terça-feira, 22 de novembro de 2016

45 ANOS (2015)

Um casamento duradouro... mas até quando?

45 ANOS (45 Years / 2015) - Sempre faz bem escapar do tradicional de tempos em tempos. Abrir os olhos e ver além do formato tradicional e ter a certeza de que sim, existem diversas maneiras diferentes de se contar uma história, e concluir que nenhuma delas, de maneira alguma, é superior ou inferior à outra. Elas são apenas formas diferentes, nada mais. Tudo é cinema.

Acompanhando de perto a intimidade do casal

45 Anos não é nada inovador, excepcional ou algo que talvez já não tenhamos visto aqui ou ali. Mas é uma história contada de uma maneira tão intimista, tão dentro da vida do casal protagonista, que nos sentimos como se estivéssemos ocupando uma cadeira ali que não é a nossa, como se fôssemos intrusos na rotina do casal.

O casal se afasta

Um casal está às portas da festa de 45 anos de casados e a história se passa na semana que antecede o evento. Cada dia é um capítulo - como Kubrick fez em O Iluminado. Uma carta chega às mãos de Geoff e ele se mostra profundamente comovido por ela. "Acharam o corpo da Katia".

A carta que muda a vida dos dois

Kate, a esposa, ouve tudo sem saber de quem se trata. Geoff explica que Katia é uma namorada com quem ele viajou pelas montanhas suíças em 1962 - ou seja antes de ele conhecer a esposa - e que foi morta soterrada por uma avalanche de gelo. O corpo dela foi encontrado 53 anos depois, congelado e intacto.

O drama existencial de Kate

Aos poucos a postura dos personagens vai mudando conforme os dias passam e a festa se aproxima. Geoff fica mais e mais pensativo, revisitando pertences antigos no sótão, como se aquela carta lhe trouxesse um sopro de vida.

Um homem em contato direto com o passado

Kate não quer demonstrar ciúme por algo que aconteceu há tanto tempo atrás. Mas a postura do marido muda tanto depois que a carta chegou que é impossível para ela manter-se do mesmo jeito. Tudo desmorona de vez quando Kate descobre um terrível segredo.

O que fazer?

E é justamente nessas pequenas coisas que 45 Anos se destaca, nas sutilezas presentes nas atuações de dois experientes atores do cinema britânico - Tom Courtenay e Charlotte Rampling, que concorreu ao Oscar de melhor atriz.

A dupla protagonista

Uma história simples com desfecho impressionante. O que se vê em 45 Anos é uma pura desconstrução de personagens, que permite analisar os dois lados da história e buscar razões, embora elas não sejam necessárias a partir de um momento da vida. É mais fácil varrer pra baixo do tapete, resolver dá trabalho demais. Ou não?
Veja abaixo o trailer de 45 Anos.


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

HOMEM IRRACIONAL (2015)

O professor Abe
HOMEM IRRACIONAL (Irrational Man / 2015) - Muito já ouvi por aí que eu costumo olhar com bons olhos - até demais da conta - alguns filmes do Woody Allen. Pode até ser, não nego. Mas e daí? Pra mim, o cara é um gênio. E gosto muito dos filmes dele, tirando alguns desvios na carreira - como Igual a Tudo na Vida e Para Roma com Amor

Woody em ação
Homem Irracional me encheu logo de cara de grandes expectativas por contar com dois atores que gosto muito - Joaquin Phoenix e Emma Stone. Ele interpreta um professor de filosofia bem introspectivo chamado Abe, que chega para dar aula numa faculdade.

O professor charmoso e a aluna apaixonada 
Jill logo se interessa pelo charme do professor, principalmente depois que ela recebe dele um elogio por um texto escrito. Essa admiração não demora a se tornar uma paixão. Roy, o namorado de Jill, começa a sentir ciúmes, porque a namorada não fala em outra coisa. É sempre "Abe isso, Abe aquilo..." e o namoro termina.

Jill não admite para o namorado, mas está apaixonada por Abe

O lugar comum seria o professor se aproveitar da paixonite da aluna e os dois ficarem juntos para provar que amor não tem idade, certo? Mas não em um filme de Woody Allen...

