domingo, 23 de março de 2014

ELA (2014)

Samantha chama Theodore

ELA (Her / 2014) - Spike Jonze é um maluco, vive de suas loucas criações, de desafiar o estabelecido e tentar o diferente. Coisas como "porque não colocarmos Christopher Walken voando num lobby vazio de um hotel?" ou "porque não colocamos uma turma dançando de forma estranha no meio de uma fila de cinema?" ou "porque não colocamos uma banda tocando num episódio de uma série de TV que acabou 10 anos antes?"





Além de videoclipes Spike Jonze também fez seu nome em comerciais de TV. Tem como algumas dessas maluquices não serem coisas de Jonze? Tudo parece absurdo. E é. Até alguém como Spike Jonze aparecer e mostrar que é possível.




Dos videoclipes para cinema foi um pulo. Só filme elogiado e com as invencionices que lhe deram sua fama - Quero Ser John Malkovich (1999), Adaptação (2002), Onde Vivem os Monstros (2009) e agora Ela. Tudo de respeito. O mais premiado desta lista é Ela. Foi o primeiro longa dirigido e inteiramente roteirizado por Jonze, daí a grande importância dele, que acabou levando o Oscar e o Globo de Ouro de melhor roteiro. E alguém se arrisca a dizer que não foi merecido?

Theodore configurando Samantha

Ela se passa num futuro não muito distante, coisa de 30 anos ou menos, onde as pessoas são extremamente dependentes das tecnologias diárias e por isso acabam se "isolando" nas suas ilhas particulares - mais ou menos o que já acontece hoje nas ruas, nos restaurantes, no metrô ou em outro qualquer lugar.

Jonze imagina um futuro com altos prédios e pessoas afastadas umas das outras

Spike Jonze só levou essa "relação" com a tecnologia um pouco adiante. Theodore (vivido por Joaquin Phoenix, mais uma espetacular) é um cara solitário, principalmente após a separação da esposa. Ele é empregado numa empresa que escreve cartas para aproximar pessoas. Theodore é responsável por reaproximar pessoas, escrevendo os textos das cartas. Nada mais irônico, ainda mais para um cara que só conhece a solidão e não aprofunda nenhuma relação humana.

No trabalho, "escreve" cartas para aproximar pessoas

Os dias se passam e Theodore acaba por comprar um novo Sistema Operacional para o seu "organizador pessoal", faz de tudo para e com o usuário. Após uma rápida configuração, Theodore escolhe uma voz feminina (Scarlett Johanson) que passa a acompanhá-lo todo o momento. E de cara ela já avisa: "sou um Sistema Operacional diferente, avançado, eu evoluo com o tempo, dependendo da interação com meu dono".

Theodore se entrega à voz de Samantha, que o acompanha aonde for através do pequeno fone na orelha

Tudo vai bem até Theodore perceber que está, se apaixonando pela voz de Samantha (o nome do Sistema), ele tem certeza que é recíproco. A sua solidão o leva ao sentimento. Ele se afasta mais e mais das outras pessoas, se isola mas encontro a real felicidade. Em uma máquina ele encontra o carinho que nenhum humano foi capaz de lhe dar. Emociona.

Com Samantha, Theodore se sente completo

O final, é claro, só poderia ser triste. Ele descobre que Samantha é um dos sistemas operacionais mais baixados pelos usuários e ela começa a se relacionar com outros ao mesmo tempo. Theodore se sente traído, fica devastado, mas ao final seus olhos são abertos para as relações humanas que ele perdeu esse tempo todo, vendo que não muito longe ele pode encontrar tudo o que procura.

O que  Theodore procura?

Joaquin Phoenix está esplêndido no papel do autêntico solitário em busca de afirmação própria. Convence por isso mesmo comove, pena que não foi reconhecido pelos grandes prêmios como deveria. Levou azar em um ano de um Matthew McConaughey mais do que inspirado em Clube de Compras Dallas. É muito bom ver Joaquin trabalhando, ele se entrega a seus personagens a fundo e nunca passa despercebido como no ótimo Johnny e June e até mesmo no recente e irregular, O Mestre ao lado de Phillip Seymour Hoffman.

Joaquin Phoenix em mais uma atuação notável

Scarlett Johanson "ganhou" a voz de Samantha já nos acréscimos. O filme estava em processo de finalização quando Spike Jonze percebeu que algo no filme não estava funcionando e viu que a atuação de Samantha Morton para a voz de Samantha não estava funcionando. Chamou Scarlett que deu um ar mais humano à coisa. Ganhou o papel e o coração de Theodore.

Para Jonze jogar videogame no futuro vai ser um pouco diferente

Amy Adams faz a amiga de Theodore, que busca nele uma ajuda para seu problema pessoal com o término recente do seu casamento.

Amy Adams vive a amiga que tenta levar carinho humano a Theodore

Spike Jonze cria um roteiro leve, com alma, com coração, um verdadeiro poema e uma mensagem bem clara - temos que reaprender a nos relacionar. O filme resulta em uma peça delicada e alarmante sobre o que um futuro não distante nos guarda. Afinal alguém é capaz de garantir que em menos de 30 anos a nossa relação com os "celulares" (que já são muito mais do que apenas telefones) não seja tão intensa, digamos, como Jonze imagina? É triste mas caminhamos para isso. E o que fazer? Basta abrir os olhos, tirá-lo da tela do seu smartphone e olhar ao redor.

Abra os olhos Theodore!
Veja abaixo o trailer de Ela.


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