domingo, 3 de junho de 2018

TERRA ESTRANGEIRA (1995)

O abraço em Portugal

TERRA ESTRANGEIRA (1995) - Um marco. Para cineastas, atores e toda uma geração. Walter Salles, que ainda buscava seu espaço no cinema nacional - algo que chegaria poucos anos depois aos olhos do mundo com Central do Brasil - se junta a Daniela Thomas e começa a rascunhar o retrato do tenebroso Brasil daquele começo dos anos noventa. O governo Collor havia acabado de confiscar as reservas financeiras dos brasileiros e fazia, além disso, um verdadeiro desserviço ao cinema nacional ao extinguir a Embrafilme. Em 1992 o único filme brasileiro que chegou às telonas foi A Grande Arte dirigido por - adivinhem só - Walter Salles.

Salles comandando a câmera

Terra Estrangeira gira em torno desse momento - quando é divulgado pelo governo que o dinheiro  guardado pelo povo está confiscado. E é aí que Madalena (Laura Cardoso) desmorona já que dependia das economias para voltar à Espanha, sua terra Natal. Ela morre de desgosto. O filho Paco (Fernando Alves Pinto) não sabe o que fazer, nem para onde ir ao chegar em casa e encontrar a mãe morta no sofá.

 A mãe em casa

Através de Igor (Luís Melo), dono de um antiquário que coordena um sistema de envio de produtos ilegais para a Europa, Paco consegue uma passagem de ida para Lisboa. Lá, a sua missão é entregar a encomenda e escapar para a Espanha, para a cidade da mãe. Uma busca por suas origens. Mas a expectativa é destruída pela cruel realidade.

Paco só encontra violência 

Paco se vê sozinho, com uma encomenda que não lhe pertence, em um hotel de quinta, rodeado por imigrantes ilegais de Angola, Moçambique, Cabo Verde. Lá encontra Alex (Fernanda Torres) que acaba de perder o marido (Alexandre Borges), outro brasileiro que fazia os perigosos contrabandos para Igor.

Alex busca respostas em Portugal

O casal se aproxima e juntos iniciam uma jornada de fuga, a partir do momento que Igor passa a persegui-los depois de descobrir que a encomenda se perdeu pelo caminho. Paco e Alex não tem nada que os prenda a Portugal, mas também não tem dinheiro para voltar pro Brasil. Decidem fugir com Igor na cola.

O primeiro trabalho de Alexandre Borges no cinema

Walter Salles indica a Nouvelle Vague como uma das grandes influências para fazer Terra Estrangeira. Principalmente no momento em que o casal inicia a fuga de carro no trecho final, lembrando Acossado de Godard. Por isso, assim como no clássico francês, tudo aqui é preto e branco. O tom é cru, documental, um retrato do dia a dia, da vida desses personagens, iniciada pelas cenas do então presidente e da ministra declarando o confisco do dinheiro. 

Longe das origens

O roteiro entrega momentos muito belos. Não apenas pelas cenas lindas da borda do oceano de Portugal - como o mosteiro abandonado ou o barco preso na areia da praia. Mas também no diálogo ricamente incrementado por Millôr Fernandes - "esta escada está cada dia mais comprida" e até Fernando Pessoa falando de Lisboa como "o lugar ideal para perder alguém ou para perder-se de si próprio".
Veja abaixo o trailer de Terra Estrangeira.


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