SPOILERS

Abe leva uma vida vazia, baseada em bebida e relacionamentos de uma noite. E tudo porque ele está bloqueado criativamente, não consegue mais escrever, nem se dedicar ou se focar por muito tempo em alguma coisa. Falta algo em sua vida, uma motivação. Até que ouve uma desconhecida em um café reclamando de um juíz que tinha tomado uma decisão injusta, lesando ela e os filhos. O professor decide então... matar o juíz, simples assim. Desse ponto em diante o filme muda completamente de andamento e os personagens se transformam. Nada aqui toma um rumo minimamente esperado.

FIM DOS SPOILERS

Resolver o problema de um estranho deu motivação a Abe

O mais brilhante aqui é a imprevisibilidade do roteiro de Woody Allen, mas Homem Irracional não é nem de perto, um dos melhores filmes do diretor, longe disso. Mas encanta com todos os elementos clássicos dele, como bons diálogos, personagens bem desenvolvidos e um charme todo característico.
Veja abaixo o trailer de Homem Irracional.


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

ENTREVISTA COM O VAMPIRO (1994)

A entrevista de uma vida
ENTREVISTA COM O VAMPIRO (Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles / 1994) - O livro é antigo, da década de 70. O primeiro da autora Anne Rice, que se especializou na literatura fantástica durante boa parte da carreira. O sucesso foi tão grande que na época do lançamento do livro ela foi procurada para vender os direitos para o cinema. Vendeu. Mas o filme só seria lançado quase vinte anos depois. A demora foi um pedido dos produtores, que não imaginavam que as décadas de 70 e 80 seriam bombardeadas por histórias tendo vampiros como tema - como Nosferatu - O Vampiro da Noite (o remake, não o original de 1922), Drácula e alguns outros.

Criatura e criadora

Neil Jordan assumiu a direção do esperado longa baseado no livro de Anne Rice, que só seria lançado na década de 90. O filme começa com o vampiro Louis (Brad Pitt) sendo entrevistado por um jornalista novato (Christian Slater, que substituiu River Phoenix, morto pouco antes de se iniciarem as gravações).

Louis

Ele cita Lestat (Tom Cruise) o vampiro que o mordera no ano de 1791. Lestat é impiedoso. Sedento por sangue, ele mata indiscriminadamente, de crianças a prostitutas, jovens e idosos. Louis não procura vítimas humanas, vive de beber sangue de pombos e ratos.

O impiedoso Lestat 

Mas Louis cai na tentação e morde Claudia, uma criança (Kirsten Dunst) que acaba de ver a mãe morta pela peste bubônica, o grande mal daquela época. A personagem foi inspirada na filha de Anne Rice que morreu ainda criança vítima de leucemia.

A doce Claudia imortalizada ainda criança

Louis e Claudia criam uma relação de proximidade, como pai e filha e seguem para Europa, fugindo das garras poderosas e maldosas do possessivo Lestat. Lá conhecem Armand (Antonio Banderas) e juntos bolam um plano para se livrar de vez de Lestat.

Armand

Entrevista com o Vampiro se entrega ao estereótipo do vampiro charmosão que bebe sangue do pescoço com um apetite totalmente sexual. É a isso que se presta o trio Pitt-Cruise-Banderas. O filme encerra com Sympathy for the Devil, mas não com Rolling Stones e sim na voz de Axl Rose, outro símbolo de beleza masculina naquele início dos anos 90.

Teatro dos vampiros

O vampiro clássicão é muito mais do que isso - estão aí Nosferatu do Murnau, Mefisto, Drácula do Bela Lugosi para provar. São ícones do horror que assustam pela crueldade, onde o quesito sexual não está presente com tanta força como neste Entrevista com o Vampiro. Aqui cada vítima mordida não grita de dor e sim de prazer.

Uma mordidinha aqui outra acolá...

Este foi o propósito da obra de Anne Rice e do filme de Neil Jordan. Neste ponto Entrevista com o Vampiro dialoga mais com Crepúsculo do que com Nosferatu. Pena.

O clássico Nosferatu... quando vampiros eram mais assustadores

Veja abaixo o trailer de Entrevista com o Vampiro (aliás promete-se um remake para logo, logo).


