terça-feira, 25 de setembro de 2012



BALADA DO AMOR E DO ÓDIO (Or. BALADA TRISTE DE TROMPETA / THE LAST CIRCUS) - Um cineasta doente. Nada mais. Álex de La Iglesia é assim. Doente. Na melhor acepção da palavra, é bom que se diga. Seus filmes giram em torno do bizarro, do absurdo, do carnavalesco, às vezes, do violento, mas sempre com muita comédia. Se você ainda não viu ou não conhece nada do de La Iglesia já indico de cara dois filmes: El Dia de la Bestia e La Comunidad (meu favorito), de 1995 e 2000 respectivamente, mas se você é do tipo mais convencional tem também o Crime Ferpecto, de 2004.

"El Día de La Bestia", 1995

"La Comunidad", 2000

O seu último filme lançado, Balada do Amor e do Ódio segue a mesma linha. Dá uma olhada na história: Javier é um homem sem ambições e sem motivações na vida. Após uma traumática infância, quando viu seu pai ser morto nos corredores da ditadura de Franco, ele se torna palhaço, assim como seu pai o era. Mas um palhaço triste, que serve de escada para Sergio, o palhaço carismático de um circo mambembe de Madrid. Alcoólatra, Sérgio é muito violento (na foto abaixo) e bate com frequência na bela e namorada Natalia, que sem demora começa a se mostrar interessada em Javier, que também já nutria sentimentos por Natalia.


É nesse momento que o filme desbanca e o roteiro começa a despirocar de vez. Tomado por ciúme e ódio, Javier ataca Sérgio com um trompete e desfigura gravemente seu rosto quase levando-o a morte. Sem alternativa, Javier foge e se esconde numa floresta na região. Lá, se alimenta de bichos mortos e fica mais insano ainda. Arruma uma fantasia de palhaço (na foto abaixo), toda arreganhada e parte atrás de Natalia, seu grande amor. Sergio, recuperado, mas com o rosto todo remendado busca vingança contra Javier. Aí, meus caros amigos, me perdoem mas não conto o final dessa historia, que garanto é apoteótica.


De La Iglesia consegue tirar graça onde não tem, risos da violência, partindo de uma premissa simples, retratando a vida de um homem que cresce na pós-ditadura espanhola. Sem falar no esmero que ele tem em algumas sequências, a beleza no trato com a iluminação e a perfeição na maquiagem. O cuidado com a técnica nos seus filmes já lhe rendeu alguns prêmios. 

Sérgio, desfigurado pelo ataque de trompete

Este Balada do Amor e do Ódio mesmo tem algumas cenas claras desse cuidado com a técnica. Logo na abertura do filme, mostra-se dois palhaços em primeiro plano com um facho fortíssimo de luz de contra e corta para rostos de crianças na plateia. E mais nada. Não precisa mostrar picadeiro para indicar que eles estão em um circo. 

Dois palhaços e um facho de luz ao invés do picadeiro,
um bom exemplo de cinema criativo e funcional

Esse tipo de solução criativa e barata faz de de La Iglesia um cineasta de destaque que faz exemplos de bom cinema... 

A bela Natalia, fruto da discórdia entre Sérgio e Javier

...doentio, é claro. Mas acima de tudo, bom cinema.

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