filmes. Suas participações no Saturday Night Live também são ótimas.

O paizão-molecão

O problema de Sandler é que os roteiros dos seus filmes são muito parecidos. É um personagem boa vida, amigo e companheiro, que perde tudo ou fica à beira disso e depois parte sozinho para reconquistar tudo e termina sempre tudo bem. Ah, é claro, sempre tem esporte no meio, basquete, golfe, futebol americano.

Esportes, uma constância nos filmes de Sandler

Andy Samberg faz parte do elenco fixo de Saturday Night Live. É um cara muito engraçado, canta no grupo The Lonely Island e nos esquetes vai muito bem. Mas para cinema ainda não mostrou a que veio. Celeste e Jesse para Sempre foi seu primeiro longa com papel principal e foi muito mal. O filme também não ajuda, é muito ruim. 

Samberg vive o filho

Apesar da pouca idade entre eles, Sandler é 12 anos mais velho Samberg, em Este É o Meu Garoto eles fazem o papel de pai e filho. Tudo começa com uma premissa pra lá de absurda. Um jovem na escola brinca de xavecar a professora, que se apaixona por ele (!). O menino então engravida a professora que vai pra cadeia por transar com menor de idade, enquanto o jovem vira uma celebridade. Os anos se passam e o filho fruto daquele relacionamento, que se torna um rico investidor, omite a história dos pais por sentir vergonha deles serem quem são. Pai e filho se reencontram e tem que lidar com as suas diferenças - o filho rico e careta e o pai pobretão e "eterno molecão". 

Sandler e Samberg são ótimos comediantes, mas não funcionaram tão bem juntos

Destaque para as participações "ilustres" de Susan Sarandon, James Caan e Vanilla Ice. Uma constante nos filmes de Sandler, as participações que roubam a cena e aqui não é diferente.

Sarandon...


Caan...
e Vanilla Ice.

quarta-feira, 6 de março de 2013



HITCHCOCK (2012) - O filme que reacendeu a carreira de Hitchcock foi Psicose, de 1960. Naquela época sua carreira estava esfriando, "caminhando para um fim", segundo propôs um repórter em uma pergunta a Hitchcock, logo no começo do longa. Daí, ele passou a procurar algo novo, algo surpreendente e que o recolocasse como grande (e talvez um dos únicos) grandes mestres do gênero do suspense.

Filmando um das cenas finais de Psicose

Segundo longa dirigido por Sacha Gervasi, o anterior tinha sido o festejado documentário Anvil - A História de Anvil de 2008 sobre uma banda de punk rock com pouco ou nenhum sucesso comercial, Hitchcock traz Anthony Hopkins no papel principal com uma caracterização indicada a Oscar e que nos faz crer que se trata do próprio Alfred Hitchcock. Mas é verdade também que em uma outra cena a papada e a boca parecem forçadas o que por pouco não faz a caracterização cair no caricato. Mas no todo vai muito bem. Já Helen Mirren encara Alma, a esposa de Hitch e grande parceira.

Mirren vive Alma

Sacha faz um retrato interessante, um recorte na carreira do cineasta. A trama acompanha o casal no processo de Psicose desde o início quando ele compra os direitos do livro, escolhe os atores e convive com a imprensa e com os chefes dos estúdios.

A maquiagem que fez Hopkins se parecer com Hitchcock

É interessante notar como em todo o filme, Sacha insere pequenas "dicas" daquele que seria o filme seguinte de Hitchcock, pássaros passam voando nas sequências do filme a todo o momento. E a cena que encerra o longa deixa essa tal "dica" pra lá e escancara a intenção de Sacha - Pássaros é o próximo filme de Hitchcock, meu filme preferido do diretor.

Hitchcock (Hopkins) e Janet Leigh (Scarlett Johansson)

Alfred Hitchcock é atormentado a todo o momento no filme por suas visões de Ed Gein, um fazendeiro culpado pela morte da mãe, cujo corpo ainda mantinha em sua casa deitada na cama, e que gostava de guardar pedaços de corpos humanos como se fossem troféus. Ed Gein foi usado não apenas para criação de Norman Bates, mas também para Leatherface, de O Massacre da Serra Elétrica e James Gumb de O Silêncio dos Inocentes.

Hitchcock e sua clássica silhueta

Hitchcock é um bom filme, mas na metade cria-se uma barriga por conta de uma história paralela à principal. Todo o trecho que trata de Psicose, do roteiro à edição final é ótimo, instiga. Mas como disse, uma história paralela faz o foco do filme se desvirtuar um pouco. Afinal meu grande interesse no longa é o cineasta Hitchcock em ação, escrevendo, dirigindo, editando. A parte da pessoa do Hitchcock, apesar de necessária à trama, acho que se estendeu um pouco de mais. Mas não compromete o resultado final. Assista sem medo.