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA (1972)

Um simples jantar

O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA (Le Charme Discret de la Bourgeoisie / 1972) - Um simples jantar. Nada mais. Seis amigos da classe alta francesa tentam se reunir para um jantar ou almoço e simplesmente não conseguem. Eventos inesperados, intromissões, visitas e situações sem sentido impedem que o plano deles funcione. Produto da mente surrealista de Luis Buñuel.

Um tiro e o jantar fica pra outro dia

O longa, premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro, começa com os amigos chegando para o encontro em dias errados e o encontro não dá certo. Na sequência marcam para um restaurante, mas ao chegar eles perdem o apetite ao saber que na sala ao lado um corpo está sendo velado. 

Aí é pra quebrar qualquer clima

Outra tentativa acaba frustrada com o apetite sexual da dona da casa. Os convidados chegam e ficam tempos e tempos esperando os anfitriões aparecerem, mas eles deram uma escapadinha pela janela para transar no jardim da casa.

Tudo atrapalha a reunião, até sexo

Mais uma vez, desta vez todos na mesa, agora parece que dá certo. Mas um grupo de militares invade o local, tira a paz de todos e quebra o clima do jantar. O comandante do exército ainda se senta entre o grupo e começa a contar as suas memórias de guerra. Começam uns tiros, todos se escondem, a mesa é metralhada, mas uma mão burguesa surge debaixo da mesa e puxa um bife.

O exército chega e atrapalha a reunião

Outro encontro, todos conversam as amenidades das suas vidas de classe alta e bebem descontraidamente, até que abrem-se as cortinas e o grupo se vê na verdade sentado à mesa em cima de um palco. Ao fundo uma plateia assiste a tudo e no final vaia impiedosamente. Constrangidos os seis se retiram apressadamente do palco.

Um jantar com público

E ao final de cada esquete, os seis burgueses caminham por um estrada sem fim, no meio do nada, sem trocar uma palavra, um olhar, apenas caminham sem rumo. A amizade superficial de um grupo de ricos. 

Passos na estrada sem fim

Buñuel é inventivo e mordaz, mostrando um grupo de amigos que usa as relações de interesses para alimentar uma proximidade falsa e que não existe. Aqui ele critica com acidez e bom humor a burguesia vazia francesa e o seu gosto pelas futilidades. Difícil não ligar esse roteiro com o agitado período político, com uma série de protestos sendo inciados a partir de Paris, em 1968, quando jovens estudantes saíram as ruas para lutar pelos seus ideais, despertando sentimentos de liberdade por todo o mundo.
Veja abaixo o trailer de O Discreto Charme da Burguesia
  

  

terça-feira, 8 de novembro de 2016

AMY (2015)

Amy como nunca vista antes
AMY (2015) - Asif Kapadia é um documentarista de mão cheia. Ganhou notoriedade pelo excelente Senna de 2007, relatando a vida pessoal e profissional do campeão. E naquele filme ele já mostrava algumas características que ele levaria pra outros filmes de sucesso - nada de voz guia e pouco ou nenhum uso de imagens dos entrevistados, apenas dos biografados.

Senna, grande filme de Kapadia

Amy mostra a trajetória da cantora inglesa morta em 2011 aos 27 anos, que revolucionou o pop rock. E para isso faz uso de um extenso material, principalmente em vídeo, de arquivo. Tem muita coisa da Amy antes da fama, rodeada de amigos e familiares, frequentando estúdios e arriscando os primeiros acordes com a voz marcante. 

No começo de tudo já se arriscando nos instrumentos
Em todo momento do documentário nota-se um esforço para tornar o pai da Amy Winehouse o grande vilão da vida dela. Segundo o documentário, a cantora idolatrava o pai mas nunca sofria demais por nunca receber de volta o carinho que tanto queria. 

O pai

O filme deixa isso bem claro quando mostra Amy e o pai na praia. Era para ser um momento de relaxamento e aproximação dos dois, mas ele apareceu com uma equipe de filmagem de algum tablóide britânico para documentar a própria filha. Amy foi pega de surpresa e se decepcionou. Afinal, a viagem era também um refúgio para ela, que naquele ponto da vida enfrentava séria dependência química.

