domingo, 10 de junho de 2018

A NOITE AMERICANA (1973)

Metalinguagem pura

A NOITE AMERICANA (La Nuit Americaine / 1973) - Alguns nomes são tão marcantes e ganham tanta projeção e respeito de crítica e público que se tornam quase que sinônimo de cinema. Truffaut é um desses. Ao lado de Godard e outros jovens cineastas, Truffaut redefiniu o cinema francês com a criação da nouvelle vague na década de 60 e influenciou muita gente mundo afora. Glauber Rocha entre elas.

Truffaut (direita) indica como quer a cena 

Mas depois do sucesso de Acossado - que ele produziu e escreveu ao lado de Godard - Truffaut ficou por baixo na carreira. Os filmes que lançou depois de Farenheit 451 - precisamente no período entre  1966 e 1972 - não fizeram muito sucesso e deixaram o diretor de fora dos grandes circuitos do cinema europeu e mundial. Ele precisava de uma nova história, diferente, original.

"Ação!"

E tudo isso A Noite Americana é. O longa é metalinguagem pura, um filme dentre de outro filme. Truffaut atua como Ferrand, um cineasta que dirige a equipe e os atores do filme fake "Je Vous Présente Pamela".

A equipe faz, literalmente, parte da cena

Julie (Jaqueline Bisset) é a atriz principal e chega ao set ao lado do marido médico. E enquanto o filme está sendo rodado tudo acontece - tem a atriz que não decora as suas falas, tem outro se perde de paixão por outra companheira e se nega a atuar, tem a pressão dos executivos que querem um filme mais barato, tem o ator que morre durante as gravações, tem a pressão de escrever o roteiro na noite anterior à gravação e tantas outras coisas.

Toda beleza de Jacqueline Bisset

O mais interessante de A Noite Americana é que cada cena parece uma verdadeira aula de cinema. De verdade. Truffaut fez de cada sequência uma amostra do passo a passo de como se fazer um filme. Tem de tudo lá - chuva e neve falsos, a iluminação vazando de propósito, a contagem de giros no filme, a câmera e as engrenagens rodando, o diretor dando instruções para equipe e atores ou cantando as falas durante as gravações, os figurinistas correndo atrás de roupas, a maquiagem que sempre precisa de retoque e um gato que não bebe o leite como prevê o roteiro pedindo várias takes extras. Parece um grande be-a-bá para cineastas estreantes.

Passo a passo de como fazer um filme

E mais. Truffaut usou a própria equipe de retaguarda de A Noite Americana para atuar como a equipe do filme fake. E de quebra dá para acompanhar um pouco do método de trabalho do próprio Truffaut, que segundo Bisset e outros atores que trabalharam com o diretor francês, era dos mais entregues ao projeto. Sempre calmo, conversando e não gritando mesmo enfrentando problemas, delicado no trato com as pessoas e sempre muito seguro do todo.

Os atores são os próprios membros da equipe de Truffaut 

A Noite Americana é um belo filme agraciado com o Oscar de filme estrangeiro e que colocou de novo o nome de Truffaut em lugar de destaque. O cineasta francês, principalmente aqui, deu uma verdadeira aula de cinema. Com A Noite Americana poucas vezes isso ficou tão claro. E é sempre bom aprender com um mestre.    
Veja abaixo o trailer de A Noite Americana.


  

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