quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

BIRDMAN OU A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA (2014)

O herói que assombra o anti-herói

BIRDMAN OU A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA (Birdman / 2014) - Você conhece a Cha Cha Cha Films? Pois deveria... Ela não é das produtoras de cinema mais atuantes do mercado, longe disso, mas é o ponto comum de três dos maiores cineastas (que é muito mais do que simplesmente "diretores") da atualidade, sem dúvida. Alfonso Cuarón, Guillermo Del Toro e Alejandro González Iñarritú são responsáveis por obras como O Labirinto do Fauno, 21 Gramas, Hellboy, Amores Brutos, Filhos da Esperança, Biutiful, Gravidade... É muita coisa boa. Eles tem a mesma faixa etária, começaram no cinema juntos, são amigos e cada um segue um caminho mais brilhante do que o outro. Ainda bem.

Keaton e Iñarritú

Birdman, dirigido por Iñarritú, é o filme da vez, junto com O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson. Ambos estão concorrendo em 9 categorias no Oscar. Birdman conta a história de um ator que quer provar ser bom ao dirigir e atuar numa peça da Broadway. Ele está cansado de ser apenas reconhecido por ter atuado num filme de super-herói há quase 20 anos. Papel perfeito para Michael Keaton, que vestiu o traje do Batman nos filmes dirigidos por Tim Burton em 1989 e 1992. Qualquer semelhança aqui não é mera coincidência.

Criador e criatura
Riggan, o ator interpretado por Keaton, ainda sofre com os conturbados relacionamentos, principalmente com a filha (a sempre ótima Emma Stone, embora ache que a indicação dela ao Oscar de atriz coadjuvante seja um pouco demais) e Mike (vivido magistralmente por um sempre ótimo Edward Norton). Zach Galifianakis surpreende em um papel sério e Naomi Watts, desta vez, não rouba a cena.

Norton, Iñarritú e Stone - o melhor de Birdman juntos

São três pontos principais que, na minha opinião, formam a força motriz de Birdman. Em primeiro lugar Edward Norton, que está ótimo. Irritante, petulante e impulsivo (extamante da forma como muitos os descrevem na vida pessoal). Aliás a "semelhança" entre o ator e o personagem foi um dos atrativos para Norton. Caberia bem um Oscar, que seria seu primeiro depois de outras duas indicações - As Duas Faces de um Crime de 1996 e A Outra História Americana de 1998.

Mike, o dono do filme, encurralando Riggan

O segundo ponto importante que garante o sucesso de Birdman é Michael Keaton. Ele não está genial, longe disso (inclusive, a meu ver, ele não merece um Oscar por este filme), mas o fato dele ter aceitado interpretar um personagem tão parecido com ele mesmo (um ator, apenas reconhecido por um papel de super herói, há 20 anos, buscando se provar), é um mérito. Isso nem sempre garante reconhecimento pelos velhinhos da Academia, o exemplo mais recente é o erro (a meu ver) da premiação de 2009 quando Mickey Rourke interpretou o papel da sua vida em O Lutador e foi derrotado por Sean Penn em Milk - A Voz da Igualdade.

Em 2009 no Oscar de melhor ator - uma ótima atuação contra o papel da vida.

O terceiro e mais importante trunfo de Birdman está na forma como Iñarritú escolheu para contar a história. É tudo gravado em plano sequência, mal notamos os cortes, o que faz do processo todo um desafio gigante para produção e atores e facilita bastante a captação e a finalização, todo o filme foi filmado em menos de um mês e editado em duas semanas. Processo parecido foi utilizado em filmes como Festim Diabólico de Hitchcock, de 1948, e Arca Russa de 2002.

A engenhosidade de Iñarritú no seu plano-sequência de quase duas horas 

Merecedor ou não das nove indicações ao Oscar fica a cada um discutir. Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância é sim um belo filme, provocativo e divertido que trouxe à tona um profundo sentimento de coragem, principalmente de Keaton por se expor num papel que lhe renderá comparações eternas. Veja abaixo o trailer de Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância:

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