Kapadia com o Oscar de melhor documentário para Amy

Amy tem bons momentos de ternura, quando vemos por exemplo a reação da cantora ao receber o Grammy, o Oscar da música, por seu álbum mais famoso o Back To Back. Parece uma menina no palco, incrédula do prêmio que acabara de receber. Veja o vídeo abaixo.



A entrega às bebidas e às drogas é mostrada no documentário mais como uma resposta dela à ausência de carinho e paz na vida pessoal. Seja pelo pai que não se mostrou muito presente ou pelo namorado que de certa forma tornou a vida dela um inferno em alguns momentos. São personagens que o documentário de Kapadia não se importa em taxar como vilões de toda a história, principalmente o pai.
Veja abaixo o trailer de Amy.



sexta-feira, 4 de novembro de 2016

BRAVURA INDÔMITA (2010)

Amadurecendo à força e na bala

BRAVURA INDÔMITA (True Grit / 2010) - Todo filme assinado pelos Irmãos Cohen dá o que falar. Ou quase sempre. Para seu décimo sétimo trabalho juntos, os irmãos Ethan e Joel decidem por continuar no tema faroeste, que já haviam abordado em 2007 com Onde os Fracos Não Tem Vez. Mudando pouco do roteiro original que virou filme em 1969, eles entregam o remake de Bravura Indômita. Recebem 10 indicações ao Oscar, mas não leva nenhum, é um dos filmes com o maior número de indicações ao prêmio e sair sem levar nada! Esse recorde negativo, digamos assim, pertence à Momento de Decisão de 1977 e A Cor Púrpura de 1985, que receberam 11 indicações ao Oscar e saíram de mãos abanando.

Os Irmãos Cohen no set de Bravura Indômita

Bravura Indômita pode facilmente ser dividido ao meio. A primeira parte conta a batalha da jovem Mattie Ross (vivida pela impressionante Hailee Steinfeld, de 13 anos, que teve que ser interpretada por uma dublê nas cenas noturnas porque o sindicato não permite que menor de idade trabalhe em horários avançados) para se vingar de Tom Chaney, o assassino de seu pai.

Hailee Steinfeld - a primeira parte do filme é toda dela

Ela perturba uma cidade inteira, enfrenta todo o preconceito existente naquele período da história por ser criança e mulher. Finalmente encontra Rooster Cogburn (o correto Jeff Bridges) e La Boeuf (Matt Damon) que iniciam a caçada atrás de Channey. Só não esperavam que a jovem contratante fosse juntos com eles, meio que para se certificar que o serviço seja bem feito.

Bridges e Damon ao fundo

Aí começa a segunda parte com o improvável trio andando por todo meio oeste norte americano, enfrentando nevasca, noites congelantes e calores escaldantes, além dos perigos naturais daquelas regiões abandonadas.

A jornada

A partir desse ponto, a pequena Mattie se torna coadjuvante e abre espaço pros adultos mostrarem que faroeste é com eles. Tom Channey, vivido por um sempre bom Josh Brolin, é encontrado pela pequena em um momento relaxado com seu bando. Tiros para todos os lados, a menina consegue a sua vingança e na matança toda acaba perdendo um braço, depois de ser mordida por uma cobra.

Josh Brolin como o vilão Tom Channey

Anos e anos depois Mattie Ross (vivida por uma atriz que realmente não tem o braço esquerdo) retorna ao local para agradecer Cogburn, quando descobre que ele morrera poucos dias atrás. O grande reencontro é frustrado. E o filme acaba com este gosto amargo.

Muitos anos depois Mattie Ross volta para agradecer Cogburn

A competência dos irmãos Cohen é provada mais uma vez, eles conseguem flutuar sobre qualquer gênero - comédia, suspense e faroeste - sempre com qualidade. Goste ou não goste deste remake deles. Goste ou não goste de faroeste. É um filme correto acima de tudo. Boas atuações, mas nada espetacular. Fez barulho, como boa parte dos filmes dos irmãos Cohen, mas desta vez não ecoou.
Veja abaixo o trailer de Bravura Indômita.